A crise do novo coronavírus pode levar 270 milhões de pessoas para a situação de insegurança alimentar, condição de quem não tem acesso a uma alimentação adequada e passa fome. Entenda melhor esse problema e conheça empresas que estão agindo para combater a fome durante a pandemia.
A pandemia de Covid-19 exacerbou tanto as desigualdades sociais que parece que estamos vivendo entre universos paralelos.
Ou seja, a crise do novo coronavírus tem um impacto direto na evolução do segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS): Fome Zero e Agricultura Sustentável. É sobre isso que falaremos neste artigo.
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Como a pandemia de Covid-19 impacta na erradicação da pobreza (ODS 1)
– Preocupar-se com a falta de dinheiro para comprar comida.
– Fazer as contas e saber que será preciso diminuir o número de refeições diárias para poder passar o mês – tendo que escolher, por exemplo, entre almoçar e jantar.
– Não ter certeza de quando será a próxima refeição.
– Não comer o suficiente por falta de comida ou de dinheiro para comprar insumos.
– Passar dias sem se alimentar por falta de dinheiro ou de acesso à comida.
Essa são algumas das situações enfrentadas por quem vive em insegurança alimentar.
Mesmo antes da pandemia, a fome e a insegurança alimentar já eram problemas graves. Segundo a Organização da Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO):
No entanto, a situação pode se agravar ainda mais.
Segundo a FAO, o número de pessoas sem acesso à alimentação pode chegar a 840 milhões (ou 10% da população global) em 2030. Isso se a tendência de crescimento da fome continuar no mesmo ritmo nos próximos anos…
Agora, regiões e pessoas que já enfrentavam essa dificuldade estão vivendo uma crise dupla, agravada pela expansão da Covid-19, que afeta não somente a renda da população e o acesso aos alimentos, como também a cadeia global de suprimentos.
“À medida que o número de infecções em países vulneráveis cresce – entre as populações que já estão desnutridas, fracas e vulneráveis a doenças – uma ‘crise dentro de uma crise’ pode surgir”, aponta Dominique Burgeon, diretor da Divisão de Emergência e Resiliência FAO.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, David Beasley, diretor executivo do World Food Programme (WFP), revelou que mais de 30 países em desenvolvimento podem ser atingidos por fome generalizada, sendo que em 10 desses países mais de 1 milhão de pessoas já estão à beira da fome.
Além disso, o WFP alertou que a pandemia de Covid-19 pode levar cerca de 270 milhões de pessoas para o estado de insegurança alimentar aguda este ano. Nesse cenário, até o final de 2020, o número de pessoas passando fome poderia chegar a mais de um bilhão!
A fome também é uma ameaça tão grande quanto o novo coronavírus, em nosso país.
No mundo todo, até 12 mil pessoas podem morrer de fome por dia no mundo até o final do ano devido à pandemia, segundo análises da ONG Oxfam. O Brasil está entre os prováveis epicentros globais da fome, juntamente com Índia e África do Sul.
De acordo com o relatório O Vírus da Fome: como o coronavírus está potencializando a fome em um mundo faminto, os níveis de fome vêm crescendo rapidamente no Brasil. A entidade salienta que milhões de pessoas que estavam conseguindo se alimentar razoavelmente bem a duras penas estão sendo empurradas para uma situação de fome pela pandemia.
Em um comunicado à imprensa, a Oxfam destacou que o crescimento acelerado da fome tem origem em um sistema alimentar que tem mantido milhões de pessoas em situação de fome em um planeta que produz alimentos mais que suficientes para todos.
“Um sistema que permitiu que as oito maiores empresas de alimentos e bebidas do mundo desembolsassem mais de US$ 18 bilhões para os seus acionistas desde o início de 2020, no mesmo momento em que a crise da Covid-19 se espalhava pelo mundo. Esse valor equivale a mais de 10 vezes o volume de recursos para assistência alimentar e agrícola solicitado no apelo da ONU por ajuda humanitária diante da pandemia”, aponta a ONG.
E falando em sistemas alimentares, no Brasil, onde grande parte dos alimentos vem da agricultura familiar, outra preocupação é garantir o bem-estar e a segurança dos pequenos produtores (também contemplados no ODS 2, quando se destaca a valorização da Agricultura Sustentável).
Uma pesquisa feita pelo Instituto Conexsus – Conexões Sustentáveis com 131 negócios comunitários revelou que 80% dos participantes não teriam condições financeiras de manter suas operações no segundo semestre.
“Em geral, associações e cooperativas que vendem os produtos da agricultura familiar e do extrativismo têm uma certa vulnerabilidade. Tanto que o mercado local, imediato, para a maioria deles, é a principal fonte de demanda. O fechamento das feiras impactou esses negócios imediatamente”, comenta Andrea Azevedo, do Instituto Conexsus, em entrevista ao site DW.
Os níveis elevados de desemprego e pobreza gerados pela crise da Covid-19 estão diretamente relacionados à propagação da fome e da insegurança alimentar. Afinal, especialmente em sociedades urbanas, a falta de renda automaticamente se traduz em falta de condições para comprar alimentos.
Para muitos cidadãos em vulnerabilidade, não existe alternativa justa: entre correr o risco de contrair Covid-19 e ter complicações que podem levar à morte e a certeza de que se não trabalhar, passará fome, muitos estão arriscando a vida para não faltar comida em casa.
Diante desse cenário cruel, governos ao redor do mundo estão tomando algumas medidas.
