Histórias B

Como construir uma cultura ESG a partir da Agenda 2030

A Patrus Transportes está construindo uma cultura ESG baseada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030. Entenda os detalhes dessa história, que traz ideias e referências para outras empresas que querem seguir o mesmo caminho

A história da Patrus Transportes começou a ser escrita em 1973.

Naquele ano, Marum Patrus de Souza, o Dr. Marum, comprou um posto de gasolina e um caminhão para transportar combustível em Belo Horizonte (MG). Apesar de o posto ser o seu foco principal, logo Dr. Marum começou a receber demandas para transportar cargas de outros postos. O resto é história. O posto deu lugar a uma transportadora de carga fracionada, que atualmente atende tanto o mercado B2B como B2C. 

Hoje, sob o comando da segunda geração da família e perto de completar 50 anos de história, a Patrus Transportes tem 85 unidades, mais de três mil funcionários e atuação em estados do Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil.

Essa história poderia não ser diferente da trajetória de outras tantas empresas familiares fundadas por empreendedores visionários que começaram um pequeno negócio, construíram um legado e passaram o bastão para a próxima geração. A diferença é que o Dr. Marum sempre foi reconhecido por ser um filantropo atento especialmente a causas sociais. Após seu falecimento, em 2000, a empresa levou adiante seus ideais. Em 2008, o Instituto Marum Patrus (IMAP) foi criado para formalizar e expandir os projetos sociais da empresa.

Como resultado dessa visão, que começou de um desejo pessoal e foi sendo incorporada à empresa ao longo dos anos, a Patrus Transportes é hoje um case de empresa engajada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e de pioneirismo na temática ESG.

Para entender essa história e trazer ideias e referências para outras empresas, conversamos com Katia Rocha, Diretora de Gente, Gestão e ESG, e com Vinícius Braga, Gerente de Saúde, Segurança e Sustentabilidade da Patrus.

Uma cultura que se constrói a cada dia com práticas alinhadas ao discurso

O Dr. Marum tinha um viés social muito presente.Tinha um olhar para o colaborador e para a comunidade. Isso acabou trazendo o pilar da sustentabilidade para a empresa. Há quase 50 anos já havia uma consciência de atuar de forma justa, de ter licenças ambientais, reduzir consumo de água e energia. Era algo dele”, conta Vinicius.

Katia Rocha

Daí vem a  primeira lição para empresas interessadas em promover uma transformação cultural para se alinhar às demandas e necessidades de clientes, funcionários, investidores e sociedade:Não existe cultura implementada se não vier de cima para baixo. Se a alta gestão não assumir, nunca vai chegar no atendente, no operador, em quem quer que seja”, pontua Katia. 

Segundo ela, o sucesso da Patrus está baseado no fato de que a empresa não fica só no discurso. Existe uma coerência com a prática. “Dar o exemplo é o melhor exemplo. Nossa cultura está sendo implementada e é reforçada todo dia através do que acreditamos, do que falamos e do que fazemos. Não somos uma empresa B só para ter o selo”, ressalta a gestora ESG.

A Patrus despertou nossa atenção editorial inicialmente por seu Relatório de Sustentabilidade, um documento que apresenta as ações práticas ambientais e sociais que fazem parte da cultura da empresa.

Vinicius Braga

O Relatório é estruturado a partir dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e todos os Objetivos da Agenda 2030 são contemplados por uma ou várias ações. Temos uma matriz de materialidade e prioridade. Alguns ODS casam mais com nosso negócio, aí estudamos como a força da empresa pode nos ajudar a trabalhar em prol deles de forma mais efetiva”, resume Vinicius.

Vale dizer, no entanto, que no início desse trabalho, em 2016, quando foi criado o departamento de Saúde, Segurança e Sustentabilidade, comandado por Vinicius, a Patrus não planejava as ações a partir dos ODS. Era o oposto. 

O primeiro passo foi analisar o que já era feito pela empresa para entender de que forma cada ação ou projeto se relacionava com os ODS. “Algumas ações fazíamos sem pensar que eram de caráter social e ambiental, mas os ODS nos ajudaram a ter mais clareza. Hoje, olhamos para eles pensando em como podemos contribuir. Para que possamos gerar o Relatório de Sustentabilidade, precisamos ter uma base de dados. Então, começamos a acompanhar indicadores sociais, de saúde, segurança, benefícios e tudo que tem relação aos ODS. Nosso relatório é muito baseado nisso”, explica Katia.

