ODS

Quando a regeneração começa de dentro: o que são os IDG e como eles podem ajudar a mudar o mundo?

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Imagem: IDG Hub Florianópolis

Conheça o Inner Development Goals (IDG), movimento que oferece ferramentas que focam no crescimento interior e na mudança sistêmica para construir um mundo onde a regeneração está no centro das ações

Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

O documento traz 17 objetivos universais para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade. São os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, conhecidos como ODS.

Tais objetivos têm um propósito ambicioso: melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas, em todo o mundo, até 2030. Para isso, cada ODS indica uma série de metas que precisam ser cumpridas por cidadãos, empresas e governos ao redor do globo. 

Quase uma década depois do lançamento desse desafio global e a menos de seis anos do prazo estabelecido para o alcance dos ODS, como anda o progresso da Agenda 2030? 

Segundo o último relatório da ONU, apenas 16% das metas dos ODS estão no caminho certo para serem cumpridas globalmente até o final desta década, sendo que os 84% restantes mostram uma evolução limitada, ou até mesmo uma reversão do progresso. 

No último SDG Summit, o secretário-Geral da ONU, António Guterres, alertou que, no ritmo atual, os ODS não serão alcançados. Segundo ele, para a Agenda 2030 avançar é necessário aumentar o financiamento e o apoio aos países em desenvolvimento e promover mais investimentos nos ODS.

Além disso, Guterres disse que os líderes devem intensificar seu compromisso para reduzir a pobreza e a desigualdade, alinhando políticas e orçamentos aos ODS, enquanto fortalecem a confiança pública e envolvem a sociedade civil e o setor privado. 

Mas a verdade é que todos esses esforços demandam uma transformação profunda de comportamentos e mentalidade. O avanço dos ODS depende de mudanças importantes na maneira de entender e enxergar a noção de sucesso e desenvolvimento, aliando crescimento econômico com prosperidade social e ambiental. 

Ou seja, a Agenda 2030 só será alcançada por meio de uma transformação interna das lideranças globais, que impulsionará os movimentos necessários para tornar o mundo mais justo e sustentável.

E é aí que entram em cena os Inner Development Goals (IDG) – em português, Objetivos de Desenvolvimento Interno. 

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O que são os IDG?

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Foto de Yousef Espanioly na Unsplash

Inner Development Goals (IDG) é uma iniciativa sem fins lucrativos que tem o objetivo de promover o desenvolvimento humano para enfrentar desafios globais e que surgiu em Estocolmo (Suécia), em 2020.

Em entrevista para A Economia B, Laila Martins, Líder de Processos de Programas das Nações Unidas e do IDG na Alemanha, explicou que o IDG disponibiliza ferramentas que focam no crescimento interior e na mudança sistêmica para um mundo onde a regeneração está no centro das ações. 

A especialista em ecossistemas regenerativos detalha que os IDG servem como um roteiro para desenvolver habilidades internas que provocam mudanças externas, baseadas em pesquisas interdisciplinares. 

“Pesquisas apontam que se desenvolvermos habilidades como empatia e compaixão, nos tornamos mais aptos para trabalhar com sustentabilidade. Diversos estudos identificaram que precisamos de uma mudança nos valores humanos e nas capacidades internas para impulsionar soluções para desafios globais. Também é crucial aumentar habilidades coletivas para trabalhar em desafios complexos. E isso pode ser aprendido”, indica.

Na prática, o IDG oferece métodos e ferramentas para melhorar as capacidades das pessoas e comunidades, ajudando-as a enfrentar de maneira mais eficaz os desafios complexos do mundo atual. 

Lançado em 2021, o framework do IDG (que foi cocriado por mais de 1000 cientistas, especialistas e profissionais de RH, e disponibilizado em formato open source para o mundo) é estruturado em cinco dimensões de desenvolvimento humano e inclui 23 habilidades específicas que visam o crescimento tanto individual quanto coletivo: 

Imagem: Framework IDG

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O trabalho global do IDG

“O IDG não tenta ser mais uma ONG europeia levando soluções para o sul global. É uma ferramenta de engajamento local que aproveita sabedorias ancestrais e metodologias modernas”, explica Laila.

