As medidas de prevenção contra a pandemia do novo coronavírus estão afetando o desenvolvimento social e educacional de crianças e jovens ao redor do globo. Saiba como a lacuna digital tem afetado estudantes em situação de vulnerabilidade. Além disso, conheça organizações que estão agindo para levar educação para quem mais precisa.
Este conteúdo faz parte da série Pandemia de Covid-19 e os ODS. Clique aqui e confira todos os artigos sobre o impacto dessa crise na Agenda 2030 já publicados.
No final de 2019, milhões de crianças e adolescentes ainda estavam fora das salas de aula. Além disso, mais da metade dos estudantes que frequentavam a escola não cumpriam os padrões mínimos de proficiência em leitura e matemática.
Até então, a previsão da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) era que, globalmente, um em cada seis cidadãos entre 6 e 17 anos ainda estivesse fora da escola em 2030. Ou seja, mesmo antes da propagação da Covid-19, o quarto objetivo da Agenda 2030 estava longe de ser alcançado…
No entanto, com a pandemia global, o cenário pode se agravar.
O fechamento temporário das escolas vem impactando a aprendizagem e o desenvolvimento social e comportamental de crianças e jovens ao redor do globo. A ONU alerta que isso está afetando mais de 90% da população estudantil do mundo (1,6 bilhão de crianças e jovens).
Porém, nem todos os estudantes são afetados da mesma maneira…
Em outras áreas já exploradas na série que trata dos impactos da pandemia nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), ficou claro que essa crise está evidenciando ainda mais as desigualdades sociais no Brasil e no mundo.
Da mesma forma, quando se trata do quarto ODS – que defende o acesso à educação de qualidade para todos –, também é possível perceber que a pandemia evidenciou ainda mais o contraste entre as realidades de estudantes de diferentes camadas da sociedade.
Neste artigo, vamos a fundo nessa questão e analisaremos:
Ao final, apresentaremos algumas instituições que estão agindo para ajudar a amenizar esse problema. Você vai conhecer empresas e ONGs que estão contribuindo para que estudantes de comunidades mais pobres tenham acesso a esse direito fundamental, mesmo durante a pandemia.
Quando as escolas tiveram que fechar, a resposta automática das instituições foi oferecer aulas remotas por meio de ferramentas online. Contudo, para muitos estudantes, essa não é uma opção viável. É o caso de crianças e adolescentes de comunidades vulneráveis. Afinal, aqueles que vivem em áreas remotas, em pobreza extrema ou em campos de refugiados, não têm acesso à internet ou mesmo computadores ou tablets.
As crianças da escola primária são as principais afetadas globalmente.
Estudantes dessa fase correspondem a quase 70% dos que estão fora da escola ao redor do mundo. Durante a pandemia, cerca de 60% das crianças que deveriam estar na escola primária deixaram de receber educação. Com isso, a ONU prevê que o nível de estudantes dessa fase fora da escola em 2020 deve retroceder aos mesmos indicadores de 1980.
Nos últimos anos, os índices de atendimento escolar a crianças e adolescentes apresentou melhoras no país. Porém, antes da pandemia, cerca de 1,9 milhões de brasileros com idade escolar ainda estavam fora das salas de aula.
Agora, a desigualdade no acesso às aulas remotas ameaça agravar esse cenário.
Veja alguns dados que comprovam o impacto da lacuna digital na educação no Brasil:
A mudança brusca nos métodos de ensino está afetando tanto alunos quanto professores que não estavam preparados para essa súbita transferência das aulas para o ambiente online.
Tanto é que, em um estudo feito com 33,6 mil estudantes no Brasil, 30% disseram já ter cogitado deixar a escola este ano. Entre os que planejam fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), 49% já pensaram em desistir de fazer a prova.
O relatório Juventudes e a Pandemia do Coronavírus, feito pelo Conselho Nacional da Juventude (Conjuve), identificou também que entre as principais dificuldades dos estudantes durante a pandemia estão:
Além disso, outra questão relevante identificada na pesquisa foi a diminuição de renda pessoal dos estudantes e de suas famílias – 49% relataram que a renda familiar diminuiu e 33% disseram que suas rendas próprias também caíram.
Todavia, a carga emocional também tem afetado diretamente os educadores. Uma pesquisa com 2.400 professores da educação básica apontou que:
Entre as razões que pesam na saúde mental dos professores estão a preocupação com a saúde própria e a dos familiares, além dos obstáculos que eles estão enfrentando nesse novo modelo de educação remota.
Aliás, 88% dos professores entrevistados disseram nunca ter dado aulas online antes da paralisação das escolas por conta da pandemia. Além disso, quase todos afirmaram que se sentem pouco ou nada preparados para essa atividade.
E ainda, somado a esses obstáculos, o estudo desenvolvido pelo Instituto Península também identificou que muitos professores estão tendo dificuldades porque precisam compartilhar seu computador com a família – o que atrapalha o desenvolvimento de suas atividades pedagógicas.
Diante desse cenário, surgem questionamentos sobre como o setor educacional poderá ser afetado no futuro.
De acordo com especialistas do Instituto Internacional de Planejamento Educacional (IIEP), essa crise impactará o financiamento à educação globalmente da seguinte maneira:
Nesse sentido, uma boa notícia é que, após cinco anos de debates intensos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que torna o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) permanente foi aprovada na Câmara de Deputados.
Agora, o projeto aguarda a votação no Senado para ser colocado em prática.
Até o fechamento desta matéria, a data prevista para a votação no Senado era 18 de agosto.
Criado em 2007, o Fundeb é formado por parcelas de impostos estaduais e municipais e recebe 10% de complementação da União. Esse é o principal mecanismo de financiamento da educação básica no país. Atualmente, a cada R$ 10 utilizados pelas redes públicas, R$ 4 vêm do Fundeb.