A história da Patrus é importante porque mostra como uma empresa que não foi pensada para ser um negócio de impacto pode desenvolver uma cultura de impacto própria.

Em tempos em que se fala muito sobre ESG, a Patrus tem boas histórias e aprendizados para compartilhar com empresas, independente do segmento. “O que chama a atenção quando nos apresentamos como empresa B é que não fomos pensados como um negócio de impacto. Em 2016 foi criado o setor de sustentabilidade, fui o primeiro a ocupar a cadeira. Desde então temos galgado posições e evoluído”, conta Vinicius. 

Fonte: Relatório de Sustentabilidade 2020 – Patrus Transportes

Métricas, integração de setores e indicadores da Patrus

Desde que se certificou como empresa B, em 2018, a Patrus passou a implementar métricas para acompanhar seus avanços sociais, ambientais e de governança. “A própria certificação nos deu um escopo de métricas que precisávamos medir. Começamos a medir outras coisas que não olhávamos. Aprendemos que todas as áreas precisavam ter um controle próprio. Então, começamos a organizar indicadores que tenham envolvimento grande com a operação, principalmente nas questões ambientais”, explica a Diretora de Gente, Gestão e ESG.

Os indicadores ESG que a empresa monitora seguem as normas da Global Reporting Initiative (GRI), organização internacional independente que ajuda empresas a assumirem responsabilidade pelo seu impacto econômico, ambiental e social. Vinicius conta que os indicadores ESG são acompanhados com a mesma importância que os financeiros. Na matriz da Patrus há um painel de controle, monitorado em tempo real.

Entre os mais de 200 indicadores monitorados, estão: emissão de CO2, geração de resíduos, destinação dos resíduos, métricas de voluntariado e dos projetos sociais. “Vamos cada vez mais a fundo para ter uma ação mais coerente com o que o mundo pede. Além disso, a BIA (plataforma de certificação de empresas B) nos ajuda. O Sistema B gera um plano de ação que deve ser desenvolvido durante os dois anos que a certificação está em vigência. A premissa é estar hoje melhor do que ontem”, destaca o Gerente de Saúde, Segurança e Sustentabilidade.

Um ponto muito reforçado por ambos durante a entrevista foi a importância de envolver todas as áreas da empresa nessa jornada de transformação. “Se não houver adesão, não vai pra frente. Não é simplesmente medir por medir. Temos uma área de gestão que acompanha indicadores e conecta outras áreas. Todos contribuem para criarmos esse mapa. É bem metódico”, revela Katia. 

A Diretoria de Gente, Gestão e ESG da Patrus Transportes

Um dos grandes desafios que toda empresa enfrenta ao passar por uma transformação cultural ou uma jornada ESG é criar um processo estruturado e engajar as pessoas nas metas, causas e ações. 

A Movida, por exemplo, cuja história contamos aqui, percebeu um aumento no engajamento do time quando passou a destinar os recursos do seu projeto Carbon Free para um programa específico de reflorestamento das margens do rio Araguaia, comandado pela ONG Black Jaguar Foundation. Essa iniciativa é mais forte do que “apenas” plantar árvores para compensar as emissões dos aluguéis. O storytelling bem intencionado atrai, conecta e engaja.

Ainda que o caso da Patrus tenha a particularidade de a empresa ter um uma veia social histórica, os desafios estão sempre lá. Para lidar com eles, a empresa criou novos departamentos e incluiu o ESG no planejamento estratégico e na Missão. A criação de uma diretoria que tem ESG no nome mostra que isso é importante. Se você não cria essa identidade, as pessoas não entendem. E temos uma particularidade, a Patrus é muito regionalizada, tem gente em vários estados. Fazer isso chegar na ponta é um trabalho árduo. Nossa Comunicação tem que sempre ajudar a explicar, reforçar”, explica a gestora.