Ela conta que a instituição trabalha em diferentes frentes para ajudar a promover a capacitação dessas cinco dimensões internas, contando com líderes e capacitadores locais para amplificar o conhecimento. 

Um exemplo disso são os IDG Hubs, centros ou núcleos de atividades que funcionam como pontos de conexão e colaboração dentro de uma rede global. Os hubs podem ser físicos (espaços onde ocorrem atividades e encontros) ou virtuais (plataformas online que facilitam a interação e colaboração). 

Cada hub dentro dessa rede tem um líder local que facilita atividades relacionadas ao objetivo específico do hub, como liderança, educação, sustentabilidade, entre outros. Esses hubs servem como pontos de encontro para indivíduos e grupos interessados em promover mudanças positivas em suas comunidades e além. 

Em apenas três anos, foram criados quase 600 hubs em 80 países. Esses hubs promovem o desenvolvimento interno local e se tornaram um ecossistema de aprendizagem em constante evolução para uma comunidade que soma 35 mil pessoas.

Além disso, o IDG também atua por meio de Ecossistemas de Parcerias (públicas, acadêmicas e privadas), que criam uma rede colaborativa e de suporte para integrar os objetivos de desenvolvimento interior dentro das organizações. Os parceiros fazem parte de uma comunidade dinâmica e colaborativa, onde há compartilhamento de insights e melhores práticas.

Case ID-X – Hub IDG Florianópolis

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Imagem: IDG Hub Florianópolis

ID-X – Inner Development Goals Experience, um programa de capacitação desenvolvido pelo hub do IDG de Florianópolis (SC), é uma amostra de como os hubs podem atuar como multiplicadores das habilidades internas do framework do IDG.

Rafaela Rolim, consultora de Desenvolvimento Humano e Organizacional e uma das idealizadoras do hub da capital catarinense, conta que o ID-X é uma imersão baseada nos IDG, que visa apoiar indivíduos no caminho do autoconhecimento, evolução pessoal e liderança consciente. 

“Já tivemos duas turmas envolvendo líderes de indústrias, consultores ESG, pessoas de entidades públicas, terceiro setor; além disso, também concedemos bolsas para trabalhar inclusão de minorias. Nossa intenção foi criar uma imersão para que as pessoas conheçam melhor os IDG e mostrar como elas podem ajudar a disseminar a importância do desenvolvimento humano nos contextos onde atuam, indica. 

Ela ressalta que a proposta do ID-X é criar uma comunidade de pessoas alinhadas em propósito, que não apenas adquiram novas competências, mas que também se sintam parte de uma rede de transformação contínua.

Nós formamos polinizadores. Em nossas imersões, temos pessoas muito experientes na área de desenvolvimento humano, que atuam no departamento de pessoas de grandes empresas, mas que às vezes não têm essa linguagem. Então, com essa nova abordagem baseada nos IDG, elas conseguem trazer mais gente das empresas onde atuam para trabalhar a consciência para gerar um mundo mais sustentável, detalha Rafaela. 

Impacto do ID-X: mobilização de líderes para a criação de um mundo mais regenerativo

IDG ID-X
Imagem: IDG Hub Florianópolis

Rafaela conta que o ID-X repercutiu muito bem entre os participantes e também em toda a rede global do IDG. Por isso, o hub de Florianópolis frequentemente é citado como um exemplo de como engajar a comunidade local na prática. 

Citando um caso de mudança impulsionada pelo ID-X, a facilitadora do IDG conta que, após a imersão, quatro participantes de uma empresa ficaram muito impactados pela nova linguagem e pelos conceitos apresentados. Isso os levou a realizar uma pesquisa interna para repensar as competências de liderança dentro da organização. 

“A partir disso, desenvolveram um novo framework, uma estrutura de competências inspirada nos IDG, para realmente trabalhar mais a sustentabilidade dentro da organização. Vamos observar como isso vai reverberar ao longo do tempo, mas estamos muito felizes em ver que está acontecendo”, celebra. 

Leonardo Marques, psicólogo e consultor em Cultura Organizacional e cofundador e facilitador do hub IDG de Florianópolis, enfatiza que a linguagem clara e acessível dos IDG facilita a comunicação e a disseminação desses conceitos dentro das empresas e na sociedade em geral. 

