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5 soluções ambientais conquistam Earthshot Prize, prêmio milionário concedido pela realeza britânica

Conheça os vencedores da primeira edição do Earthshot Prize, prêmio ambiental que incentiva mudanças para contribuir para a recuperação do planeta 

Londres “se vestiu” de verde ontem (17/10) para sediar a cerimônia de premiação do Earthshot Prize, prêmio ambiental criado pelo Príncipe William e pela The Royal Foundation para incentivar mudanças e contribuir para a recuperação do planeta nos próximos dez anos. 

Até 2030, cinco prêmios de um milhão de libras (mais de 7.5 milhões de reais, na conversão atual) serão distribuídos anualmente para premiar pelo menos 50 soluções que ajudam a lidar com os maiores problemas ambientais e a reparar o planeta. Além da recompensa financeira, os vencedores terão acesso a uma rede global de profissionais e suporte técnico para escalar e acelerar o impacto de suas soluções.

Em 2021, ano de sua primeira edição, o Earthshot Prize recebeu 750 nomeações de todos os continentes. O processo de seleção durou 10 meses e chegou a 15 finalistas (de 14 países). Os finalistas foram definidos por um painel de especialistas que levaram em conta o potencial de impacto positivo de cada solução nas pessoas e na natureza, além da habilidade de ajudar os objetivos do Earthshot Prize.

Todos os finalistas receberão suporte e recursos personalizados dos membros da Aliança Global do Earthshot Prize, uma rede de empresas do setor privado que ajudará a escalar as soluções.

Objetivos do Earthshot Prize

O Earthshot Prize é centrado em cinco “Earthshots”, que consistem em objetivos simples, mas ambiciosos para as próximas gerações. 

Cada Earthshot se apoia em metas cientificamente embasadas, incluindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e outras iniciativas internacionalmente reconhecidas para ajudar a recuperar o planeta. São eles:

  • Proteger e restaurar a natureza;
  • Limpar o ar que respiramos;
  • Recuperar os oceanos;
  • Construir um mundo sem resíduos;
  • Resgatar o clima.

Na abertura do evento, Príncipe William, Fundador do Earthshot Prize e Membro do Conselho de Premiação, disse:

“Nossos cinco ganhadores cheios de inspiração mostram que todos têm um papel a desempenhar no esforço mundial para restaurar nosso planeta. Precisamos de empresas, líderes, inovadores e comunidades para atuar. E, em última análise, precisamos que todos exijamos que as soluções tenham o apoio de que precisam, pois o sucesso de nossos vencedores é nosso Earthshot coletivo e global”.

República da Costa Rica
Vencedor Earthshot Prize na categoria Resgatar o clima:

As florestas abrigam metade das plantas e animais e três quartos dos pássaros do planeta. Elas sugam carbono do ar e devolvem o oxigênio. Ainda assim, em 2020, mais árvores foram derrubadas do que nunca, causando 10% do aquecimento global.

Na década de 1990, as vastas florestas da Costa Rica foram devastadas, metade de seu tamanho anterior. Mas a população do país e o Ministério do Meio Ambiente traçaram um plano para salvá-las. Seus programas remuneravam os cidadãos para que protegessem as florestas, plantassem árvores e restaurassem os ecossistemas.

Os resultados foram extraordinários. As florestas da Costa Rica dobraram de tamanho. A flora e a fauna prosperaram, o que levou a um boom do ecoturismo, contribuindo com US$4 bilhões para a economia.

O governo agora está adotando uma abordagem para as áreas urbanas, acreditando que 30% das terras e dos oceanos do mundo também poderiam ser protegidos dessa forma.

O lema da Costa Rica é “pura vida” ou “vida pura”. Essas palavras podem em breve ecoar em todo o mundo.

Ao ganhar o Earthshot Prize, a Costa Rica irá expandir seu trabalho para proteger o oceano e apoiará a replicação de sua abordagem em outros países, em especial no Sul Global.