“Hoje, cada diretoria da Patrus tem uma responsabilidade no todo, algo que precisa entregar para que sejamos uma empresa referência no segmento de transporte no quesito sustentabilidade”, compartilha Katia.

Para tangibilizar as ações, a empresa disponibiliza cubos ODS nas filiais para o time identificar, reconhecer e entender onde estão os trabalhos, onde se enquadram. Também são realizadas dinâmicas, ações, oficinas e campanhas regulares. 

Vinicius destaca que um reforço fundamental para o engajamento é o fato de as ações sociais e ambientais desenvolvidas pela Patrus serem direcionadas à comunidade que cerca os funcionários. Tentamos contribuir onde conhecemos a realidade. E isso gera um engajamento grande, porque quando vamos fazer alguma ação, muitas vezes é uma instituição que muitos colaboradores conhecem. Inclusive, vários se voluntariam! Não precisamos fazer incentivos como dar um dia de folga, as pessoas se doam naturalmente. Afinal, como está dentro da comunidade dela, é possível ver o resultado”, conta.

Além disso, o fato de os colaboradores estarem envolvidos nos projetos desde a formulação estratégica também contribui para o engajamento. Os funcionários também trazem demandas para nós trabalharmos, o que gera um engajamento grande. Há uma consciência de que fazemos não só em prol da empresa, mas olhamos para o meio ambiente e social e as pessoas compram a ideia”, comemora o gestor.

ESG como ferramenta para atração e retenção de talentos e clientes

Já contamos aqui que um dos resultados indiretos que motiva muitas empresas a buscarem a certificações como a de empresa B e Great Place to Work e/ou a aderirem a uma gestão ESG é a atração e retenção de talentos. 

A Patrus, além dessas certificações, coleciona prêmios de sustentabilidade e de melhor fornecedor de empresas como Natura, Grupo Boticário, 3M, Alpargatas e outros, além de ser reconhecida por associações e revistas de negócios. 

Nesse contexto, quando se fala em prospecção e fidelização de clientes e colaboradores, a dinâmica acaba se tornando um ciclo virtuoso. Vinicius celebra que vários clientes valorizam o pioneirismo nas questões ambientais. “Temos clientes que exigem receber os números da geração de carbono do serviço que contratam porque têm a sua meta de redução e desenvolvemos ações em conjunto. E temos clientes que, por termos a informação, nos procuram para iniciar sua trajetória da sustentabilidade”, revela.

Os indicadores positivos da Patrus no Reclame Aqui, termômetro da fúria do consumidor, também sinalizam uma empresa com clientes satisfeitos. O mesmo acontece em sites de emprego – como o Glassdoor e InfoJobs, por exemplo. Ao que tudo indica, a certificação GPTW parece estar em dia. 

A empresa comprova os resultados de seus esforços além do core business quando registra um índice de turnover inferior a 3% e por ter em seu quadro de funcionários muitos profissionais com vários anos de casa. Cerca de 25% dos 3 mil colaboradores estão na empresa há mais de cinco anos. Além disso, somente entre janeiro e julho de 2021 foram feitas 300 movimentações internas entre promoções verticais e horizontais.

“Vejo como um diferencial da Patrus. Venho de outros segmentos em que isso não existia. O setor de transportes é um segmento que geralmente quem está na ponta cansa. A média do setor é as pessoas ficarem normalmente entre um e dois anos. Isso pra gente é muito positivo, porque quando se fala de cultura, facilita entender o resultado de nossos esforços”, conta Katia.

ESG na prática: os projetos da Patrus Transportes

Em seu Relatório de Sustentabilidade 2020, a Patrus apresenta 58 projetos ambientais, sociais e de governança que foram realizados no ano. Cada um deles tem relação direta com um ODS – e os 17 Objetivos são contemplados, como você pode ver na imagem acima.

Uma curiosidade é que um dos projetos realizados acaba servindo como fonte de informação para a Patrus entender onde precisa atuar. “Começamos a perceber que as ideias e demandas vinham e que precisávamos formatar de um jeito padrão. E aí criamos o Líder social. Por meio dele, capacitamos colaboradores para entenderem melhor qual é a necessidade da comunidade e trazerem a ideia de forma mais estruturada. Afinal, as demandas são infinitas, mas nossos recursos são finitos. Temos turmas de capacitação nas filiais. Os líderes visitam creches, lares de idosos e locais de vulnerabilidade. Essa parte assistencial ficou muito latente na pandemia. O líder social traz a demanda e nós estruturamos os projetos”, conta Katia.

