Saiba como está o progresso nas áreas de inovação, industrialização, infraestrutura e acesso a tecnologias de informação e comunicação e entenda os desafios que ameaçam o avanço do ODS 9
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável – ODS 9:
Este conteúdo faz parte da série Pandemia de Covid-19 e os ODS. Clique aqui e confira todos os artigos sobre o impacto dessa crise na Agenda 2030.
À primeira vista, o nono objetivo da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável parece ser um tanto abrangente. Contudo, uma análise mais atenta mostra que, mesmo tratando de diferentes áreas, esse ODS tem objetivos específicos que se interconectam.
O ODS 9 visa promover o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis, que ajudem a resolver problemas ambientais (como o aquecimento global, por exemplo) e sociais (como a falta de oportunidades e acesso a serviços básicos).
O intuito é tornar a indústria e as infraestruturas nas cidades mais inclusivas e sustentáveis, aumentando a participação de pequenas empresas e gerando mais emprego e qualidade de vida para todos.
Por que o ODS 9 é importante
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento aponta que o avanço nas áreas de infraestrutura e inovação é a chave para o desenvolvimento sustentável econômico e social do planeta.
Para começar, se levarmos em conta que mais da metade da população global vive em cidades, questões como transportes de massa e energias renováveis são cada vez mais importantes.
Além disso, o progresso tecnológico e o fomento de pesquisas científicas são fundamentais para encontrar soluções para desafios econômicos e ambientais. O desenvolvimento e a produção de vacinas contra a Covid-19 em tempo recorde, por exemplo, é uma das provas do poder da inovação tecnológica e de sua relevância para a construção de sociedades mais resilientes.
E ainda, o fortalecimento de uma indústria inclusiva, o desenvolvimento de infraestruturas sustentáveis e o investimento em pesquisa e inovação contribuem para impulsionar o desenvolvimento sustentável, aumentar a qualidade de vida da população, além de gerar mais emprego e renda.
Por fim, é importante ter em mente que quase três bilhões de pessoas ainda não têm acesso à internet. Diminuir essa lacuna digital é essencial para garantir acesso igualitário à informação e ao conhecimento, potencializando a inovação e o empreendedorismo.
Neste sentido, o ODS 9 é importante porque estabelece metas para:
- A construção de infraestruturas sustentáveis, de qualidade e resilientes;
- A promoção da industrialização inclusiva e sustentável;
- O fortalecimento de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, fomentando a inovação;
- O aumento do acesso de micro e pequenas empresas a sistemas financeiros e produtivos;
- O acesso universal a tecnologias de informação e comunicação (TIC).
Ou seja, o alcance das metas do ODS 9 tem um papel primordial na busca por mais qualidade de vida, para impulsionar novas tecnologias e inovações que atendem a novos desafios e demandas e para potencializar a participação da indústria no desenvolvimento sustentável.
O progresso do ODS 9
Assim como outros objetivos da Agenda 2030, o ODS 9 também sofreu retrocesso nos últimos anos por conta dos impactos causados pela pandemia de Covid-19. Porém, mesmo antes desse período, crises econômicas ao redor do globo já ameaçavam o progresso nas áreas de infraestrutura, indústria e inovação.
A seguir, analisamos a evolução em diferentes áreas relacionadas ao ODS 9 e refletimos sobre os impactos da pandemia e outros movimentos que interferem no avanço deste importante item da Agenda 2030.
✅ Impacto da pandemia no setor industrial
A indústria foi fortemente afetada pela pandemia. Uma queda de 6,8% foi registrada na produção industrial global em 2020 – impacto mais significativo que o sofrido na crise econômica de 2007-2009.
Essa queda na produção se refletiu diretamente no nível de desemprego deste setor. O emprego industrial diminuiu em média 5,6% no segundo trimestre de 2020, e 2,5% no terceiro trimestre.
Em países menos desenvolvidos o choque foi ainda maior. O crescimento da indústria nessas regiões foi de apenas 1,9% em 2020 – uma queda significativa em comparação com o crescimento de 8,7% registrado em 2019.
Leia também: Como o aumento do desemprego afeta a Agenda 2030 e a evolução do ODS 8 |
✅ Apoio a pequenas e médias indústrias
Pequenas e médias indústrias foram especialmente impactadas pela crise. Embora alguns governos tenham respondido à pandemia com medidas de apoio econômico, em muitos países essas medidas não aconteceram ou não foram suficientes.
No Brasil, por exemplo, a Medida Provisória 972, editada em maio de 2020 para socorrer micro e pequenas indústrias durante a crise do coronavírus, abriu crédito extraordinário de R$ 15,9 bilhões de recursos do Tesouro Nacional como garantia para uma linha de crédito destinada a micro e pequenas empresas.
