Especialistas debatem o papel da liderança regenerativa no contexto atual, os desafios e as oportunidades em gestão de pessoas e práticas atualizadas de mensuração de impacto
“Um negócio regenerativo tende a deixar o lugar onde atua melhor do que encontrou. Ou seja, gera um saldo positivo na perspectiva de regeneração da terra, de geração de bem-estar social e, obviamente, na perspectiva de prosperidade econômica para aquele negócio.”
Foi com essa reflexão que Bruna Rezende, fundadora e CEO da IRIS, consultoria de inovação com foco em negócios regenerativos, abriu o painel A Gestão Regenerativa no Brasil – Como desenvolver lideranças regenerativas e mensurar o impacto social e ambiental, que aconteceu no dia 20 de junho, em São Paulo.
Promovido pelo Hub ESG Learning Village (joint venture da HSM e da SingularityU Brazil) com a curadoria da IRIS e, nessa edição, em parceria com o Instituto Capitalismo Consciente Brasil, o encontro reuniu especialistas para debater temas como:
A seguir, apresentamos alguns destaques do evento, aprofundando o conceito de liderança regenerativa e compartilhando caminhos para transformar o mercado com foco em gerar valor socioambiental.
Agravamento das mudanças climáticas, expansão da perda da biodiversidade e aumento da poluição. Esses são os três fatores que compõem o que Bruna chamou de ‘ebulição tripla do planeta’. Além disso, ela lembrou que as transformações significativas no mercado de trabalho estão gerando uma crise de saúde mental nos profissionais.
Segundo a economista, tudo isso leva as empresas a fazerem um grande esforço para adotar a agenda ESG. Contudo, “falta foco e clareza nas organizações nesse sentido”, alerta.
A pesquisa Board scorecard: a atuação dos conselhos frente aos impactos climáticos e à estratégia net zero, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), traz dados que reforçam isso:
“Esses dados nos mostram que a liderança não está preparada para lidar com essas mudanças – nem da perspectiva de estratégia, nem de prioridade, nem de gestão. Isso comprova que existe uma dor nas organizações, que é a falta de uma liderança com uma visão sistêmica, que esteja preparada para atuar frente às mudanças climáticas e sociais, enquanto precisam manter a rota de crescimento e prosperidade”, analisa.
Segundo Bruna, para lidar com todas essas crises e movimentações, os líderes precisam adotar uma visão menos individualista e mais conectada com os ecossistemas.
“Desde a infância, nossa educação foi orientada por um pensamento mecanicista, que nos desconecta e nos faz ver tudo ao nosso redor como recurso. Isso faz com que não nos enxerguemos como parte da natureza. É preciso integrar essas visões para a era da regeneração, ou reconexão”, reflete.
Ela destaca que a liderança regenerativa tem o papel de formar uma nova visão de mundo que entenda a interconexão dos sistemas vivos.
Com foco nessa reconexão, Bruna indica que é importante que os executivos desenvolvam algumas habilidades que são fundamentais para a liderança regenerativa, tais como:
Por fim, ela comenta que promover uma liderança regenerativa significa também levar em conta alguns princípios fundamentais da vida, que devem orientar estratégias e decisões.
“Precisamos cultivar princípios e modelos mentais que sejam adequados para trabalhar num sistema que é vivo. Para isso, é crucial cultivar essa nova mentalidade, compreender que somos humanos como natureza, assumir um novo papel profissional. Também precisamos deixar de produzir coisas para produzir projetos vivos ao longo do tempo. Temos que entender que nós coevoluímos com as pessoas e com o território, porque, no fim do dia, a liderança regenerativa tem o papel de deixar melhor o lugar que ela encontrou”, frisa.
Durante o debate sobre como as empresas podem adotar a liderança regenerativa, diversos especialistas deram suas visões sobre o que é necessário para essa transformação.
Poliana Reis, diretora de Conteúdo da HSM e da SingularityU Brazil, destaca que capacitar os líderes é um desafio para o avanço da liderança regenerativa nas organizações.
Ela enfatizou a importância de se trabalhar um propósito compartilhado na liderança regenerativa, contrapondo o foco excessivo no propósito individual.
“Nós viemos de uma lógica que o resultado é sempre para o acionista, não existe essa ideia de valor compartilhado, de propósito coletivo. Então, precisamos quebrar muitos desses paradigmas. E eu fico muito feliz de estar na área de educação porque, por mais que seja desafiador, eu olho tudo isso com otimismo. Tenho visto uma crescente procura de líderes querendo mudar esse status quo, querendo olhar para essa agenda mais regenerativa”, comenta.
Ricardo Glass, fundador e CEO da Okena, concorda que o caminho para a liderança regenerativa passa por considerar o impacto socioambiental gerado pela empresa.
“Eu acho que tem uma coisa que nós não podemos perder de vista jamais como líderes, que é o foco na criação de valor. E a criação de valor se dá tanto para organização, quanto para as pessoas que você está liderando e para a sociedade como um todo. Porque não podemos focar apenas em nós mesmos e desconsiderar essa interdependência global. Quando você se propõe a ser um líder consciente, tem que gerar valor para a sociedade de uma forma bem abrangente, conectando-se com o zeitgeist, com o que está acontecendo no mundo”, reflete.
