ESG

Qual é o combustível da moda?

Relatório revela que 96% das maiores marcas de moda do mundo não se comprometeram publicamente com uma estratégia de transição energética justa

De acordo com o Statista, a indústria da moda tem um valor estimado em mais de US$ 770 bilhões, o que faz dela uma das mais ricas do planeta. 

Mas não é só na competição de riqueza que a moda está entre os campeões. Essa também é uma das indústrias mais poluentes do mundo.

A Fashion Revolution, o maior movimento de ativismo de moda do mundo, alerta que “desde o cultivo de fibras até o acabamento dos tecidos, os combustíveis fósseis estão presentes em todas as etapas da cadeia de suprimentos”. A organização acrescenta que a moda está “profundamente ligada ao grande petróleo, gás e carvão”, e que “à medida que a indústria da moda cresce, a demanda por combustíveis fósseis também aumenta”.

Relatório ‘What Fuels Fashion?’

Com o objetivo de aumentar a conscientização pública e educar sobre os desafios sociais e ambientais da indústria da moda, a Fashion Revolution lançou recentemente o relatório What Fuels Fashion?

O documento analisa e classifica 250 das maiores marcas e varejistas de moda do mundo (com faturamento de US$400 milhões ou mais) com base na divulgação pública de suas ações relacionadas ao clima e à energia, e cobre temas como responsabilidade, descarbonização, aquisição de energia, financiamento de descarbonização, transição justa e defesa. 

Principais descobertas

Na avaliação da Fashion Revolution, a maioria das marcas de moda não investe o suficiente em ações climáticas para reduzir o uso de combustíveis fósseis. 

Para você ter uma ideia, apenas quatro das 250 marcas analisadas atingem ao nível de ambição pedido pelas Nações Unidas, enquanto muitas não revelam dados essenciais sobre suas emissões e uso de energia.

96% das maiores marcas de moda do mundo não se comprometeram publicamente com uma estratégia de transição energética que também proteja os empregos na cadeia de suprimentos

O relatório aponta que quase um quarto das maiores marcas de moda do mundo não apresenta nenhuma informação sobre descarbonização.

Entre as que divulgam, menos da metade tem metas de redução de emissões verificadas pela Iniciativa de Metas Baseadas na Ciência (SBTi), com as emissões de escopo 3 ainda aumentando para um terço delas.

A situação dos trabalhadores na cadeia de suprimentos

Além disso, a indústria da moda continua altamente dependente de combustíveis fósseis, e a falta de investimento em energia renovável sobrecarrega trabalhadores e comunidades nos países produtores. 

Enquanto eventos climáticos extremos podem custar quase 1 milhão de empregos no setor, a Fashion Revolution destaca que a maioria das grandes marcas de moda não está protegendo os trabalhadores de sua cadeia de suprimentos. 

“Apenas 3% das marcas divulgam esforços para apoiar financeiramente os trabalhadores afetados pela crise climática. Isso é crítico, considerando a fraca proteção social nos países produtores de vestuário, os salários de pobreza e os altos níveis de dívida desses trabalhadores. Eventos climáticos frequentes, como ondas de calor, monções e secas, estão devastando seus meios de subsistência”, avalia o movimento.

Produção e sustentabilidade

Outro problema identificado pelo relatório é o fato de a maioria das grandes marcas de moda (89%) não revelar quantas roupas produz anualmente.

Segundo a Fashion Revolution, quase metade (45%) não informa nem quanto produzem nem a pegada de emissões de matérias-primas do que é produzido

Além disso, enquanto 58% das marcas têm metas de uso de materiais sustentáveis, apenas 11% revelam as fontes de energia de sua cadeia de suprimentos, o que significa que roupas ditas ‘sustentáveis’ ainda podem ser feitas em fábricas movidas a combustíveis fósseis. É greenwashing que chama, né?

58% das marcas têm metas de uso de materiais sustentáveis, mas apenas 11% revelam as fontes de energia de sua cadeia de suprimentos

Como mudar essa onda

De acordo com o What Fuels Fashion?, bastaria um investimento de aproximadamente 2% da receita anual para que as grandes marcas de moda impulsionassem uma transição justa dos combustíveis fósseis para a energia renovável, a fim de alimentar sua produção de forma sustentável.

“Atualmente, as marcas estão transferindo os custos da transição para a energia renovável para seus fornecedores, sobrecarregando trabalhadores e comunidades para resolver um problema que não criaram. Mas acreditamos que as grandes marcas de moda podem pagar suas próprias contas”, destaca o relatório.

“Investindo pelo menos 2% de sua receita em energia limpa e renovável e capacitando e apoiando os trabalhadores, a moda poderia, simultaneamente, reduzir os impactos da crise climática e diminuir a pobreza e a desigualdade dentro de suas cadeias de suprimentos.

O colapso climático é evitável porque temos a solução – e as grandes marcas de moda certamente podem pagar por isso”, afirma Maeve Galvin, Diretora Global de Políticas e Campanhas da Fashion Revolution, em nota.

O relatório na íntegra, em inglês, está disponível aqui.

Em busca de soluções por uma moda circular

A indústria de calçados produz aproximadamente 24 bilhões de sapatos globalmente a cada ano, muitos deles feitos por mais de 40 componentes diferentes feitos de vários materiais, incluindo plásticos e borracha. A complexidade da construção dos sapatos e as baixas taxas de coleta resultam em quase 90% dos calçados descartados acabando em aterros sanitários.

A Fashion for Good (ONG que busca abordar pontos de intervenção críticos necessários para alcançar a circularidade na indústria da moda), em colaboração com grandes marcas como Adidas, Inditex, Target e Zalando, anunciou uma nova iniciativa destinada a promover a circularidade na indústria de calçados.

A nova iniciativa se concentrará em quatro áreas principais de trabalho:

  • Design: Definir o design circular em calçados e desenvolver diretrizes para construir uma infraestrutura circular.
  • Materiais: Identificar e validar alternativas sustentáveis para materiais de calçados, como plásticos, couro e borracha.
  • Fim de uso: Triagem, Desmontagem e Reciclagem: Desenvolver um conjunto abrangente de dados sobre resíduos de calçados pós-consumo, incluindo frações não reutilizáveis, volumes, construção e composição, além de identificar e validar soluções para reparo, desmontagem e reciclagem.
  • Rastreabilidade: Estabelecer um protocolo de dados de rastreabilidade de calçados para apoiar reivindicações de sustentabilidade.

A organização está convocando inovadores a se inscreverem e colaboradores a se juntarem ao movimento. O prazo de inscrição é 20 de setembro. Saiba mais.

Leia também: Adoção de metas baseadas na ciência cresce 102% em 2023


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Redação A Economia B

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