Estudo conduzido pelo Instituto Mais Diversidade em parceria com a Human Rights Campaign Foundation (HRC) e o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+ reconhece 38 organizações por seus esforços para promover igualdade e diversidade dentro de suas equipes e aponta caminhos para outras empresas que também querem ser aliadas da comunidade LGBTI+
O mês do orgulho LGBTI+ costuma ser colorido no mercado corporativo. Infelizmente, porém, esse não é um fato tão positivo quanto poderia, é apenas uma prova de que departamentos de marketing estão cada vez mais cientes de que é importante mostrar que suas empresas são diversas, inclusivas e aliadas da comunidade LGBTI+.
O uso do verbo mostrar foi proposital, claro. Afinal, na prática, muitas vezes o que se vê ao longo de junho é uma exibição de rainbow washing – que vai desde a simples troca do avatar da marca nas redes sociais por um arco-íris, até o convite para alguém que faz parte da comunidade falar sobre sua experiência aos colaboradores da empresa em troca de… nada (ou, melhor, de visibilidade).
E essa não é uma percepção pessoal; 57,6% dos entrevistados de um levantamento realizado pela plataforma de RH Infojobs e publicado pelo g1 consideram que, de uma maneira geral, as iniciativas de diversidade e inclusão parecem “discurso de marketing”. Apenas 7,6% acreditam na motivação genuína das empresas.
Por outro lado, 67,3% dos participantes da mesma pesquisa afirmam que já sofreram algum tipo de preconceito durante os processos seletivos por conta de sua identidade de gênero ou orientação sexual; e quase 95% acreditam que existam “preconceitos velados” dentro da empresa em que atuam como barreiras para o crescimento profissional.
É claro que “nem toda empresa”, mas é inegável que a quantidade de iniciativas para cumprir tabela ainda é enorme. Por isso mesmo, é importante reconhecer e destacar ações que de fato contribuem para a inclusão efetiva da população LGBTI+ no mercado de trabalho.
Até porque, como destaca Zeid Ra’ad Al Hussei, alto comissário de Direitos Humanos da ONU, “se quisermos alcançar um progresso global mais rápido rumo à igualdade para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, pessoas trans e intersexo, o setor privado não apenas terá de cumprir com suas responsabilidades de direitos humanos, mas também de tornar-se um agente ativo de mudança”.
Saiba mais A ONU desenvolveu um relatório em que lista Padrões de Conduta para apoiar a comunidade empresarial no enfrentamento à discriminação contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis, pessoas trans e intersexo. Confira! |
Índice de Equidade no Brasil em 2022
Desde 2002, a Human Rights Campaign (HRC) aplica o Índice de Igualdade de Melhores Lugares para Trabalhar nos Estados Unidos. Em 2016, expandiu sua atuação para apoiar a inclusão de pessoas LGBTI+ na América Latina. Este ano, pela primeira vez, a pesquisa foi aplicada no Brasil.
Das 60 empresas que participaram do levantamento, 38 receberam a nota máxima (100) no Índice de Melhores Lugares para Pessoas LGBTI+ Trabalharem. As outras 22 obtiveram notas entre zero e 90 e não tiveram seus nomes revelados.
A metodologia levou em conta cinco pilares:
- Políticas e documentos institucionais de não discriminação;
- Governança em Diversidade e Inclusão;
- Educação para a diversidade LGBTI+;
- Compromissos Públicos;
- Monitoramento da inclusão LGBTIA+.
Destaques da pesquisa
Como indica Keisha Williams, Diretora do Programa de Igualdade no Trabalho, da Human Rights Campaign Foundation, o programa HRC Equidade BR fornece uma ferramenta de benchmarking baseada em pesquisa, que avalia a igualdade e a inclusão LGBTI+ no local de trabalho entre os empregadores no Brasil.
“Revisamos a adoção de políticas de não discriminação no local de trabalho, a criação de grupos de recursos de funcionários ou conselhos de Diversidade e Inclusão, analisamos a oferta de treinamento e a participação em atividades públicas de apoio à inclusão LGBTI+”, conta.
