Resíduos da fabricação de pranchas de surfe estão sendo transformados em blocos de construção por um escritório de arquitetura no Havaí que aposta na inovação local para enfrentar a crise habitacional
O Havaí vive uma crise habitacional persistente há décadas. Juros elevados, escassez de imóveis e custos excessivos formam uma combinação que dificulta o acesso à moradia. Para se ter uma ideia, em 2023, o preço médio de uma casa unifamiliar em Oahu, a ilha mais populosa do arquipélago (onde ficam a capital Honolulu e boa parte da atividade urbana e econômica do estado), ultrapassou US$ 1 milhão.
Além disso, apenas 4% das terras do Havaí são destinadas a residências, e as moradias multifamiliares são permitidas em apenas 0,3% do território estadual, o que restringe severamente a oferta. Também pesa no cenário o avanço dos aluguéis de temporada, que consomem de 2% a 15% do estoque habitacional, agravando ainda mais a crise.
Entre as iniciativas que que surgem como resposta a esse cenário, destaca-se o trabalho do escritório de arquitetura Hawaii Off Grid, que está construindo casas sustentáveis a partir de resíduos da fabricação de pranchas de surfe – um item abundante no estado, conhecido por suas ondas gigantes e surfistas renomados.
Como os resíduos do surfe são transformados em blocos de construção
Os resíduos de espuma de poliestireno (EPS) – como pranchas quebradas e sobras industriais – são coletados, triturados e integrados a uma mistura para formar blocos construtivos conhecidos como ICCF (Insulated Composite Concrete Form). Esses blocos, chamados comercialmente de surf blocks, são interligáveis, leves e oferecem isolamento térmico integrado, o que ajuda a manter os ambientes internos mais frescos no verão e mais quentes no inverno – reduzindo o consumo de energia.
Além disso, de acordo com os executivos da Hawaii Off Grid, os surf blocks são resistentes ao fogo, à umidade, a pragas como cupins e a eventos climáticos extremos, como tempestades e ventos fortes – características essenciais para regiões costeiras e sensíveis às mudanças climáticas, como o Havaí.
Do ponto de vista construtivo, os Surf Blocks também aceleram a montagem das estruturas, exigindo menos tempo de trabalho e menos materiais auxiliares. O objetivo da empresa é oferecer uma solução local, mais barata e de menor impacto ambiental, para um problema estrutural do estado.
Ou seja, a proposta ataca vários desafios simultaneamente: a crise crônica de moradia, o alto custo de materiais (em grande parte importados), a falta de espaço para aterros e o desperdício na indústria do surfe.
Da turbina à casa, passando pelo surfe
Essa história ganha ainda mais força quando colocada lado a lado com outra inovação que apresentamos aqui recentemente: a transformação de turbinas eólicas aposentadas em pranchas de surfe, desenvolvida pela ACCIONA em parceria com o surfista Josh Kerr.
Nessa cadeia circular improvável – da turbina à prancha, da prancha ao bloco – o que antes era fim se torna matéria-prima para novas soluções.
Os dois exemplos apontam para caminhos possíveis na gestão de resíduos e no enfrentamento simultâneo de crises ambientais e habitacionais, unindo tecnologia, adaptação local e reaproveitamento de materiais.
Informações: Honolulu Civil Beat
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