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Takachar, Índia
Vencedor Earthshot Prize na categoria Limpar o ar que respiramos

Globalmente, US$120 bilhões em resíduos agrícolas são gerados todos os anos. O que os agricultores não conseguem vender, costumam queimar, com consequências catastróficas para a saúde humana e o meio ambiente. A queima de resíduos agrícolas causa poluição do ar que, em algumas áreas, reduziu a expectativa de vida em uma década.   

Isso acontece todos os anos nos campos ao redor de Nova Delhi (Índia). A fumaça de infernos artificiais preenche o ar, com graves consequências para a saúde dos habitantes locais. Um deles é Vidyut Mohan. Seu empreendimento social, Takachar, está apagando o fogo. 

A Takachar desenvolveu uma tecnologia portátil, econômica e de pequena escala que se conecta a tratores em fazendas remotas. A máquina converte os resíduos da colheita em bioprodutos que podem ser vendidos, como combustível e fertilizante. 

A tecnologia da Takachar reduz as emissões de fumaça em até 98%, o que ajudará a melhorar a qualidade do ar que atualmente reduz a expectativa de vida da população afetada em até 5 anos. Se dimensionado, poderia cortar um bilhão de toneladas de dióxido de carbono por ano: uma vitória para os agricultores da Índia será uma vitória na luta contra a mudança climática.

Vidyut Mohan
“A missão da Takachar é reduzir as emissões prejudiciais e, ao mesmo tempo, criar oportunidades econômicas para as comunidades rurais. Temos muito orgulho da tecnologia que desenvolvemos e da diferença que ela está fazendo na vida das pessoas em todo o mundo”, declarou Vidyut Mohan.

Ao ganhar o Earthshot Prize, a Takachar irá expandir suas operações para mais comunidades rurais em todo o mundo com a meta de cortar um bilhão de toneladas de dióxido de carbono ao ano.

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Coral Vita, Bahamas
Vencedor Earthshot Prize na categoria Recuperar os oceanos

Imagem: Coral Vita, Freeport/Grand Bahama

O aquecimento e a acidificação dos oceanos deverão destruir mais de 90% dos recifes até 2050, uma sentença de morte para o quarto da vida marinha que precisa deles para sobreviver. Também será um desastre para o bilhão de vidas humanas que dependem dos benefícios que os recifes proporcionam.

A Coral Vita, que cultiva coral em terra para replantar nos oceanos, dá nova vida a ecossistemas moribundos. Seus métodos cultivam corais até 50 vezes mais rápido do que os métodos tradicionais e aumentam a resiliência ao impacto das mudanças climáticas.

Além de restaurar os recifes, a Coral Vita trabalha com as comunidades locais, funcionários públicos e empresas privadas para melhorar a educação, criar novas perspectivas de emprego e construir um modelo para injetar mais recursos na proteção ambiental. Ou seja, a empresa dá vida nova não apenas ao oceano, mas também às economias costeiras.

Com os métodos da Coral Vita, uma única fazenda poderia potencialmente fornecer coral para uma nação inteira, e eles finalmente imaginam uma rede dessas fazendas em todas as nações com recifes, dando início a uma economia de restauração para preservar os ecossistemas que sustentam todos nós.

Sam Teicher
“Os recifes de coral ajudam a alimentar famílias, abastecer as economias costeiras e proteger vidas e infraestrutura de tempestades intensas. Apesar de cobrirem menos de 1% do fundo do mar, eles sustentam 25% da vida marinha e são o sustento de até um bilhão de pessoas. No entanto, como muitas coisas sob as ondas, muitas vezes estão fora de vista e fora da mente, e estão morrendo diante de nossos olhos.
(…)

Ao galvanizar os líderes do setor privado e formuladores de políticas para intensificar a proteção e restauração de ecossistemas como recifes de coral, podemos curar e preservar essas belas e vitais fontes de vida para o nosso oceano e para as gerações futuras.”
Sam Teicher, fundador da Coral Vita

Ganhar o Earthshot Prize irá acelerar a meta do Coral Vita de estabelecer uma rede mundial de fazendas de corais para cultivar um bilhão de corais a cada ano.