Certa vez, um Líder Social revelou que funcionários precisavam de óculos. Essa demanda resultou em uma iniciativa muito efetiva: “Fizemos uma parceria com uma ótica, levando-a para a empresa. Os exames foram feitos em nossa própria sede e doamos a armação e os óculos. Era uma necessidade pontual, de uma unidade. Por isso a importância do Líder Social. Ele traz o que realmente é importante no momento e, com a força do instituto, conseguimos fazer parcerias para entregar”, explica.

Abaixo estão alguns exemplos que foram destacados por Katia Rocha.

Adoção da Santa Casa de BH

“Criamos um projeto chamado Abrace a Santa Casa. Estamos usando nossas redes, colaboradores e parceiros para convidar a doar. O IMAP vai dobrar o valor atingido”, conta. 

Projeto Na Marmita

“Este projeto começou com entregas de cestas básicas tanto para funcionários como para outras pessoas em vulnerabilidade. Fomos evoluindo e, por termos restaurantes em algumas sedes, começamos a preparar marmitas para entregas a pessoas em vulnerabilidade. Outras filiais passaram a fazer o mesmo. Porém, como nem todas tem essa estrutura, fizemos parcerias com restaurantes que ficam no entorno de nossas sedes. Vale lembrar que esse mercado passou a ter muita dificuldade com a pandemia. Doamos os recursos para o restaurante preparar as marmitas e voluntários entregaram. É um bom exemplo de economia circular”, destaca. 

Um dia IMAP para Reformar

Este projeto social promove a reforma de casas para famílias em situação de vulnerabilidade. A iniciativa busca transformar vidas, dignificar pessoas e promover o voluntariado. A seleção é feita por meio de edital e as propostas passam por um comitê responsável pela análise socioeconômica dos participantes e pela avaliação do vídeo descritivo do local para a reforma e da carta com a história de vida da família.

PSIU – Programa Social de Inclusão Unificado

O Programa Social de Inclusão Unificado foi desenvolvido para promover a inclusão de pessoas com deficiência (PCD) por meio do acompanhamento desses colaboradores e do suporte aos setores que os recebem na empresa. A Patrus Transportes mantém também uma parceria com o Centro de Atendimento e Inclusão Social (Cais), que fornece apoio com oficinas aos colaboradores com deficiência.

Jovem no Transporte

Este curso foi criado para promover a capacitação profissional de adolescentes (muitos em situação de vulnerabilidade social) na área de transporte rodoviário de carga. Com duração de 16 meses, oferece aos adolescentes a formação teórica e prática em transporte, administração de empresa no setor, bem como conteúdos voltados ao exercício da cidadania. O índice de aproveitamento é altíssimo, pois está sendo treinado e capacitado para trabalhar na própria Patrus – que, inclusive, oferece a oportunidade do primeiro emprego. 

Leia também:
Reaproveitamento do lixo eletrônico: causa ambiental com propósito social

Os próximos passos da Patrus

A conversa que tivemos com Katia e Vinicius deixou claro que a cultura ESG está enraizada na gestão, no discurso e nas práticas da transportadora. Ao fim do papo, perguntei sobre o que vem agora.

Eles destacaram que, recentemente, a Patrus assinou o Pacto Global e o NetZero 2030, se comprometendo a ser um agente de regeneração do planeta. Além disso, revelaram que, entre metas de fortalecer ações em andamento, se tornar carbono zero e ampliar a diversidade, o principal objetivo agora é o foco no “G” do ESG. “Estamos bem nos temas social e ambiental, falta dar um peso maior para a governança. Estamos na fase de auditorias internas, conselho, comitês. É algo que vamos dedicar tempo e energia no curto prazo. Mesmo não sendo uma empresa de capital aberto, precisamos desse acompanhamento”, finaliza Katia.

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Publicado por
João Guilherme Brotto

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