Ou seja, além de reconhecer empresas que já fazem um bom trabalho, ao compartilhar as melhores práticas para a inclusão de pessoas LGBTI+ no mercado de trabalho, a pesquisa aponta caminhos para as organizações que ainda estão no início dessa jornada, mas que entendem a importância de se engajar nessa causa.
Na apresentação abaixo, destacamos algumas das principais descobertas que contribuem para uma melhor compreensão do que é ser uma boa empresa para profissionais LGBTI+. Você pode ler o estudo na íntegra – e conhecer as organizações que receberam o selo de melhores empresas para pessoas LGBTI+ – aqui.
10 compromissos com a promoção dos direitos LGBTI+
Um dos pilares da avaliação deste selo foi a realização de compromissos públicos com a comunidade LGBTI+.
Neste sentido, 72% das empresas participantes e 82% das empresas reconhecidas são signatárias do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+. Além disso, a maioria relatou ter assumido os 10 compromissos propostos pela organização.
Os compromissos expressam o entendimento sobre o papel das empresas, oferecem uma agenda de trabalho para todos e qualificam a demanda no relacionamento com o Estado e a Sociedade Civil. São eles:
- Comprometer-se, presidência e executivos, com o respeito e com a promoção dos direitos LGBTI+
- Promover igualdade de oportunidades e tratamento justo às pessoas LGBTI+
- Promover ambiente respeitoso, seguro e saudável para as pessoas LGBTI+
- Sensibilizar e educar para o respeito aos direitos LGBTI+
- Estimular e apoiar a criação de grupos de afinidade LGBTI+
- Promover o respeito aos direitos LGBTI+ na comunicação e marketing
- Promover o respeito aos direitos LGBTI+ no planejamento de produtos, serviços e atendimento aos clientes
- Apoiar ações em prol dos direitos LGBTI+ na comunidade
- Promover ações de desenvolvimento profissional de pessoas do segmento LGBTI+
- Promover o desenvolvimento econômico e social das pessoas LGBTI+ na cadeia de valor
Confira a descrição completa de cada um dos compromissos.
Benefícios oferecidos pelas melhores empresas para pessoas LGBTI+
Por fim, a pesquisa destaca alguns dos benefícios oferecidos pelas melhores empresas para pessoas LGBTI+:
- Plano de saúde para as pessoas parceiras de seus colaboradores, independente do gênero e sexualidade;
- Serviços psicológicos e a garantia do nome social para as pessoas trans que ainda não possuem seus documentos retificados;
- Reembolso de medicamentos para pessoas trans, para a realização de cirurgias de resignação sexual e licença durante este processo;
- Suporte psicológico e jurídico para retificação de documentos.
- Maior período de licença-maternidade e licença-paternidade do que é garantido legalmente.
- Utilização do termo licença parental, o que também inclui adoção, e se estende para casais homoafetivos, além da pessoa gestacional ou não quando for o caso;
- Programa de Gestantes cujo objetivo é acolher famílias na nova jornada de receber um bebê, com um olhar para o bem-estar e acompanhamento da pessoa gestante, para que possa conciliar a vida profissional, familiar e pessoal.
Em uma entrevista à nossa equipe, Greta Paz, CEO da Eyxo, agência de comunicação que é uma empresa B Certificada que tem buscado efetivamente ser uma empresa mais diversa e inclusive, disse:
“Precisamos ter uma escuta muito ativa para entender qual é o nosso papel nessa temática e em que estágio de maturidade estamos. Não é sobre simplesmente abrir uma vaga para pessoas trans e achar que a empresa está fazendo a sua parte, por exemplo. É sobre criar ambientes realmente diversos e inclusivos. Precisamos atrair e reter estes talentos”.
Que essa seja a tônica de qualquer iniciativa pensada para pessoas LGBTI+ e de quaisquer outros grupos minoritários. O caminho para diminuir o rainbow washing e de fato se tornar uma empresa inclusiva e diversa passa por aí.
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