Esse apoio foi de extrema importância, afinal, segundo análises da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 70% das indústrias brasileiras sofreram com queda no faturamento por conta do aumento de inadimplência, cancelamento de pedidos e paralisação de atividades durante os piores meses da pandemia.
Contudo, esse recurso foi encerrado em setembro de 2020…
Segundo a CNI, essa suspensão das linhas de financiamento emergenciais voltadas às pequenas indústrias impactou negativamente o acesso ao crédito pelo segmento. Consequentemente, o Índice de Situação Financeira das indústrias de pequeno porte recuou 5,3 pontos no primeiro trimestre de 2021.
✅ Investimento em pesquisa e inovação
Em nível nacional, a área de pesquisa e inovação ainda está longe de alcançar as metas do ODS 9.
No Índice de Inovação Global, o Brasil ocupa a 57ª posição entre 132 economias. Além disso, o relatório da ONU Technology e Innovation 2021, que mede a capacidade de 158 países de acompanhar as principais inovações e movimentos tecnológicos, indica que o país está bastante despreparado nesse sentido. Com uma pontuação de 0.61 (em uma escala de 0 a 1), o Brasil encontra-se na 41ª posição do ranking.
O declínio do orçamento público reservado à pesquisa e inovação é um dos fatores que contribuem para essa falta de preparo tecnológico. O estudo da ONU indica que no que se refere ao investimento em tecnologia e inovação, o Brasil está em uma posição ainda pior: em 60º lugar.
- Em 2021, houve corte de 29% no orçamento total previsto para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
- O valor reservado para despesas discricionárias, que é de onde saem os recursos para o financiamento de pesquisas, diminuiu 15% em relação a 2020.
- Para 2022, o governo anunciou aumento de 138% para as despesas discricionárias.
- O orçamento de fomento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) deverá aumentar 47%.
Contudo, como o investimento público nessas áreas vêm caindo constantemente ao longo dos últimos anos. Ou seja, mesmo com esse aumento, o orçamento ainda é significativamente baixo.
Para se ter uma ideia, o incremento de 47% no orçamento de fomento do CNPq significa que essa área teria disponível R$ 35 milhões para sustento da pesquisa científica nacional. Porém, dez anos atrás, esse montante passava de R$ 200 milhões.
A falta de investimento público também se reflete no setor empresarial. Segundo um levantamento feito pela CNI, apenas 10% dos negócios utilizaram linhas de financiamento de organismos públicos para obter recursos destinados à área de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em 2020. A maioria (89%) usa recursos próprios.
“Estamos na contramão de países desenvolvidos, que reconhecem o papel do Estado no fomento à inovação, ciência e tecnologia. Os frutos de um ambiente nacional mais aberto para a inovação são colhidos pela própria sociedade, com aumento da qualidade de vida das pessoas, redução do custo da tecnologia, criação de empregos melhores. Por isso, o Brasil precisa, urgentemente, de uma estratégia de inovação de longo prazo”, declara Robson Braga de Andrade, presidente da CNI.
✅ Acesso a tecnologias de informação e comunicação
Em relação ao nível de acesso da população a tecnologias de informação e comunicação, o relatório Technology e Innovation 2021 indica que o Brasil está ainda mais atrás, em 73º lugar.
- Segundo o último levantamento do IBGE, 21,7% da população com mais de 10 anos (40 milhões de brasileiros) não tem acesso à internet.
- A desigualdade digital também é bastante presente entre os estudantes, já que mais de 4 milhões de jovens de escola pública não acessam a internet no ambiente escolar.
Globalmente, o número de pessoas usando internet cresce anualmente. Em 2021, 63% da população global tinha acesso à internet – um crescimento de 17% em relação a 2019.
Contudo, mais de um terço das pessoas ao redor do mundo (quase 3 bilhões de cidadãos) ainda são excluídas digitalmente e nunca acessaram a internet.
O acesso universal a tecnologias de informação e comunicação, defendido no ODS 9, é fundamental para o avanço do desenvolvimento sustentável. Em uma sociedade cada vez mais digital, o pleno acesso a TIC garante a proteção de direitos fundamentais, além de acesso a mais conhecimento e mais oportunidades para todos.
Por outro lado, a falta de acesso às tecnologias de informação e comunicação pode aumentar a desigualdade de renda e concentrar benefícios econômicos. Daí a relevância de criar ações específicas para garantir a inclusão e a acessibilidade universal e para apoiar o desenvolvimento de habilidades digitais.
Leia também: O impacto da pandemia de Covid-19 na educação e no ODS 4 |
✅ Infraestrutura inclusiva sustentável
A pandemia deixou evidente várias fragilidades sociais e econômicas, que são resultados de sociedades despreparadas para lidar com mudanças e crises.
