A crise climática é um desafio global que exige ações eficazes. Mas, entre tantas políticas climáticas, quais realmente fazem a diferença?
As consequências das mudanças climáticas podem ser observadas em todos os cantos do mundo. O aumento das temperaturas globais, o derretimento das calotas polares e os eventos climáticos extremos (como as enchentes no Rio Grande do Sul) são alguns alertas de que as coisas não podem continuar do jeito que estão. Um novo estudo aponta que políticas climáticas eficazes podem ajudar a conter esse problema global.
Pesquisadores do Potsdam Institute for Climate Impact Research e de outras organizações analisaram 1.500 políticas climáticas implementadas em 41 países entre 1998 e 2022 e identificaram que apenas 63 delas foram eficazes na redução das emissões de gases de efeito estufa que aquecem o planeta.
Essas políticas foram divididas em quatro categorias: precificação, regulamentações, subsídios e informação. Os pesquisadores analisaram o impacto dessas políticas em quatro setores econômicos: eletricidade, transporte, edifícios e indústria.
A imagem abaixo mostra o aumento no número médio de políticas climáticas adotadas entre 1998 e 2022 em cada um dos setores nos países analisados.
A imagem abaixo destaca o número de políticas climáticas adotadas e de endurecimentos de políticas para cada tipo de instrumento, destacando a diversidade de instrumentos utilizados. Economias desenvolvidas e em desenvolvimento ou em transição são consideradas separadamente.
Principais descobertas do estudo sobre políticas climáticas
Usando machine learning, os pesquisadores descobriram que políticas climáticas baseadas em preço (como a precificação de carbono), combinadas com outros instrumentos, são particularmente eficazes. Além disso, o estudo mostra que o sucesso dessas políticas depende diretamente da combinação correta de medidas adaptadas ao setor específico e ao nível de desenvolvimento do país.
O estudo também descobriu que o que funciona em países ricos nem sempre funciona tão bem em países em desenvolvimento, e que instrumentos de política baseados em tributação podem gerar grandes reduções de emissões em todos os setores sem medidas de apoio.
De acordo com o cientista climático Nicolas Koch, um dos autores do estudo, mais políticas climáticas não estão necessariamente relacionadas a melhores resultados. “Em vez disso, a combinação certa de medidas é crucial. Por exemplo, subsídios ou regulamentações sozinhos são insuficientes; apenas em combinação com instrumentos baseados em preços, como impostos sobre carbono e energia, podem proporcionar reduções substanciais de emissões”, comenta.
Mas, afinal, quais são as políticas climáticas que funcionam?
O estudo, publicado na revista Science, destacou exemplos de políticas que funcionaram:
- Reino Unido: Desde 2012, uma combinação de 11 políticas, incluindo a definição de um preço mínimo para o carbono, eliminação gradual do carvão, padrões mais rígidos de poluição do ar e tarifas e leilões de energia renovável, quase reduziu as emissões pela metade.
- China: No setor industrial, a imposição de precificação de carbono, combinada com a redução de subsídios para combustíveis fósseis e o fortalecimento de mecanismos de financiamento para investimentos em eficiência energética, gerou resultados significativos.
- Noruega: As emissões do transporte foram significativamente reduzidas graças a uma combinação de subsídios para ferrovias, subsídios para veículos elétricos e impostos mais altos sobre carros com motores de combustão.
- Estados Unidos: No setor de transporte, as emissões caíram 8% de 2005 a 2011 devido a uma combinação de padrões de combustível e subsídios. Contudo, como a análise foi feita com dados registrados até 2022, o estudo não avalia o pacote de gastos de quase 400 bilhões de dólares (aprovado há dois anos como um dos pilares da política ambiental do presidente Biden) para combater as mudanças climáticas.
- África do Sul: No setor de construção, uma combinação de regulamentação, subsídios e rotulagem de eletrodomésticos reduziu as emissões em quase 54%.
Limitações do estudo
O estudo possui algumas limitações. Por exemplo, o setor de agricultura e mudança no uso da terra, que é um grande emissor de carbono, não foi incluído. O jornal New York Times reportou que o Dr. Koch disse que ainda não existem dados confiáveis que mostram reduções nas emissões de carbono para esse setor.
Além disso, centenas de países estão ausentes dos dados da OCDE, especialmente economias em desenvolvimento na África, América Latina e Caribe. Embora algumas nações em transição, como Rússia, Brasil, Índia e China, estejam incluídas, apenas um país africano, a África do Sul, faz parte do conjunto de dados.
O estudo deixa claro que, embora o caminho para mitigar as mudanças climáticas seja complexo, há evidências concretas de que políticas bem combinadas podem fazer a diferença. “Se cada país implementasse uma das melhores práticas que levaram a uma lacuna de emissões, até 41% da lacuna poderia ser fechada até 2030”, disse dr. Koch ao NYT.
O estudo completo, em inglês, está disponível aqui.
Para explorar as diferentes combinações de políticas que foram eficazes, acesse o painel interativo aqui.
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