Entenda o impacto do lixo plástico no planeta, conheça soluções que ajudam a enfrentar esse problema e encontre caminhos para se engajar individualmente ou corporativamente nessa luta
Você sabia que a humanidade produz 300 milhões de toneladas de lixo plástico por ano e que isso equivale quase ao peso total da população? Desse total, 11 milhões de toneladas vão parar nos oceanos – volume que seria capaz de encher um caminhão de lixo por minuto!
O relatório que traz esses dados (Da Poluição à Solução: Uma Análise Global sobre Lixo Marinho e Poluição Plástica, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) revela ainda que, sem uma ação urgente, a quantidade de plástico que chega aos oceanos anualmente poderá triplicar nas próximas décadas.
Ou seja, até 2040, entre 23 e 37 milhões de toneladas de plástico podem escoar para os oceanos todos os anos. Isso equivale a 50kg de plástico por metro de litoral em todo o mundo.
E esse não é um problema restrito a um ou outro país.
Um estudo realizado pelo Instituto de Oceanografia da USP revelou que quase um terço de todo o plástico consumido no Brasil anualmente (cerca de 3,5 milhões de toneladas) tem grandes chances de parar no oceano – 67% desse total chegam ao mar pelos rios.
Além disso, a pesquisa, que foi encomendada pelo Blue Keepers (projeto ligado à Plataforma de Ação pela Água e Oceano do Pacto Global da ONU no Brasil), também apontou que cada brasileiro pode ser responsável por poluir os mares com 16kg de plásticos por ano.
Os efeitos disso são devastadores em diversos aspectos.
O estudo Da Poluição à Solução explica, por exemplo, que todas as espécies marinhas enfrentam riscos de envenenamento, distúrbios comportamentais, fome e asfixia pelo lixo plástico. E ainda, corais, mangues e ervas marinhas também são sufocados por detritos plásticos que os impedem de receber oxigênio e luz.
Como se não bastasse o prejuízo à vida marinha, o corpo humano também é vulnerável à contaminação por resíduos plásticos em fontes de água. “Os plásticos são ingeridos através de frutos do mar, bebidas e até mesmo sal comum, mas também penetram na pele e podem ser inalados quando suspensos no ar”, explicam os pesquisadores, que também revelam que esses resíduos podem causar alterações hormonais, distúrbios de desenvolvimento, anormalidades reprodutivas e câncer.
Por fim, o levantamento lembra que o lixo marinho e a poluição plástica também afetam a economia global. “Os custos da poluição plástica no turismo, pesca, aquicultura e outras atividades, como a limpeza, foram estimados em US$ 6-19 bilhões em 2018. E projeta-se que até 2040 poderá haver um risco financeiro anual de US$ 100 bilhões para as empresas se os governos exigirem que elas cubram os custos da gestão de resíduos nos volumes previstos”.
Um grande problema não se resolve com uma única solução
De acordo com o estudo Quebrando a Onda de Plástico, uma análise global sobre como mudar a trajetória dos resíduos plásticos, é possível reduzir a quantidade de plástico que vai para os oceanos em cerca de 80% nas próximas duas décadas utilizando tecnologias e soluções que já existem.
Os pesquisadores que assinam o levantamento destacam que, para isso, é necessário:
- Reduzir o crescimento da produção e do consumo de plástico;
- Aumentar o índice de reciclagem deste material;
- Substituir plástico por materiais mais sustentáveis;
- Projetar produtos e embalagens preparados para reciclagem;
- Melhorar as práticas de reciclagem;
- Reduzir a exportação de lixo plástico;
- Ampliar as taxas de coleta de lixo – principalmente em países de média e baixa renda.
Ou seja, esse é um desafio que exige esforços do setor público, do setor privado e da sociedade civil para ser superado. Até porque todos são parte do problema.
3 iniciativas que ajudam a enfrentar o problema do lixo plástico
Setor privado contra o lixo plástico: Algramo e a revolução do refil
A pesquisa “O futuro dos modelos de consumo reutilizáveis”, apresentada pelo Fórum Econômico Mundial em 2021, aponta que a reutilização de 10% dos produtos feitos de plásticos reduziria em até 50% a quantidade de lixo plástico que chega aos oceanos.