Globalmente, segundo o Fundo Monetário Internarional (FMI), o poder público já gastou cerca de US$ 11 trilhões em iniciativas para apoiar a economia. Contudo, a entidade destaca que ainda é preciso direcionar um esforço extra para ajudar os mais pobres, incluindo aumento do auxílio alimentar e da distribuição de renda.
No Brasil, o auxílio emergencial de R$ 600 é a principal política pública voltada a beneficiar desempregados, autônomos e trabalhadores informais. Contudo, há o desafio de fazer o dinheiro chegar a quem precisa. Afinal, mais de 5,5 milhões de brasileiros com renda de até meio salário mínimo, elegíveis para receber o benefício, não têm conta em banco ou acesso regular à internet, revelou pesquisa do Instituto Locomotiva…
“A crise do coronavírus tirou renda e jogou para a pobreza muita gente que tinha pouco, mas não era alvo de programas sociais. O vírus joga luz a problemas que já existiam, como a baixa renda dos informais, e acentua uma desigualdade histórica”, disse Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, em entrevista ao Estadão.
Mas não é só o poder público que pode agir para amenizar o impacto da pandemia no ODS 2 da Agenda 2030. Há muito que as empresas podem fazer neste sentido. Dentre as ações possíveis, destacamos, por exemplo:
A seguir, apresentamos alguns exemplos de negócios com iniciativas interessantes. Confira e inspire-se!
A Cooltivando é uma startup social que tem como propósito gerar renda para pequenos produtores e promover o desenvolvimento socioeconômico da agricultura familiar. Ela cumpre essa missão por meio de apoio à comercialização digital dos alimentos produzidos por pequenos agricultores.
A empresa criou uma plataforma digital que possibilita que os pequenos produtores vendam seus produtos online durante a pandemia. Dessa forma, tanto os trabalhadores quanto os consumidores evitam aglomerações em feiras e mercados. Assim, esse projeto ajuda os agricultores familiares a manterem suas rendas.
Além disso, a empresa também é apoiadora oficial da campanha Orgânico Solidário. Esse projeto visa arrecadar doações que são destinadas à compra de cestas básicas compostas por alimentos orgânicos produzidos por pequenos agricultores. Dessa maneira, tanto pessoas em insegurança alimentar recebem apoio por meio das cestas, quanto os agricultores familiares têm suas rendas garantidas.
A Enel, empresa de distribuição de energia em São Paulo (SP), doou 700 kits de verduras e legumes orgânicos a moradores de comunidades da Zona Sul de São Paulo. Todos os produtos doados foram produzidos em hortas localizadas nos terrenos da distribuidora. Essas hortas, aliás, integram o projeto Enel Compartilha Hortas em Rede, iniciativa da empresa em parceria com a ONG Cidades Sem Fome.
Os principais objetivos da iniciativa são:
A Goodr, uma empresa B certificada, é uma startup de Atlanta (EUA) que possui uma plataforma digital baseada em blockchain para rastrear alimentos excedentes e um serviço de recuperação de resíduos alimentares. Ou seja, a Goodr ajuda empresas de alimentação a reduzirem o desperdício e doa esses produtos a quem mais precisa. Na prática, além de ajudarem famílias em insegurança alimentar, as empresas que doam se beneficiam por meio da dedução de impostos.
Durante a pandemia, a empresa tem reforçado sua atuação criando estações pop-up espalhadas pela cidade para realizar a distribuição dos alimentos. Segundo Jasmine Crowe, fundadora da startup, antes da crise da Covid-19 a Goodr alimentava cerca de 10 famílias por semana. Agora, o reforço nas doações está possibilitando que a empresa distribua cestas para duas mil famílias semanalmente! Pois é, a união faz a força, mesmo!
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Empresas B: o que são e por que são tão importantes para o planeta
A rede de restaurantes Chipotle, originária dos Estados Unidos, lançou um mercado virtual para agricultores, permitindo que os produtores que são fornecedores da empresa lancem seus próprios sites de e-commerce.
A empresa realizou parceria com a Shopify para construir o site de cada fornecedor, incluindo a cobertura de taxas de hospedagem dos sites por dois anos e o apoio ao design e desenvolvimento das lojas online.
Por meio de mercados on-line individualizados, os fornecedores poderão vender carne, laticínios, grãos e outros itens diretamente aos consumidores de todo o país.
Por último, mas não menos importante, destacamos um Plano de Resposta Socioambiental aos impactos da pandemia de coronavírus na economia das cooperativas, associações e pequenos negócios da agricultura familiar sustentável e do extrativismo.
Essa é uma ação criada pela ONG Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus) em parceria com:
O objetivo do plano é salvaguardar e mitigar os impactos econômicos na saúde financeira dos negócios comunitários e sua base de produtores. O plano está dividido em três áreas:
Há um longo caminho a ser percorrido para garantir que até 2030 seja possível acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e promover a agricultura sustentável. Além disso, é inegável que todos os ODS sofreram/estão sofrendo com a crise gerada pelo novo coronavírus. Porém, iniciativas como as que apresentamos aqui (e nos demais artigos desta série) nos mostram que é possível unir forças e, um passo por vez, chegar mais perto de atingir os objetivos traçados pela ONU em 2015.
Que as histórias que apresentamos e as reflexões propostas o ajudem a encontrar formas de fazer a sua parte – seja individualmente, apoiando causas de combate à fome, ou por meio de ações empresariais focadas na diminuição da insegurança alimentar.
Juntos, vamos sempre mais longe!
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