Durante o Tóquio Fórum 2024, especialistas de diversas áreas propuseram soluções e abordagens para enfrentar os grandes desafios globais e construir um futuro sustentável e equitativo. Confira os destaques desse evento
Como será o futuro? Ao imaginar o que veremos nas próximas décadas, uma das primeiras coisas que vêm à mente é o avanço da tecnologia e como ela impactará a vida das pessoas. Afinal, estamos vivenciando uma transformação significativa, com o progresso da inteligência artificial afetando diversos aspectos da sociedade.
Porém, existem outros fatores que também estão impactando nossa vida e que devem ser considerados no planejamento do futuro. Questões como desigualdade, discriminação e mudanças climáticas, por exemplo, precisam estar no centro das discussões.
E foi justamente isso que se destacou no Tóquio Fórum 2024, evento que aconteceu no final de novembro na capital japonesa.
Com o tema central “Moldando o futuro”, o encontro promoveu debates sobre como o design pode ser uma ferramenta essencial para inovação, colaboração interdisciplinar e soluções para desafios globais urgentes. Além disso, pensadores e inovadores de diversas áreas sugeriram soluções para moldar um futuro sustentável e equitativo.
Entre as questões levantadas pelos especialistas durante o Tóquio Fórum 2024 estão:
A seguir, detalhamos os principais insights e ideias do Tóquio Fórum 2024, que mostram como pensar e planejar o futuro de maneira mais responsável e empática.
Pesquisas científicas têm um papel fundamental na construção do amanhã. Por meio delas, expandimos nossa visão de mundo e encontramos novas soluções para problemas globais do presente que impactarão o futuro.
No entanto, é importante levar em consideração quem está por trás dessas iniciativas. Afinal, como apontou Magdalena Skipper, geneticista britânica e editora-chefe da revista científica Nature, “isso influencia como as pesquisas são conduzidas, quais perguntas são feitas e como essas perguntas são respondidas.”
Durante o painel “Inovações de Gênero Moldando o Futuro”, Magdalena destacou que as mulheres nas áreas de ciência, tecnologia e medicina precisam de mais visibilidade, oportunidades, reconhecimento e, certamente, precisam de mais crédito pelo que fazem.
Ela comentou que, apesar de as mulheres representarem cerca de 30% dos pesquisadores globais, segundo a UNESCO, elas publicam menos e recebem menos reconhecimento, mesmo em campos onde têm atuação significativa.
“Estudos mostram que mulheres recebem menos crédito por contribuições equivalentes às de seus colegas homens. Elas também têm menor representatividade em colaborações e enfrentam barreiras para que suas vozes sejam ouvidas, especialmente em equipes majoritariamente masculinas”, indicou.
Para ajudar a mudar esse cenário, a Nature tem implementado políticas editoriais que exigem a inclusão de análises de sexo e gênero no design de estudos, sempre que aplicável.
O intuito, segundo ela, é fazer com que essas análises sejam devidamente consideradas nos estudos científicos, preenchendo lacunas de conhecimento – como as que ainda existem na saúde feminina, um campo ainda subexplorado, apesar de sua relevância.
A editora da Nature salientou que promover a inclusão de mulheres na ciência não apenas beneficia as próprias pesquisadoras, também melhora a qualidade da pesquisa e das inovações, contribuindo para um futuro mais justo e equitativo.
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Durante o mesmo painel, Londa Schiebinger, professora de História da Ciência na Universidade de Stanford, falou sobre o projeto Gendered Innovations, uma iniciativa internacional que integra análises de sexo, gênero e interseccionalidade ao design de pesquisas científicas e tecnológicas.
A especialista ressaltou que incorporar análises de gênero nas pesquisas para alcançar maior excelência científica é uma das questões mais importantes para o futuro da ciência, tecnologia, equidade social e sustentabilidade ambiental.
Respondendo à pergunta sobre a necessidade de considerar gênero nas pesquisas científicas, Londa foi direto ao ponto: “realizar pesquisas incorretamente custa vidas e dinheiro”.
Ela ilustrou esse raciocínio citando o exemplo de medicamentos que foram retirados do mercado devido à falta de análise de gênero que causaram mortes e prejuízos bilionários. Por outro lado, Londa lembrou que considerar todos os fatores relevantes – inclusive sexo e gênero – pode salvar vidas e recursos financeiros.
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Ainda tratando da necessidade de tornar as pesquisas mais inclusivas e diversas, a professora abordou a interseccionalidade como uma visão essencial para compreender como diferentes formas de discriminação se sobrepõem, impactando pessoas de maneiras variadas.