O trabalho da startup chilena Algramo é um bom exemplo de como isso pode ser feito.
A Algramo, que é uma empresa B certificada, vende produtos de limpeza, alimentos e cuidados com pets em embalagens reutilizáveis, que podem ser reabastecidas inúmeras vezes. Há, por exemplo, quem tenha reabastecido uma embalagem de detergente 15 vezes, economizando dois quilos de plástico em cada processo.
Funciona assim: o cliente encomenda os produtos que deseja por meio de um app, paga apenas pelo conteúdo (não pela embalagem) e recebe em casa.
Presente atualmente em quatro países (Chile, Estados Unidos, Indonésia e Reino Unido), desde 2013 a Algramo reaproveitou quase 700 mil embalagens, evitou a emissão de 225.453 gramas de CO2 e economizou 2.541.038 litros de água. Inclusive, só em 2021, mais de 30 toneladas de plástico foram reaproveitadas pela empresa.
Agora imagine se esse modelo fosse replicado por empresas do mundo todo…
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Poder público: Liubliana e a missão de se tornar “lixo zero”
Atualmente, Liubliana (capital da Eslovênia) recicla 68% do lixo gerado por seus moradores. Até 2025, o objetivo é reciclar pelo menos 78% do total gerado.
Mas não pense que esse objetivo será facilmente atingido porque há muito tempo os eslovenos se conscientizaram sobre a importância da reciclagem. Há pouco mais de duas décadas, quase todo o lixo produzido na cidade ia para aterros.
A gestão de resíduos passou a ser levada a sério por lá em 2002. Naquele ano, a prefeitura instalou lixeiras especiais para coleta de papel, vidro e embalagens, e iniciou um trabalho de educação sobre o tema. Ainda assim, até 2008, a cidade reciclava apenas 29,3% do seu lixo.
Porém, aos poucos, o cenário começou a mudar. Ciente da evolução neste tema, em 2014 Liubliana se tornou a primeira cidade europeia a assumir o compromisso de se tornar “lixo zero”. O prazo para atingir essa meta está logo aí: 2035.
Uma das principais ferramentas utilizadas para Liubliana avançar em suas metas ousadas atende pelo nome de Centro Regional de Gestão de Resíduos (RCERO).
Aberto em 2016, o RCERO atualmente é responsável pelo processamento de quase um terço do lixo orgânico e misto da Eslovênia.
Lá, o lixo orgânico é transformado em composto, enquanto converte os restos de resíduos em combustível. Por ano, o RCERO produz 7 mil toneladas de composto – grande parte de alta qualidade – e aproximadamente 60 mil toneladas de combustível.
Em entrevista à CTGN, Zoran Jankovic, prefeito da cidade, disse que o sucesso de Liubliana na gestão do lixo pode ser atribuído à uma mudança cultural que foi possível por causa da implementação de programas educacionais. “Nós começamos educando as crianças nas escolas. Definimos prêmios para a separação de resíduos e eu lembro como foi legal quando uma criança da educação infantil ganhou o primeiro prêmio. Então, aquelas crianças passaram a falar para as suas famílias: ‘tomem cuidado com a forma como vocês separam nossos resíduos’. Foi um grande passo”, revelou.
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Sociedade civil: julho sem plástico
No âmbito individual, é possível adotar diversas ações no dia a dia para gerar menos lixo plástico. Algumas simples – como trocar as sacolinhas do supermercado por ecobags, por exemplo –, outras um pouco mais difíceis – como produzir seus próprios produtos de higiene.
Desde 2011, o movimento “Julho sem plástico” incentiva as pessoas a aproveitarem o sétimo mês do ano para buscar maneiras de reduzir o consumo de plásticos descartáveis e de uso único, e, assim, serem parte da solução para a poluição plástica.
O desafio proposto pelos organizadores da campanha pode ser um ótimo primeiro passo para você encontrar o seu caminho para se engajar individualmente nessa luta:
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