Para ele, a abordagem prática e engajada do ID-X, que envolve eventos presenciais e atividades na natureza, contribui para que os participantes internalizem e apliquem os princípios dos IDG em suas vidas e carreiras.

“Acho que há uma questão importante: os IDG trazem uma linguagem que fura certas bolhas. Eu já estudei muitas metodologias colaborativas, como a Teoria U ou Dragon Dreaming, que trazem uma mensagem semelhante. Mas um diferencial do IDG é a linguagem mais simples, sem tantos termos místicos, e que acaba chegando ao ouvido das pessoas com uma mensagem mais direta”, acrescenta.

O facilitador do hub de Florianópolis frisa que desde o início a intenção do grupo era formar conexões fortes entre os participantes, promovendo trocas contínuas e projetos colaborativos voltados para a sustentabilidade e regeneração.

Para isso, foram criados grupos no WhatsApp para troca de conteúdos e ideias. Para expandir essa comunidade, o hub catarinense decidiu criar também encontros pontuais para debater temas emergentes.

“Daí nasceu o ID-X TALKS, lives quinzenais para discutir temas complexos com a perspectiva dos IDG, usando o desenvolvimento interno para encontrar soluções criativas. O primeiro encontro foi ao ar no início de julho, tratando de Liderança Regenerativa. Esse é nosso novo experimento para movimentar conteúdos na rede sobre o que acreditamos”, comemora.

Mudanças internas para transformação social 

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Foto de おにぎり na Unsplash

Laila esclarece que o IDG busca promover não apenas o desenvolvimento pessoal, mas também social, dentro de um coletivo. 

Temos todas as capacidades do sistema externo (instrumentos financeiros, tecnologia), mas falta o sistema interno. O IDG tem a missão de conectar e transformar sistemas, trabalhando em colaboração com múltiplos setores. Afinal, grandes mudanças acontecem quando isso é feito em cidades, grandes empresas, setores, estados ou países”, frisa. 

Nesse sentido, ela enfatiza que o IDG não apresenta algo revolucionário, mas uma coleção de conhecimentos de sabedoria e ciência.

De acordo com Laila, o alinhamento à Agenda 2030 ajuda a trazer isso para o dia a dia das pessoas e para as comunidades locais. 

“O que realmente impulsionou os IDG foi trazer as pessoas que desenharam os ODS, que possuem todo esse conhecimento, para nos ajudar a elaborar as habilidades fundamentais. Conectar os IDG com a Agenda 2030 cria um propósito central para todos nós. Isso não significa que eu preciso trabalhar diretamente com a ONU; posso olhar para questões como a fome na minha cidade, as mudanças climáticas e outras áreas onde podemos criar parcerias. O objetivo é ajudar as pessoas a aplicarem esses conceitos em suas próprias comunidades”, aponta.

Rafaela reforça a necessidade dessa revolução interna para a transformação de sistemas.

“Muito do que acontece fora é um reflexo do nosso ciclo interno, da velocidade das coisas e de como vivemos focados na produtividade, desconectados do ciclo natural. Essa dissociação faz com que não nos vejamos como parte da natureza, utilizando-a apenas como recurso para realizar nossos desejos, sem entender que somos parte de um ecossistema. Então, como podemos regenerar nossa forma de nos relacionar com a natureza, entendendo que somos natureza?”, reflete.

Por fim, Leonardo complementa dizendo que para provocar mudanças significativas, precisamos desafiar nossas crenças e os pressupostos, revisando valores e visões. 

“Egoísmo, ganância e apatia são algumas das grandes causas dos problemas que enfrentamos atualmente. Para superar esses desafios, precisamos de uma transformação interna e até espiritual, para criar novos sistemas a partir de modelos mentais, crenças e pressupostos diferentes, pondera. 

Materiais práticos do IDG:

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Francine Pereira

Jornalista, especializada em criação de conteúdo digital. Há mais de 10 anos escrevo sobre tendências de consumo, inovação, tecnologia, empreendedorismo, marketing e vendas. Minha missão aqui no A Economia B é contar histórias de empresas que estão ajudando a transformar o mundo em um lugar mais justo, igualitário e sustentável.

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