Acabar com a pobreza e a fome, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade, até 2030. Esse é o propósito dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), contemplados na Agenda 2030, lançada pela ONU em 2015.
Se essa já parecia uma missão bastante ambiciosa alguns meses atrás, imagine no contexto atual, em meio a uma pandemia global e uma das piores crises econômicas da história…
Contudo, esse não deve ser motivo para desencorajamento. Pelo contrário. Especialistas afirmam que, mais do que nunca, esse é o momento de empresas, governos e cidadãos focarem na Agenda 2030 e acelerarem as mudanças necessárias para que as metas sejam alcançadas – formando uma sociedade mais resiliente e preparada para enfrentar crises futuras.
Nesse sentido, Marcus Nakagawa, doutorando em Sustentabilidade e mestre em Administração com foco em sustentabilidade na estratégia de negócios, defende que os ODS estejam contemplados nos planos de recuperação econômica de governos e de empresas.
Em entrevista exclusiva ao A Economia B, o coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS) destaca que a iniciativa privada deve ser o motor de reconstrução no novo panorama pós-pandemia, focando em atividades, ações, produtos e serviços que realmente atendam a necessidades da população.
Siga a leitura e saiba mais!
Antes da pandemia, o atendimento dos ODS no Brasil estava sendo muito ameaçado pelo atual governo, que tem uma agenda muito específica. Porém, mesmo assim, movimentos sociais, grandes empresas e algumas associações – como, por exemplo, o Instituto Ethos, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável (Abraps) – estavam trabalhando fortemente para mobilizar e buscar a Agenda 2030. Inclusive, até uma das maiores emissoras de TV do país estava divulgando, em horário nobre, a questão das ODS nos seus comerciais.
Porém, o entendimento e o conhecimento ainda eram bem baixos…
Uma pesquisa realizada em 2019, com 2002 brasileiros em 143 municípios com 16 anos ou mais, pelo IBOPE Inteligência e a Conhecimento Social, revelou que:
– 38% das pessoas já tinham ouvido falar nos ODS, mas não tinham conhecimento sobre o assunto;
– Apenas 10% declararam ter algum conhecimento;
– 1% conheciam bastante sobre o assunto;
– Restando 49% que não sabiam o que era.
Fora a falta de conhecimento, a evolução é baixa, porém, está acontecendo. Podemos observar o progresso dos ODS no país nos seguintes sites:
De maneira geral, vejo que empresas grandes e médias e organizações da sociedade civil estão atentas e se mobilizando para que os ODS continuem a sua trajetória.
A pandemia fez com que a velocidade de muitos dos indicadores fosse diminuída. Teremos que rearranjar todos os indicadores e metas após a pandemia. Mas ainda é muito cedo, pois o mundo inteiro está passando por diferentes fases e precisamos tentar voltar a um certo padrão de antes da pandemia para verificar cada um dos indicadores.
A ONU desenvolveu uma cartilha com os principais impactos que a Covid-19 está causando em cada um dos ODS. Entendo que em alguns casos deva ter aprofundado e em outros abrandado.
Clique aqui e confira o relatório da ONU Responding to the socio-economic impacts of COVID-19. |
Além da saúde, que é o tópico mais comentado neste período, a área que mais me preocupa é a da pobreza. Afinal, dados do IBGE (divulgados em maio de 2020) indicam que, em 2019, cerca de 170 mil brasileiros haviam entrado para a pobreza extrema (situação de quem vivem com menos de US$ 1,90 por dia), encerrando o ano com 13,8 milhões de cidadãos nesta situação – cerca de 6,7% da população da país.
Além disso, segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), a previsão é que haja uma queda de 5,3% do PIB na América Latina, a pior desde a Grande Depressão na década de 1920.
E ainda, o CEPAL aponta que essa crise deve empurrar quase 30 milhões de pessoas para a pobreza na América Latina, e, de acordo com a Pesquisa Econômica do Desenvolvimento (UNU-WIDER), a pandemia pode jogar até 14,4 milhões de brasileiros na pobreza.
Estes números e estimativas são muito importantes para podermos já prevenir e pensar em medidas para melhoria.
As empresas são fundamentais para este cenário. Elas serão o motor de reconstrução neste novo panorama, focando em atividades, ações, produtos e serviços que realmente atendam a necessidades da população.
Assim como muitas empresas de alimentos, higiene e bebidas acabaram mudando o foco das suas produções para álcool gel, panos de limpeza, máscaras, proteções, entre outros, precisamos criar produtos e serviços que minimizem os problemas sociais e de saúde e, com isso, retomar a economia. Será um processo novo para todos, mas, se tivermos como foco só o crescimento econômico, sem pensar nas questões sociais e ambientais, de nada adiantará.
A pandemia acabou aparecendo devido ao descaso das nossas relações com o meio ambiente, animais silvestres e com a falta da visão ecossistêmica. A natureza está aí para ensinar às empresas necessidades, demandas e ofertas.
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As questões abordadas na Agenda 2030 são o “sonho das pessoas”. A todo momento sentamos à mesa para conversar e quando isso acontece, aparece sempre um problema ou uma reclamação sobre algo. E todas essas “coisas” estão contidas na Agenda 2030.
Gosto de falar que os assuntos contemplados na Agenda 2030 deveriam ser o sonho comum de todos os habitantes do planeta. E as empresas precisam ver os ODS como uma oportunidade de negócios, uma oportunidade de crescimento, de desenvolvimento realmente sustentável.
