Com humor, especialistas rebatem argumentos usados por ‘cunhados sabidões’ contra energias renováveis e mostram que, no debate climático, palpite não é plano de ação
“Cuñadismos energéticos. El regreso.”
Quando vi esse título na programação do IV Congresso Nacional de Energias Renováveis, achei que tinha alguma coisa errada. Talvez a palavra cuñado tivesse um outro significado em espanhol que eu não conhecia?! Não era possível que um evento organizado pela Associação Valenciana do Setor de Energia (AVAESEN)abordasse algo sobre essa relação familiar que começa sem o consentimento das partes envolvidas, era? 😊
Sim, era! 😀
“Cuñadismo energético”, eu descobri nos primeiros minutos da apresentação de Xavier Cugat, Antonio Solar Cabarga e Marcial González de Armas, é uma expressão criada para tirar sarro do cunhado sei-tudo-sobre-energia-renovável. #sóquenão
Gostei muito do debate porque traz uma solução prática e bem-humorada para um dos maiores desafios da atualidade: combater a desinformação e o negacionismo climático.
Segundo eles, entre os argumentos mais usados por esse tipo de pessoa (que, sejamos justos, não são sempre cunhados), estão:
“Eu apoio energia renovável, mas não neste lugar.” “As renováveis são necessárias, mas estragam a paisagem.” “Sim à solar, mas só nos telhados.”
Os três destacaram que para alcançar as metas de energia solar na Espanha apenas com instalações em telhados, por exemplo, seria preciso multiplicar a capacidade atual por 10. Eles também apresentaram exemplos de como é possível instalar projetos de renováveis (painéis solares, turbinas eólicas etc.) em diferentes espaços e de forma integrada ao território.
Existe um mito popular de que baterias emitem radiação eletromagnética perigosa, explodem do nada e até causam mutações.
A realidade? A radiação das baterias está em uma faixa de energia extremamente baixa, “muito menor do que a que recebemos do sol em um dia de praia”, disseram. 😅
Algumas empresas promovem combustíveis renováveis feitos a partir de óleo de cozinha usado. Mas o cálculo feito pelos três identificou que para substituir todo o consumo atual de diesel na Espanha com esses biocombustíveis, cada espanhol teria que fritar 136 croquetas POR DIA para gerar óleo suficiente – cerca de 50 mil croquetas por pessoa por ano. Mesmo eu, que amo croquetas (quem não ama?! 🤤), tenho que concordar que ficaria meio difícil escalar esse tipo de energia.
Ou seja, Xavier, Antonio e Marcial usaram dados e humor para derrubar argumentos comuns que surgem em reuniões de família e redes sociais. Afinal, por trás de cada cuñadismo energético, existe uma verdade mais complexa.
Você já ouviu algum cunhadismo energético/climático em encontros de família? Conta pra mim. Quem sabe a gente prepara algumas respostas baseadas em dados para o seu próximo jantar? 🙂
Natasha Schiebel
Cofundadora e Head de Conteúdo
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PS: Tenho compartilhado mais sobre as coberturas de evento no meu perfil aqui no LinkedIn. Se quiser me acompanhar, fica o convite.
💡Farol #32 – Por que não vamos cobrir a COP 30
Prefeitura da cidade espanhola disponibiliza mais de 350 espaços climatizados gratuitamente, garantindo conforto térmico e acessibilidade para moradores e turistas em dias de calor ou frio extremo.
De programas para mulheres em áreas técnicas a produtos financeiros inclusivos, relatório do Fórum Econômico Mundial destaca iniciativas empresariais que mostram que investir em diversidade e inclusão é essencial para promover mudanças transformadoras.
Fórum Econômico Mundial alerta que empresas que não se adaptarem às mudanças climáticas podem perder até 7% dos lucros anuais até 2035.
Global Risks Report aponta que desinformação lidera riscos imediatos, enquanto eventos climáticos extremos são a maior ameaça futura.
33% dos CEOs globais observam aumento na receita com iniciativas verdes, e 67% afirmam que esses investimentos reduziram ou não impactaram custos.
Novo plano climático britânico prevê ainda triplicar energia renovável, proteger biodiversidade e investir £11,6 bilhões em ações climáticas globais.