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“Sustentabilidade já foi. Esquece. Agora é a hora da regeneração!”

Centros de Resíduos Alimentares da Cidade de Milão, Itália
Vencedor Earthshot Prize na categoria Construir um mundo sem resíduos

Um terço de todos os alimentos produzidos globalmente é desperdiçado. Cada alimento descartado usa recursos preciosos e aumenta a pressão sobre a agricultura. O sistema alimentar global gera entre 25-30% do total das emissões mundiais de gases de efeito estufa. Enquanto isso, centenas de milhões sofrem de insegurança alimentar…

Os Centros de resíduos alimentares da cidade de Milão resolvem dois problemas em um. Lançado em 2019 com o objetivo de reduzir o desperdício pela metade até 2030, cada polo recupera alimentos principalmente de supermercados e cantinas de empresas e os entrega a ONGs que os distribuem aos cidadãos mais necessitados.   

Milão é a primeira grande cidade a aplicar uma política de desperdício de alimentos abrangendo órgãos públicos, bancos de alimentos, instituições de caridade, ONGs, universidades e empresas privadas. Hoje a cidade tem três centros de resíduos alimentares, cada um recuperando cerca de 130 toneladas de alimentos por ano ou 350 kg por dia, um equivalente a 260.000 refeições estimadas.  

Milão criou um plano que pode ser dimensionado em todo o mundo. Se mais pessoas seguirem o exemplo de Milão, as cidades podem se tornar um de nossos maiores ativos no progresso da humanidade em direção a um mundo sem resíduos.   

Ao ganhar o Earthshot Prize, o modelo da cidade de Milão poderá ser escalado a outras cidades.

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O agravamento da insegurança alimentar no Brasil e o papel das empresas no combate à fome

Eletrolisador AEM, Tailândia / Alemanha / Itália
Vencedor Earthshot Prize na categoria Resgatar o clima

Foto por Marco Garofalo/2021

Nascida em uma ilha do Pacífico Sul afetada pela mudança climática, Vaitea Cowan cofundou a Enapter para reverter a maré. Apenas três anos depois, sua tecnologia de hidrogênio verde pode mudar o modo como se abastece o mundo.

Fizemos grandes avanços em energia renovável quando se trata de eletricidade. Contudo, a eletricidade representa apenas cerca de 30% do mix completo de fontes de energia. Precisamos ir mais longe, com foco nos 70% de energia que alimenta a indústria, o aquecimento, o transporte e muito mais. Frequentemente, essa energia ainda é fornecida por combustíveis fósseis.

A Enapter fornece uma alternativa limpa. Sua tecnologia de eletrolisador AEM transforma eletricidade renovável em um gás de hidrogênio livre de emissões. Desenvolvida de forma mais rápida e barata do que antes se imaginava possível, a tecnologia já abastece carros e aviões, alimenta a indústria e aquece residências.

Esse é só o começo. Até 2050, a visão da Enapter é representar 10% da geração mundial de hidrogênio.

O financiamento do The Earthshot Prize irá ajudar na escala da produção em massa, tornando universalmente fácil comprar e instalar eletrolisadores AEM onde quer que as atividades tenham alta demanda de energia.

Leia também:

Como as empresas podem contribuir para o avanço do ODS 7 – Energia limpa e acessível para todos

A busca por soluções para garantir o futuro do planeta continua

A cerimônia de premiação da primeira edição do Earthshot Prize terminou com a revelação de que o prêmio viajará para os Estados Unidos em 2022. As indicações para a premiação do ano que vem poderão ser feitas a partir de janeiro.

Enquanto os novos vencedores não são anunciados, nós seguimos acompanhando as pessoas e empresas Brasil e mundo afora que trabalham diariamente para ajudar a construir o futuro que queremos viver.

Vá para a página inteira para visualizar e enviar o formulário.

Informações: Earthshot Prize

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Natasha Schiebel

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