Em conjunto com os governos, as empresas precisam entender que as temáticas da Agenda 2030 são reais demandas da sociedade e que precisam, com muita inovação e criatividade, serem vencidas. Com isso, teremos uma sociedade mais justa, igualitária, com menos riscos de saúde, mais alinhada com a natureza e o seu ecossistema.
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As empresas brasileiras estão participando com o apoio de várias organizações, como a Abraps, o Instituto Ethos, o CEBDS, o Sistema B, os movimentos contra o desmatamento, os movimentos sociais organizados, entre outros. Ou seja, há muitas pessoas e organizações se movimentando para a busca do desenvolvimento sustentável.
No entanto, precisamos de uma conscientização maior do atual governo e da população em geral para as temáticas da Agenda 2030, para que todos tenham uma visão mais ampliada e sistêmica dos desafios do planeta, e não somente unilateral ou economicista. Lembrando que um dos indicadores dos ODS é o crescimento econômico e o oferecimento empregos decentes.
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Ainda falta um entendimento da alta gestão das empresas que esta temática não é só das ONGs e do Governo, mas do sistema como um todo.
Além disso, os gestores também precisam entender que os investidores estão cada dia mais preocupados com as questões de riscos da ESG (sigla para Environmental, Social e Governance). Ou seja, sobre questões relacionadas ao meio ambiente, à questão social e à governança.
São necessários mais conhecimento e inovações voltadas a estas temáticas nas empresas.
Um dos principais erros é não ter profissionais especializados cuidando desta temática. Não basta fazer um projeto e colocar a logo dos ODS. É necessário um planejamento para que realmente haja uma transformação nos processos da empresa.
Também é vital medir o impacto social ou ambiental das ações, projetos e processos. Temos que tomar cuidado com o greenwashing, socialwashing e o diversitywashing – ou seja, com a imagem construída sem um verdadeiro fundo consistente e sem indicadores verificáveis.
Precisamos de projetos e produtos perenes, mais do que ações de “modinha”. A sustentabilidade e as ações para os ODS precisam entrar no cerne da empresa, no planejamento estratégico, nos produtos e serviços. Isso é fundamental para que as missões e visões não sejam somente um quadro bonito ou uma frase estampada na entrada da empresa.
Toda e qualquer empresa deve agir e se envolver nas questões das ODS. Podem iniciar vendo qual dos ODS tem a ver com a sua atual missão, visão e valores; quem sabe buscar a sinergia entre os seus produtos e serviços com a Agenda 2030.
Também é importante ir além dos 17 ODS e estudar as 169 metas que são derivadas destes objetivos. Quem sabe dentro de uma destas metas não exista uma que a empresa pode buscar, medir, auditar e comunicar.
Além disso, a sustentabilidade tem que ser o motor de inovação para esta década que está iniciando. Tem que ser o foco de todas as empresas rapidamente, pois o planeta e a sociedade estão clamando por isso.
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No Brasil, especificamente, a maioria das empresas está trabalhando com as questões do crescimento econômico e do emprego digno (ODS 8), pois este é o tradicional papel das empresas. No entanto, precisamos ir além disso, fortalecendo todos os outros objetivos.
São muitas as áreas em que o poder privado pode fazer diferença, mas isso dependerá da área de atuação e do segmento do negócio. Porém, na minha opinião, as necessidades básicas deveriam ser obrigatórias. Além disso, a educação é o que pode transformar tudo isso. Mas é preciso investir de verdade, com indicadores, resultados e estudos de caso.
Para começar, deve-se iniciar um debate interno. Ou seja, levar a temática para os conselhos de administração, para os acionistas, para os CEOs e diretores. Mas não somente um discurso bonito. E sim uma meta, um objetivo claro e mensurável. Colocando estas temáticas, por exemplo, na bonificação de todos os funcionários – desde o CEO até a base da empresa.
Assim como temos a bonificação para lucros, vendas, metas atingidas, temos que colocar estas temáticas como algo fundamental a ser atingido. E não como algo extra, à parte, “se tivermos orçamento fazemos”. Esta mentalidade precisa mudar. E já temos ótimos exemplos de empresas que fazem isso no país. No entanto, precisamos de mais gestores que tenham esta verdade dentro do seu negócio e de suas atitudes.
Uma boa referência são as empresas que se comprometeram com o Pacto Global da ONU.
Outro exemplo são as empresas que estão no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3, a Brasil Bolsa Balcão, que possuem indicadores e são acompanhadas por organizações de credibilidade na área do desenvolvimento sustentável. Inclusive, algumas empresas foram retiradas do ISE por problemas sociais e ambientais.
Por fim, outras boas referências são as empresas que fazem a diferença em áreas específicas, que podemos acompanhar em premiações como, por exemplo:
No início de 2020, começamos no A Economia B uma série especial para mostrar a evolução e o panorama atual da Agenda 2030, listando os desafios que precisariam ser superados para que os ODS fossem alcançados na próxima década.
Confira os conteúdos já publicados:
– Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – 10 anos para mudar o mundo
– Erradicação da pobreza e fome zero e Agricultura sustentável
– Saúde e bem-estar para todos
– Educação de qualidade e igualdade de gênero
Nas próximas semanas, publicaremos mais informações sobre os impactos da pandemia no progresso do desenvolvimento sustentável do planeta. Assine nossa newsletter e nos siga no Instagram e no LinkedIn para não perder. |
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