Além do evento sobre energias renováveis que aconteceu aqui em Valência, em janeiro fui até Manchester cobrir o evento organizado pela The Better Business Network, com o objetivo de debater caminhos para construir organizações à prova do futuro.
O que mais me chamou a atenção na programação foi a variedade de temas abordados. Pra você ter uma ideia, teve uma palestra sobre o custo de ignorar acessibilidade especificamente para pessoas surdas (eu fiquei pensando MUITO sobre isso depois), um debate sobre o real impacto das viagens no planeta, uma provocação sobre a “pegada de carbono” de um abraço e até a apresentação de um negócio novo que tem o objetivo de transformar a forma como empresas são comandadas – falei um pouco sobre essa história, em inglês, aqui.
Para essa edição da Farol, decidi trazer reflexões sobre algo que, em maior ou menor grau, faz parte da vida de todos nós: a moda.
“Temos roupas suficientes no planeta para vestir as próximas seis gerações. Não precisamos fabricar nada novo.”
Heather Davies, cofundadora da Re-Action Collective
Saiba mais
Re-Action Collective é uma rede global que está transformando a indústria de esportes outdoor através dos princípios da economia circular. A organização conecta varejistas de artigos esportivos e organizações sem fins lucrativos para promover o conserto, reaproveitamento, aluguel e reuso de equipamentos e roupas para atividades ao ar livre.
Na prática, a rede reduz o desperdício e as emissões de carbono ao eliminar a necessidade de cadeias de suprimentos internacionais, ao mesmo tempo em que torna os esportes outdoor mais acessíveis ao oferecer equipamentos a preços mais baixos por meio de seu modelo circular. Além disso, ao colaborar com comunidades locais, o coletivo capacita moradores com novas habilidades enquanto cria um futuro mais sustentável para esportes na neve, ciclismo, escalada e surfe.
Talvez você já tenha ouvido falar que a indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo.
De acordo com a Fashion Revolution (maior movimento de ativismo de moda do mundo), desde o cultivo de fibras até o acabamento dos tecidos, os combustíveis fósseis estão presentes em todas as etapas da cadeia de suprimentos, e à medida que a indústria cresce, a demanda por esses combustíveis também aumenta.
No Better Business Summit, dois painéis diferentes trouxeram para o centro do debate empresas que estão buscando caminhos para transformar esse cenário: a Nudie Jeans e a Patagonia.
Senta que lá vem história…
Em 2001, a sueca Maria Erikson, que trabalhava como compradora em uma grande marca de jeans, voltou de uma viagem entusiasmada: tinha encontrado um fornecedor que oferecia tecido feito com algodão orgânico. Quando apresentou a ideia de utilizar o tecido para seus chefes, ouviu um sonoro não. Em vez de aceitar, ela decidiu fazer diferente: junto com seu marido (que tocava em uma banda punk e estudava negócios), criou a Nudie Jeans.
Vinte e dois anos depois, essa empresa que nasceu de uma recusa a aceitar o sistema vigente não apenas usa 100% algodão orgânico em suas peças, como repara gratuitamente todos os jeans que vende. Só em 2023, foram mais de 73 mil calças consertadas. Além disso, a Nudie oferece 20% de desconto para quem devolve peças antigas, que são categorizadas e revendidas a preços mais acessíveis.
“Uma das coisas de que mais me orgulho é que temos dois tipos de clientes: os super eco-conscientes e os que só gostam do jeito que nossos jeans ficam depois de consertados. Para os primeiros, já estamos pregando para os convertidos. Para os outros, cada reparo gratuito é uma oportunidade de educação, uma chance de mostrar que existe uma maneira diferente de consumir moda”, disse Gareth Cullen, gerente regional da marca.
A Patagonia é uma empresa conhecida por questionar o sistema. A marca nasceu fazendo equipamentos de escalada, mas quando percebeu que seu produto mais lucrativo – um pino de metal martelado na rocha – estava destruindo as próprias montanhas que seus clientes amavam, tomou uma decisão radical: parou de fabricá-lo e passou a defender formas alternativas de escalada que não deixassem rastros.
“Na Patagonia, é raro ouvir alguém usar a palavra ‘sustentável’, não nos vemos assim. Nos descrevemos como uma marca responsável e praticamos o ativismo imperfeito, porque ninguém tem todas as respostas”, compartilhou Lisa Douglas.
