De acordo com o estudo, 90% dos desastres climáticos estão ligados à água, e a vulnerabilidade da infraestrutura agrava a crise em centros urbanos
Uma pesquisa publicada pela WaterAid em parceria com universidades britânicas revelou que as 100 cidades mais populosas do mundo estão cada vez mais vulneráveis a eventos climáticos extremos, como enchentes e secas.
Segundo o levantamento Água e clima: Riscos crescentes para as populações urbanas*, 90% dos desastres climáticos estão relacionados ao excesso ou à escassez de água. O estudo aponta que cidades europeias estão entre as mais afetadas, com um processo generalizado de secagem. Madri e Londres, por exemplo, estão entre as capitais que mais sofrem com a redução da umidade. Já em outras regiões, o impacto se dá de maneira diferente: algumas cidades enfrentam variações bruscas entre períodos de seca e chuvas intensas, um fenômeno chamado de “climate whiplash”.
Esse fenômeno, caracterizado pela alternância entre secas severas e chuvas intensas, desafia a resiliência dos centros urbanos, pressionando sistemas de drenagem, abastecimento e saneamento. A WaterAid revela que esse padrão de extremos hídricos já afeta 15% das cidades analisadas:
*O relatório completo está disponível aqui.
Infraestrutura precária agrava impactos climáticos
Além das mudanças no padrão climático, a pesquisa destacou que a vulnerabilidade social e a infraestrutura defasada agravam os impactos desses eventos.
Cidades como Barcelona, Berlim e Paris possuem sistemas hídricos envelhecidos, tornando suas populações mais expostas às consequências de secas prolongadas e enchentes severas. Especialistas alertam que esses fenômenos aumentam o risco de disseminação de doenças e prejudicam o abastecimento de água, afetando milhões de pessoas.
Outro achado do estudo mostra que mais de 20% das cidades analisadas passaram a enfrentar o oposto dos padrões climáticos anteriores – regiões que antes lidavam com secas recorrentes agora enfrentam volumes maiores de chuva, e vice-versa, no que está sendo chamado de “climate hazard flips”. Esse cenário reforça a necessidade de adaptação das infraestruturas urbanas para garantir maior resistência diante de um clima cada vez mais imprevisível.
Respostas para enfrentar os extremos climáticos
Soluções baseadas na natureza têm sido adotadas para mitigar parte desses impactos.
De acordo com o relatório Adaptação urbana na Europa: o que funciona? Implementando a ação climática em cidades europeias, publicado pela Agência Europeia do Meio Ambiente (EEA), cerca de 51% das cidades já possuem planos de adaptação climática, e, dessas, 91% incorporam estratégias como telhados verdes, parques urbanos e sistemas naturais de retenção de água. Além de amenizar a escassez hídrica e reduzir enchentes, essas soluções ajudam a controlar a temperatura e a melhorar a qualidade do ar.
A cidade polonesa de Poznań, por exemplo, está utilizando soluções baseadas na natureza em espaços urbanos para melhorar as condições de vida e aumentar a resiliência aos impactos das mudanças climáticas.
O projeto das “praias urbanas” ao longo do rio Warta é um exemplo de desenvolvimento multifuncional de áreas em risco de inundação. São espaços de lazer criados ao longo do rio em antigas áreas degradadas ou negligenciadas. Esses espaços atraem os moradores locais e trazem benefícios ecológicos para a comunidade e a cidade.
Além disso, com o objetivo de criar espaços verdes multifuncionais que priorizassem o desenvolvimento, a saúde e as habilidades das crianças, a prefeitura desenvolveu o projeto pátio escolar.
Esses espaços – de propriedade de instituições públicas – foram abertos a um grupo mais amplo de usuários, contribuindo para o desenvolvimento de uma rede verde interconectada de espaços nos bairros mais densamente construídos da cidade.
Para tornar o ambiente mais atrativo, superfícies artificiais impermeáveis de segurança em asfalto foram substituídas por superfícies naturais absorventes de água em areia ou cascalho. Além disso, a vegetação foi aprimorada para fornecer sombra ou isolamento natural do ruído do tráfego e da poluição.
Também existem lugares designados para eco-educação, como zonas de biodiversidade selvagem e prados com casas para insetos e canteiros de flores. Por fim, um manual foi elaborado com lições e exemplos de como os jardins podem ser usados para educar crianças sobre biodiversidade, mudanças climáticas e natureza.
Além disso, algumas cidades europeias estão testando medidas inovadoras para lidar com os impactos da crise climática.
- Barcelona, por exemplo, criou mais de 350 “abrigos climáticos” em escolas, bibliotecas e centros comunitários, oferecendo locais climatizados para proteção contra eventos extremos de temperatura.
- Já Madri implementou pontos de ônibus climatizados com resfriamento evaporativo, capazes de reduzir em até 9°C a temperatura ao redor, proporcionando mais conforto térmico à população.
Embora essas soluções sejam interessantes e tenham potencial de serem escaladas, o relatório da WaterAid destaca que o problema exige medidas estruturais coordenadas, investimentos em infraestrutura resiliente e políticas públicas que priorizem a segurança hídrica e climática. A organização reforça que enfrentar esses desafios requer ação imediata, colaboração internacional e um compromisso concreto com o desenvolvimento sustentável.
→ O relatório Água e clima: Riscos crescentes para as populações urbanas analisou o impacto da crise hídrica e climática em cidades de diversos continentes. No Brasil, apenas Rio de Janeiro e São Paulo foram incluídas no estudo.
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