Durante a crise da Covid-19, a falta de uma infraestrutura de qualidade e inclusiva deixou grupos já vulneráveis em uma situação ainda pior. Afinal, com falta de acesso a serviços básicos como água, eletricidade, transporte e internet, muitos cidadãos (como aqueles morando em favelas ou áreas rurais) sofreram de maneira muito mais forte os impactos da pandemia.
Uma infraestrutura mais resiliente e inclusiva ajuda a trazer para essas comunidades mais conhecimento e informação, mais acesso a serviços de saúde e mais oportunidades de emprego. Assim, há redução da pobreza e mais qualidade de vida como um todo.
Contudo, é importante levar em conta que para construir sociedades mais resilientes, mais do que inclusivas, as infraestruturas precisam ser sustentáveis. Além de ajudar a mitigar os efeitos das mudanças climáticas, infraestruturas sustentáveis são o caminho para criar cidades e comunidades mais preparadas para o futuro.
No entanto, a forma tradicional de construir infraestruturas é fortemente baseada em processos com altíssimos índices de emissões de carbono. Somente a construção e operação de infraestrutura cinza (que inclui edifícios, infraestrutura de transporte e geração de energia) são responsáveis por cerca de 70% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). Além disso, os processos deste setor podem ter impactos diretos e indiretos na biodiversidade e no ecossistema.
Em um relatório sobre as boas práticas para a criação de infraestruturas mais sustentáveis, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) adverte sobre a importância de uma abordagem diferenciada.
“Precisamos repensar a forma como planejamos infraestruturas, pois o modelo atual está levando à destruição ecológica e a emissões maciças de dióxido de carbono. Os investimentos em infraestrutura sustentável não são apenas ambientalmente saudáveis, mas também trazem benefícios econômicos e sociais. Projetos de infraestrutura de baixo carbono podem ajudar a minimizar a pegada ambiental do setor e oferecer um caminho mais sustentável para fechar a lacuna de infraestrutura”, defende Inger Andersen, diretora executiva do UNEP.
Porém, o caminho para a construção de uma infraestrutura mais inclusiva e sustentável ainda é longo.
Considerando que precisaremos construir muito mais infraestruturas nas próximas décadas, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico estima que serão necessários US$ 6,9 trilhões por ano até 2030 para a criação de uma nova geração de infraestrutura sustentável.
Entretanto, segundo o Global Infrastructure Hub, há uma lacuna significativa entre essas necessidades de investimento e as tendências atuais de investimento, particularmente em países de baixa e média renda.
No Brasil, o investimento necessário nesse sentido está longe do ideal.
A entidade indica que, para alcançar as metas relacionadas à infraestrutura até 2030, o Brasil precisaria investir 4,74% do seu PIB nessa área. Contudo, a tendência de investimento atual é bem diferente: em 2021, o país alocou 1,9% do seu PIB para infraestrutura.
Como as empresas podem contribuir para o avanço do ODS 9
Como os dados deste artigo mostram, ainda há um longo caminho para que as metas do ODS 9 sejam alcançadas – e o tempo é curto! Por isso, a participação e o investimento do poder privado são cruciais para acelerar o progresso desse item da Agenda 2030.
Para as empresas essa é uma questão estratégica. Afinal, indústria, infraestrutura e inovação são os principais impulsionadores do crescimento econômico e da criação de valor social.
Ao incorporar o ODS 9 em suas estratégias, a organização se torna mais preparada para lidar com desafios únicos de desenvolvimento. Além de expandir a economia local, negócios que contribuem para o avanço das metas do ODS 9 se tornam líderes em sustentabilidade. Além disso, criam relacionamentos mais fortes com seus stakeholders.
Existem diversas maneiras pelas quais as empresas podem impulsionar o ODS 9. Dentre as quais destacam-se, por exemplo:
- Pesquisar, desenvolver e implantar produtos, serviços e modelos de negócios para fornecer infraestrutura sustentável e resiliente.
- Apoiar a modernização inclusiva e sustentável das indústrias dos países em desenvolvimento nas cadeias de valor globais.
- Criar sistemas de inovação para o desenvolvimento sustentável, fornecendo acesso a financiamento, fomentando o empreendedorismo e reunindo recursos financeiros e de pesquisa em uma base de conhecimento global.
- Atualizar e modernizar a infraestrutura e os ativos do setor nas operações próprias e da cadeia de suprimentos para torná-los sustentáveis e resilientes.
Quer saber mais sobre as ações que as empresas podem desenvolver para contribuir para o avanço do ODS 9?
Esse é o tema do próximo artigo da série sobre os Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.
➔ Enquanto isso, leia os artigos já publicados nessa série ODS para entender o progresso da Agenda 2030. Acompanhe a série e conheça empresas que estão fazendo seu papel para garantir um futuro mais justo, inclusivo e sustentável.
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