Hoje, além de ter 90% de sua linha certificada Fair Trade, a Patagonia mantém o programa Worn Wear, que conserta roupas de qualquer marca como forma de promover conversas sobre consumo consciente. E envolve todos os funcionários, do vendedor de loja ao CEO, nas decisões sobre investimentos em projetos socioambientais.
“O poder nem sempre está em vender o novo e o inovador”, refletiu Harry William Brook. “Às vezes, está em capacitar nossa comunidade a não comprar de novo, mas a consertar e compartilhar habilidades”.
Sophie Benson, que moderou o painel de que participaram Lisa e Harry, resumiu bem o sentimento: “O sistema está quebrado, mas temos as ferramentas para consertá-lo. É uma questão de vontade e de ação coletiva”.
Como disse Gareth Cullen, “precisamos de empresas melhores, completamente diferentes, radicais – não apenas fazer ajustes superficiais”. Essas histórias mostram que é possível.
Para pensar: Como seu setor pode repensar a relação com produtos e consumo? Que pequenas mudanças podem gerar grandes impactos ao longo do tempo?
… 40% das declarações ambientais feitas na União Europeia são completamente infundadas?
Foi o que revelou o estudo The Challenge of Greenwashing: An International Regulatory Overview, elaborado pela KPMG.
Segundo o relatório, práticas comuns – como publicidade enganosa e rótulos vagos – geram riscos legais, financeiros e reputacionais para as empresas.
A Deutsche Welle produziu uma excelente reportagem sobre como Belém, que será sede da COP30 em novembro, está lidando com os impactos das mudanças climáticas.
Enquanto as pontuais chuvas da tarde já não são mais rotina na cidade e as temperaturas batem recordes, a reportagem mostra o contraste entre o centro arborizado e as periferias sem infraestrutura, além de ouvir ribeirinhos que já sentem os efeitos do aumento dos dias de calor extremo ao longo do ano no seu dia a dia.
Vale o play!
Comer carne (em excesso), dirigir para ir no supermercado que fica a duas quadras de casa, não separar corretamente o lixo, usar sacola plástica em vez de ecobag e tomar banhos longos são alguns dos pequenos comportamentos do dia a dia que, para muitos ativistas climáticos, podem ser motivos de vergonha. Mas será que deveriam ser motivo para “cancelamento”?
Neste episódio do podcast Climate Curious, a escritora e estrategista Jenny Morgan, em conversa com o apresentador Ben Hurst, reflete sobre como a “cancel culture” está impactando o setor climático e, de certa forma, retardando o progresso. Eles discutem como uma cultura de medo está prejudicando ações efetivas e trazem uma solução possível: a colaboração.
Você sabia que, no Brasil, trabalhadores negros ganham, em média, cerca de 60% do salário de trabalhadores brancos, independentemente da qualificação?
Além disso, apesar de avanços, como políticas de cotas e programas de transferência de renda, a população negra ainda enfrenta os maiores desafios para acessar empregos formais e bem remunerados e representa a maioria nos trabalhos precários e informais, com pouca ou nenhuma seguridade social.
O novo boletim informativo do Centro Brasileiro de Justiça Climática explora como essas disparidades são amplificadas no cenário de crise, mostrando que justiça racial e justiça climática devem estar interligadas.
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Desenvolvemos um serviço específico para transformar nossa curadoria de conteúdo e coberturas de eventos e festivais na Europa em ações de comunicação, letramento e treinamento para ajudar sua organização a navegar pelas complexidades dessa era de policrise e urgências climáticas.
Quer saber como funciona? Acesse esta página. Se preferir bater um papo, agende uma reunião com o João.
Quer ver a planilha de eventos que mapeamos para cobrir este ano? Basta clicar aqui e pedir acesso. Eu libero pra você! 😉 Ah, e adianto que essa é uma planilha viva, quase toda semana a gente acrescenta algo nela.
A Farol da Economia Regenerativa condena práticas como greenwashing, socialwashing, diversitywashing e wellbeing washing. As informações compartilhadas aqui passam por um processo de checagem feito pelo nosso time de jornalistas, porém, sabemos que muitas vezes à primeira vista pode não ser fácil distinguir iniciativas legítimas de tentativas de greenwashing, por exemplo. Acredita que algo não deveria estar aqui? Fique à vontade para nos procurar.
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