Segundo o relatório Planeta Vivo, da WWF, as maiores perdas aconteceram na América Latina e no Caribe. Cientistas contestam a precisão dos dados, mas concordam que a vida selvagem está ameaçada
Começou ontem (21/10), na Colômbia, a Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16). O principal objetivo da cúpula é oficializar a implementação do acordo de Kunming-Montreal, documento assinado por mais de 120 países em 2022, que visa reverter a perda de biodiversidade em todo o planeta até 2030.
Nesse contexto, a nova edição do Relatório Planeta Vivo, que mede a variação média no tamanho das populações de mais de cinco mil espécies de vertebrados, traz dados que reforçam a importância de uma ação global e coordenada em busca da “Paz com a Natureza” (tema da COP16).
Segundo a WWF, nos últimos 50 anos, as populações de vida selvagem monitoradas encolheram em média 73%.
Em nível regional, as quedas mais rápidas foram observadas na América Latina e Caribe (onde houve uma diminuição de 95%), na África (76%) e na Ásia e Pacífico (60%).
As quedas foram menos dramáticas na Europa e na Ásia Central (35%) e na América do Norte (39%). “Isso reflete o fato de que os impactos em larga escala na natureza já eram evidentes antes de 1970 nessas regiões: algumas populações se estabilizaram ou aumentaram graças aos esforços de conservação e reintrodução de espécies”, explica o relatório.
A degradação e perda de habitats, impulsionadas principalmente pelo nosso sistema alimentar, são a ameaça mais relatada em cada região, seguidas pela superexploração, espécies invasoras e doenças. Outras ameaças incluem as mudanças climáticas (mais citadas na América Latina e no Caribe) e a poluição (particularmente na América do Norte e na Ásia e Pacífico).
A WWF e seu parceiro ZSL (Zoological Society of London) enfatizam que os próximos cinco anos serão cruciais para frear esses declínios e evitar danos irreversíveis aos ecossistemas essenciais para a vida humana.
Afinal, a queda nas populações de vida selvagem pode atuar como um indicador de alerta precoce para o aumento do risco de extinção e da perda de ecossistemas saudáveis. “Quando os ecossistemas são danificados, eles podem se tornar mais vulneráveis a pontos de inflexão – ultrapassando um limite crítico em direção a mudanças potencialmente irreversíveis”, aponta o estudo.
De acordo com o relatório Planeta Vivo, existem riscos de colapso de ecossistemas como a floresta amazônica e os recifes de coral, ambientes essenciais para o clima global e a biodiversidade, e cuja perda poderia desencadear impactos globais na segurança alimentar e nos meios de subsistência.
“Na Amazônia, o desmatamento e as alterações climáticas estão causando redução nas chuvas, e o ponto de não retorno pode ser alcançado onde as condições ambientais se tornarem inadequadas para a floresta tropical, com consequências devastadoras para as pessoas, a biodiversidade e o clima global. O ponto de não retorno pode estar no horizonte se apenas 20% a 25% da Floresta Amazônica for destruída – e estima-se que algo entre 14% e 17% já tenha sido desmatada”, diz o estudo.
Porém, o relatório sugere que há tempo para restaurar o planeta, mas que a ambição e os esforços precisam ser amplificados urgentemente, com políticas e financiamento direcionados para práticas sustentáveis e conservacionistas.
Neste sentido, a WWF reforça a necessidade de ações rápidas e eficazes por parte dos governos na COP16 para alinhar as políticas de preservação e o combate às mudanças climáticas com a Agenda de Biodiversidade 2030.
Por fim, o relatório faz três chamados à ação essenciais para reverter as tendências de perda da natureza:
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Em uma matéria divulgada pela Vox, cientistas contestaram os dados do relatório, criticando a metodologia usada para calcular o Índice Planeta Vivo (LPI) – ferramenta que estima essas perdas.
Os especialistas entrevistados pela reportagem disseram acreditar que o índice exagera o declínio da fauna, o que pode gerar desconfiança pública sobre o real estado da biodiversidade. Os pesquisadores sugerem que, embora a crise de biodiversidade seja inegável, o método do WWF pode não refletir com precisão a magnitude da perda, apontando para erros de amostragem e de cálculo no índice.
A matéria aborda ainda o fato de que a discussão sobre o assunto é importante, pois exageros podem levar ao desinteresse público pela conservação. No entanto, a tendência de declínio das populações animais continua alarmante, e o LPI é amplamente usado como uma ferramenta de comunicação para conscientizar sobre as crises de biodiversidade e mudanças climáticas.
O Relatório Planeta Vivo 2024 está disponível na íntegra, em português, aqui.
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