No entanto, o problema é que o fundo atual tem validade até o final deste ano. Se o novo Fundeb for aprovado, além de se tornar permanente, o governo federal passará a responder por 23% do total dos recursos desse fundo, que vai aumentar gradativamente durante seis anos. Ou seja, essa aprovação pode garantir o acesso à educação para milhares de jovens nos próximos anos.
Para se ter uma ideia, cada ponto porcentual a mais aprovado representará cerca de R$ 1,5 bilhão destinado para a educação. Isso permitirá atender mais 17 milhões de estudantes e reduzir as desigualdades nas redes públicas.
Esse aumento da participação do governo federal no Fundeb será ainda mais crucial no pós-pandemia. Afinal, por conta da recessão econômica gerada pela crise da Covid-19, a arrecadação de impostos (uma das principais fontes de receita do fundo) caiu significativamente no início deste ano, conforme análises do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Sendo assim, o financiamento do Fundeb também foi prejudicado.
É dever do poder público garantir a todos os cidadãos o acesso à educação de qualidade. No entanto, o poder privado também pode contribuir para essa causa.
As empresas que apresentamos a seguir são bons exemplos neste sentido. Elas estão agindo para amenizar os impactos da pandemia do quarto ODS e têm ajudado a expandir o acesso à educação em todas as camadas sociais. Inspire-se nessas histórias!
Em resposta aos impactos da pandemia na educação e no aprendizado em todo o mundo, a Ericsson se juntou à Coalizão de Educação Global liderada pela UNESCO e lançou o Ericsson Educate, um programa digital que oferece conteúdo de aprendizagem online focado em melhorar as habilidades digitais de alunos do ensino médio e de universidades.
Ao mesmo tempo, a empresa continua com o projeto Connect To Learn (sobre o qual falamos aqui). Por meio dessa iniciativa, a marca usa seus próprios serviços para impulsionar a educação, fornecendo bolsas de estudos e tecnologias da informação para escolas em áreas remotas e pobres do mundo.
Com programas que oferecem acesso à internet a estudantes em situações vulneráveis, doações de celulares e também oferecendo pacotes de dados acessíveis para escolas, a T-Mobile já vinha contribuindo para diminuir a divisão digital nos Estados Unidos.
Porém, para expandir sua contribuição, a empresa se uniu ao The 1 Million Project – projeto que visa ajudar um milhão de alunos que não têm acesso confiável à internet em casa, dando-lhes dispositivos móveis e acesso online de alta velocidade. Agora, o objetivo da T-Mobile é expandir ainda mais o programa, ajudando 10 milhões de estudantes.
A Plataforma Google For Education oferece acesso gratuito a diversos materiais informativos e treinamentos para professores sobre como manter os alunos envolvidos por meio do ensino a distância. Além de poderem utilizar ferramentas como chamadas em voz e vídeo, gestão de aprendizagem, apresentações e documentos online, os educadores têm acesso a uma série de tutoriais sobre como utilizar tais funcionalidades.
Além disso, recentemente, o Google lançou também Ensine em Casa, uma central de informações, dicas, treinamentos e ferramentas para ajudar os professores, as escolas e as famílias na educação remota.
Além de desenvolver programas próprios que visam impulsionar a evolução do acesso à educação, outra maneira de as empresas contribuírem com essa causa é por meio do apoio a instituições que atuam nessa área.
A seguir, conheça o trabalho de três ONGs que estão ajudando a levar mais educação para quem mais precisa nesse momento, ajudando a minimizar o impacto da pandemia no ODS 4.
Esta ONG criou um plano que garante acesso à internet para jovens da periferia durante a quarentena. A partir de doações mensais de R$ 49,90, pessoas e empresas podem patrocinar uma bolsa digital, que vai fornecer 6GB de internet para estudantes em vulnerabilidade continuarem estudando. Além disso, a bolsa também inclui acesso a um aplicativo com aulas nas áreas de formação emocional, reforço escolar, preparação para o ENEM, cultura e apoio ao microempreendedor.
Esse projeto tem o intuito de ajudar a diminuir a divisão digital entre crianças e adolescentes de todo o Brasil. A plataforma online conecta estudantes que não possuem computador para estudar a pessoas e empresas que têm aparelhos sobrando em casa e gostariam de doar. Além disso, a Plug também aceita doações em dinheiro para a compra de equipamentos.
Em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), o Instituto Ayrton Senna lançou um programa de formação de competências socioemocionais para contextos de crise. O projeto visa capacitar famílias e educadores a desenvolverem habilidades socioemocionais na educação durante a crise da Covid-19.
O programa ensina habilidades como persistência, assertividade, empatia, autoconfiança, tolerância a frustração, entre outras. Tais competências podem melhorar o aprendizado dos alunos e ser ferramentas importantes para lidar com a pandemia.
Sabemos que as notícias durante a pandemia não são as melhores. Sendo assim, o quarto objetivo da Agenda 2030 de assegurar a educação de qualidade para todos até o final da década pode parecer utopia. Certamente ainda há um longo caminho pela frente, cheio de desafios e obstáculos que precisam ser superados.
É inegável que este e vários outros ODS sofreram/estão sofrendo com a crise gerada pelo novo coronavírus. Porém, iniciativas como as que apresentamos aqui (e nos demais artigos desta série) mostram que é possível unir forças e, um passo por vez, chegar mais perto de atingir os objetivos traçados pela ONU.
Por fim, queremos que as histórias apresentadas e as reflexões propostas por aqui o ajudem a encontrar formas de fazer a sua parte – seja individualmente, apoiando causas que levam mais educação a quem precisa, ou por meio de ações empresariais focadas nessa causa.
Juntos vamos sempre mais longe! 🌎💕
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