Poliana destaca ainda que outra questão que precisa ser trabalhada na educação para a liderança regenerativa é olhar essa agenda para além do meio ambiente.
“Precisamos regenerar o meio ambiente, mas as pessoas e as organizações também, com culturas menos tóxicas, com pessoas que conversam mais, que tenham mais segurança psicológica. E ainda, quando falamos de regeneração, temos que olhar para a exponencialidade também. Os negócios têm que crescer, mas em que sentido? Queremos tecnologia para expandir o quê?”, reflete.
Ricardo concorda e complementa dizendo que os líderes regenerativos devem se preocupar com o estado mental e emocional dos profissionais. “O líder tem que mandar as pessoas para casa saudáveis, seguras e, mais importante de tudo, realizadas. Para isso, precisa entender o que é realização para cada membro do time”, reforça.
Nessa linha, Aline Mello, gerente sênior da Heineken, conta que a empresa passou a se preocupar com o bem-estar das pessoas e decidiu implementar uma área específica focada na felicidade.
“Com base em estudos que comprovam a importância desse fator, optamos por trazer a ciência da felicidade na nossa jornada através do treinamento da liderança. Além disso, entendemos que só conseguiríamos aplicar isso, de fato, em um ambiente com segurança psicológica. Então, nossos pilares são: ciência da felicidade, segurança psicológica e psicologia positiva”, detalha.
Para medir a eficácia dessa estratégia, a Heineken realiza uma pesquisa quinzenal que avalia os níveis de felicidade em diferentes times. Esse levantamento fornece insights aos líderes sobre o estado emocional das equipes, facilitando diálogos abertos e a implementação de ações para melhorar o clima organizacional e a satisfação dos colaboradores.
“Isso facilita a conversa e o líder pode entender como está sua equipe. Se, por exemplo, tem menos emoções positivas, o que está acontecendo? Precisamos conversar sobre isso. Como podemos colocar mais emoções positivas no nosso dia?”, indica.
Outro ponto relevante levantado pelos painelistas foi o fato de que para a liderança regenerativa acontecer é preciso mudar as expectativas em relação ao tempo de retorno das ações.
Poliana salientou que o conceito de liderança regenerativa está diretamente associado à noção de legado, de resultados duradouros, e que os líderes têm um papel fundamental de estabelecer uma visão de longo prazo.
Neste sentido, foi enfatizada a necessidade de não apenas discutir, mas também implementar práticas que promovam uma visão de longo prazo na liderança corporativa – como atrelar metas de impacto à remuneração dos executivos.
“A liderança precisa pensar em métricas e até na remuneração atrelada ao pensamento de longo prazo. Porque às vezes estamos nesse discurso de que tudo isso tem que acontecer, mas ainda continuamos mensurando o resultado com base no curto prazo. Eu brinco que temos que sair do ‘ego’ para o ‘legado’”, comenta.
Para tratar de questões relacionadas a métricas de impacto e prazos de avaliação, Andreza Souza, senior partner da Valuing Impact, trouxe alguns conceitos bastante relevantes, começando pelos benefícios da avaliação de impacto:
Medir impactos permite à organização alinhar melhor sua estratégia com os riscos e benefícios identificados de maneira mais objetiva e científica, indo além da percepção subjetiva e tradicional da materialidade.
Permite entender como os direcionadores de valor financeiro e social se complementam, ajudando a identificar as alavancas que geram valor social enquanto impulsionam estratégias de negócio.
A mensuração de impacto auxilia no processo decisório, especialmente em investimentos voltados para inovação e desenvolvimento humano.
Ajuda a identificar quais iniciativas geram retorno social sobre investimento mais alto, permitindo a alocação eficiente de recursos escassos e a priorização de estratégias que possam ser escaladas. Também permite evitar investimentos com retorno social negativo, indicando a necessidade de realocar recursos para iniciativas mais eficazes.
Além disso, Andreza esclareceu que a jornada de avaliação de impacto segue este fluxo:
Ou seja, para começar a mensurar o impacto das atividades, é importante focar nas atividades realizadas, pois são elas que produzem resultados concretos. Em seguida, devem ser avaliados os resultados quantitativos dessas atividades, identificando os principais impulsionadores de impacto, também conhecidos como drivers de impacto.
Ela indica que em relatórios de sustentabilidade e anuais, organizações frequentemente destacam dados como o número de beneficiários alcançados, horas de treinamento oferecidas e a renda gerada como indicadores de impacto. No entanto, “esses dados por si só não revelam a verdadeira mudança que se está promovendo”, alerta.
“Precisamos considerar qual é o impacto real no bem-estar das pessoas que estamos alcançando. Esse entendimento é crucial para informar nossa estratégia e nos guiar na direção certa. Portanto, é essencial olhar além dos números e entender como nossas ações realmente afetam as vidas das pessoas, seja através da qualidade dos empregos criados ou de outros aspectos significativos de relevância”, recomenda.
Por fim, Andreza indica algumas referências para essa avaliação, tais como o Protocolo de Capital Social e Humano e o Protocolo de Capital Natural, desenvolvidos pela Capital School. Ela também recomenda o Guia de Retorno Social sobre Investimento, que define princípios importantes para a mensuração de impacto.
O painel A Gestão Regenerativa no Brasil está disponível no YouTube, na íntegra. Para saber mais, não deixe de assistir:
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