Saiba o que é a rotulagem climática e entenda a importância do cálculo da pegada de carbono na jornada em busca de operações carbono neutro
Se tivéssemos que indicar um aspecto que mudou radicalmente a relação entre marcas e consumidores nos últimos anos, apostaríamos em “transparência”.
As pessoas passaram a ter acesso facilitado e instantâneo a muitos tipos de informação. Consequentemente, essa virou uma expectativa constante. Seus clientes passaram a querer saber o que acontece em sua empresa, como seus produtos são desenvolvidos, como trata seus funcionários e quais são os impactos de suas operações e serviços na sociedade e no meio ambiente.
É nesse sentido que a rotulagem climática se torna uma estratégia importante para as empresas que desejam se posicionar de forma mais transparente.
Rotulagem climática ou rotulagem de carbono é a prática de divulgar a pegada de carbono de cada produto na própria embalagem. Ou seja, é quando através do rótulo é possível saber a quantidade total de gases de efeito estufa a produção daquele produto emite (direta ou indiretamente) em todo o seu ciclo de vida – desde a extração da matéria-prima até o descarte final.
Em um estudo realizado em 2020 pela consultoria Carbon Trust com mais de 10 mil consumidores, 64% dos entrevistados disseram que passariam a enxergar uma marca de maneira positiva se ela demonstrasse que reduziu a pegada de carbono de seus produtos.
Aqui no Brasil, uma das marcas pioneiras nessa prática é a Nude., empresa B que fabrica bebidas à base de aveia.
Na Cúpula Global do Clima, Giovanna Meneghel, CEO da Nude., destacou a importância de as empresas se posicionarem nesse sentido, especialmente as da indústria de alimentos – uma das grandes responsáveis pelas emissões globais de carbono.
“As empresas de alimentos precisam tomar uma atitude. Elas precisam mudar e se reinventar para atuar de maneira menos prejudicial ao planeta. Para as marcas que estão nascendo agora, não tem como não se preocupar e já se posicionar de forma sustentável e responsável”, ressaltou Giovanna.
Mariana Malufe Spignardi, Chief Sustainability Officer na Nude., comentou que um dos objetivos da empresa é democratizar as discussões sobre redução de emissões de carbono. “Identificamos que mudanças climáticas e ativismo climático seriam temas prioritários para nós. Dentro desse contexto, de democratizar as discussões sobre esses temas e reforçar a responsabilidade das empresas em relação às mudanças climáticas, optamos por utilizar a rotulagem climática”, reforçou.
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Cálculo da pegada de carbono e a jornada para a rotulagem climática
Mariana explicou que quando uma empresa usa a rotulagem de carbono, significa que ela passou por um processo de autoavaliação e compreensão dos impactos que causa.
A especialista em Sustentabilidade destacou que antes de informar a pegada climática, a empresa deve agir para reduzir sua pegada de carbono. “Para entender a pegada de carbono, você precisa necessariamente estudar todos os impactos de toda a cadeia. Quando a empresa mostra a pegada, ela já está se posicionando e se responsabilizando pela redução de suas emissões”, frisou.
No caso da Nude., a pegada ambiental dos produtos pode ser até 10 vezes menor do que a média do mercado. Enquanto o leite de aveia da empresa tem uma pegada de 0,32kg CO2e/unidade, o leite de vaca tem uma média de 3,2Kg CO2e/kg.
Mariana refletiu ainda que a rotulagem climática é um meio, e não um fim.
Ou seja, é um processo constante de análise e busca por melhorias. “Não basta simplesmente avaliar o ciclo de vida do produto, como está sendo feito neste momento. A rotulagem é uma forma de mitigação climática. Então, é preciso olhar cada etapa da vida do produto, chegar a um número final, verificar onde é possível reduzir – diminuindo transporte, trocando de fornecedor etc. – e continuar fazendo essa análise regularmente”, indicou Mariana.
Além disso, ela reforçou a importância de esse processo ser verificado por uma terceira parte, para assegurar a autenticidade do cálculo da pegada de carbono e garantir que o que está sendo informado ao consumidor esteja condizente com a realidade.
Nesse sentido, a Nude. utiliza uma ferramenta chamada CarbonCloud, por meio da qual consegue calcular o impacto de cada mudança na cadeia do produto. “O detalhamento de todas as etapas do ciclo de vida do produto é algo bem desafiador, afinal, dependemos de informações vindas da cadeia de suprimentos. Porém, apesar de ser desafiador, não é impossível”, frisou Mariana.
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A caminho do Net Zero
No painel sobre rotulagem climática da Cúpula Global do Clima, outros especialistas concordaram que essa prática é um caminho para que não só os consumidores possam ter mais acesso a informações sobre os impactos das empresas, como também para que essa conscientização inspire outras marcas.
A Nude., por exemplo, foi a inspiração da Cervejaria Praya – outra empresa B – para aderir à rotulagem climática.
A Praya será a primeira marca de cerveja brasileira a divulgar em suas embalagens a pegada de carbono de cada produto.
Tanto a Nude. quanto a Praya utilizam a rotulagem de carbono como uma forma de reforçar o compromisso de serem carbono neutro. Inclusive, ambas fazem parte do projeto Amigo do Clima, que ajuda empresas a compensarem suas emissões por meio de projetos de mitigação.
“Precisamos entender e reconhecer o valor das ações climáticas, sejam pequenas ou grandes. Precisamos aprender com as empresas que estão falando em emissões Net Zero. Redução de emissões é a pauta mais importante dessa década”, ressaltou Rodrigo Wanderley, gerente do Programa Amigo do Clima.
Concordando com ele, Paulo de Castro, sócio-fundador da Cervejaria Praya, comentou que a rotulagem climática deve ser apenas uma das ações na estratégia para se tornar carbono neutro. “Não adianta assinar um compromisso que em 2030 você vai alcançar algo, sem pensar no passo a passo que você vai tomar”, frisou.
Os panelistas preveem o crescimento desse posicionamento mais transparente em relação à pegada de carbono nos próximos anos, na medida em que outras grandes marcas também passem a aderir à rotulagem climática – é o caso, por exemplo, da Unilever, que anunciou recentemente que passará a comunicar sua pegada de carbono.
Por fim, Mariana Malufe Spignardi, a especialista em Sustentabilidade da Nude., declarou: “nosso sonho é que o consumidor vá ao supermercado e na hora de escolher um produto, além de olhar os ingredientes e a tabela nutricional, verifique também o impacto daquele produto no clima”.
Este artigo faz parte da cobertura da primeira Cúpula Global do Clima, evento organizado pelo Sistema B e pelo B Lab, que aconteceu entre 29/06 e 01/07/21. Assine nossa newsletter para receber todas as atualizações
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