Executiva de sustentabilidade e ESG fala sobre novas regulações, os desafios que virão para as empresas, o(s) problema(s) dos relatórios de sustentabilidade (spoiler de um deles: dentro das empresas, quase ninguém os lê), falhas de comunicação/greenwashing e o papel do C-level nesse contexto
Enxuta e assertiva. É assim que defino a curadoria do ESG Summit Europe 2024, evento que aconteceu em Madri, no início deste mês, e que promoveu debates sobre temas como o ambiente regulatório europeu, finanças, economia circular, comunicação e greenwashing.
No palco do Teatro Albéniz estiveram nomes consagrados (John Elkington foi um deles), executivos de grandes empresas e de agências reguladoras, acadêmicos e economistas. Porém, apesar das muitas conversas sobre cadeia de valor, havia pouca representatividade de quem vive na pele os desafios relatados…
Compartilhamos um resumo do que vimos no ESG Summit Europe no LinkedIn. Os insights do primeiro dia estão aqui e os do segundo, aqui.
Logo que o evento acabou, entrevistei Onara Lima, executiva de sustentabilidade e ESG brasileira que foi à capital espanhola especialmente para acompanhar o summit. Gravamos uma entrevista de 20 minutos, dividida em duas partes.
No início da conversa, Onara comenta sobre diferenças culturais que a deixaram impactada, especialmente com relação ao pragmatismo e à transparência que percebeu nas palestras de executivos de grandes empresas.
Na visão dela, a impressão é que, “no Brasil, as empresas estão salvando o planeta e todo mundo está neutralizando emissões. Não se conta muito bem sobre o filme, mas a foto está bonita. E aqui eu senti justamente ao contrário. Os speakers, mesmo representando empresas, praticamente não mencionaram o nome delas, falaram tecnicamente e pragmaticamente sobre os temas em debate”, alfineta.
Outro assunto abordado na conversa foi o impacto das mudanças climáticas no setor de alimentos, tema trazido por Juan Aguiriano, Head de Sustentabilidade da Kerry, que também destacou o desperdício de alimentos como um grande desafio para o setor.
Onara concluiu a primeira parte da nossa conversa falando sobre a evolução do ambiente regulatório, que está provocando transformações disruptivas ao conectar aspectos de sustentabilidade em demonstração financeiras e em auditorias de contabilidade.
Para ela, essa é uma jornada de priorizar a qualidade dos dados reportados e focar no que realmente importa, com amparo e engajamento da liderança. “Sim, sustentabilidade é um tema de C-level, é um tema de estratégia e é um tema de negócio. Não é uma área dentro do negócio. É sobre tudo que está envolvido no negócio”, cobra.
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Relatórios de sustentabilidade: o que e como comunicar?
Em meio a avanços regulatórios – como a CVM 193, que, a partir de 2027, tornará o reporte de sustentabilidade entre as empresas de capital aberto obrigatório –, o mercado de relatórios de sustentabilidade está crescendo no Brasil, inclusive além das fronteiras da B3.
No entanto, como bem alerta Onara, a qualidade dos dados reportados precisa melhorar.
Salvo exceções, os relatórios de sustentabilidade muito falam, pouco dizem e, por serem assim, correm o risco de se tornarem peças de autocelebração que, inclusive, abrem brecha para a empresa ser criticada e questionada.
A respeito disso, Onara destaca uma fala que ouviu no evento. “Dream reporting é totalmente diferente de ESG reporting. As pessoas hoje olham para um relatório querendo contar as histórias mais bonitas e as narrativas para brilhar os olhos, só que para quem realmente vai beber daquela fonte para uma tomada de decisão, como é o caso dos investidores, não é aquilo que vai suprir a necessidade”, lembra.
A executiva também lamenta quando as emissões do escopo três são ignoradas. “Quando a gente fala de um cenário de Brasil, em que a matriz energética majoritariamente é renovável, é até um pouco vexatório dizer que está neutralizando escopo dois”, critica. No vídeo, ela aprofunda essa questão e dá mais dicas sobre o que realmente precisa ser comunicado nos relatórios de sustentabilidade.
A comunicação como solução climática
Na reta final da entrevista, falamos sobre os desafios que envolvem a comunicação de sustentabilidade e ESG, tema muito presente no ESG Summit Europe 2024.
Você verá que eu falo que a comunicação é uma solução climática e uma ferramenta de engajamento, mas que nem sempre é devidamente valorizada. Este, aliás, é o ponto de partida para soluções que criamos, especialmente o Farol da Economia Regenerativa, o Conteúdo que Marca e a cobertura de eventos e festivais internacionais.
Ao comentar sobre a presença desses temas no evento, Onara destaca que não existe engajamento sem conhecimento, e que é impossível dissociar comunicação de ação.
“Você vai comunicar o que está fazendo. E não é sobre não comunicar, muito pelo contrário. É sobre como comunicar e o que comunicar. O gap entre o discurso e a prática ainda é muito grande. A empresa tem que entender que ela não precisa só mostrar que está maravilhosa, também deve ter a capacidade de mostrar que aquilo que não vai tão bem está sendo endereçando”.
A conversa segue debatendo a possibilidade de um retrocesso na agenda ESG e com uma provocação de Onara para C-level e membros de conselhos: “quem aí lê o relatório de sustentabilidade?”.
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