Ela explicou que a interseccionalidade vai além do gênero, abrangendo fatores como status socioeconômico, localização geográfica e formação educacional.
De acordo com a pesquisadora, análises interseccionais são cruciais para a excelência em ciência e tecnologia, permitindo identificar e corrigir desigualdades sistemáticas em diversos campos.
Como exemplo, Londa citou a pesquisa de Joy Buolamwini, do MIT, sobre reconhecimento facial, que revelou vieses raciais e de gênero nos sistemas de inteligência artificial (IA).
“Ela mudou sua pesquisa para um projeto chamado Gender-Shades, que analisa como sexo e raça se cruzam no reconhecimento facial. A análise mostrou que os sistemas funcionam melhor para homens de pele clara e pior para mulheres negras, com uma taxa de erro de 35%. Isso não é aceitável”, reforçou.
Nesse sentido, durante sua apresentação, Yutaka Matsuo, especialista em inteligência artificial e professor do departamento de Gestão Tecnológica para Inovação da Universidade de Tóquio, falou sobre a importância de integrar a IA à sociedade de maneira responsável.
O painel “Desenvolvendo novas soluções para desafios sociais e ambientais” contou com a participação de Chey Tae-won, presidente do SK Group e idealizador do conceito de Social Progress Credits (SPC). O SPC é uma iniciativa que converte o valor social gerado por empresas em créditos monetários, oferecendo incentivos financeiros proporcionais ao impacto social alcançado.
O executivo destacou que, há 15 anos, o conceito predominante nas empresas era o de Responsabilidade Social Corporativa (CSR). Segundo ele, embora milhões fossem investidos na área, os resultados frequentemente careciam de profundidade, priorizando a cobertura midiática em vez do impacto real.
Chey explicou que o sistema mede fatores como poluição, consumo de plásticos e emissões de CO2. No entanto, mesmo com indicadores de desempenho atrelados ao valor social, ele reconheceu que ainda faltam incentivos para estimular um engajamento mais criativo.
Para resolver isso, Chey propõe uma nova forma de capitalismo, introduzindo um sistema de incentivos como o SPC, que recompensa organizações por suas contribuições sociais – financeiras ou não. Ele descreveu essa abordagem como uma fusão entre o capitalismo tradicional e práticas que valorizam o impacto social.
“Nos últimos nove anos, realizamos experimentos com empresas sociais, implementando sistemas contábeis para medir e recompensar a geração de valor social. Essas experiências demonstram que é possível criar um modelo viável. Espero compartilhar mais sobre os resultados em breve”, revelou.
No mesmo painel, Daniel Nowack, líder da Aliança Global para o Empreendedorismo Social no Fórum Econômico Mundial, destacou que, há cerca de um ano, iniciaram um trabalho com mais de 100 organizações — incluindo bancos, fundações, órgãos públicos e entidades de desenvolvimento — para expandir o SPC e outros mecanismos em escala global.
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O design foi um tema que permeou todos os debates do Tóquio Fórum 2024.
No entanto, não se tratava apenas do aspecto visual ou da forma, mas de uma abordagem ampla. Ou, como a especialista na área Alice Rawsthorn apontou em sua palestra, uma “atitude de design” – algo que vai além da prática tradicional e profissionalizada do design, historicamente associado à estética e/ou à produção industrial.
Durante sua palestra, Alice compartilhou vários exemplos de como essa perspectiva tem ajudado a criar soluções para enfrentar grandes desafios contemporâneos, como conflitos e mudanças climáticas.
Ela citou, por exemplo, os vagões de trem que foram redesenhados na Ucrânia para atuar como unidades móveis de saúde, transportando soldados feridos da zona de guerra para hospitais especializados. Além disso, destacou como, na Espanha, após a enchente em Valência, voluntários se mobilizaram para a limpeza, enquanto designers criaram aplicativos para organizar esforços de resposta.
Outro projeto mencionado por Alice foi a Grande Muralha Verde da África, uma faixa de vegetação de 8.000 km criada ao longo do Saara, combatendo a desertificação, pobreza e migração.
Alice, que é autora do livro “Design Emergency: Building a Better Future”, conversou com a nossa equipe durante o Tóquio Fórum.
Na entrevista exclusiva, ela compartilhou detalhes sobre como o design pode transformar realidades sociais e ambientais, promovendo um futuro mais equitativo e regenerativo.
Foi uma conversa rica em insights para quem, assim como nós, deseja contribuir para a construção de um futuro justo e equitativo. Assine nossa newsletter e nos acompanhe no LinkedIn e Instagram para saber quando a entrevista será publicada.
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