Conheça cinco relatórios de sustentabilidade que revelam boas dicas de como desenvolver e divulgar esse documento de maneira transparente e responsável
De acordo com o estudo Edelman Trust Barometer 2022, que mede a confiança global da sociedade, empresas e ONGs são as únicas instituições vistas como confiáveis, competentes e éticas – enquanto a mídia e o governo geram cada vez mais desconfiança. Além disso, a pesquisa aponta que as pessoas estão bastante preocupadas com a disseminação de notícias ou informações falsas.
Nesse cenário, cresce a pressão para que as empresas se envolvam cada vez mais em questões socioambientais e que tenham um posicionamento ético e responsável. Porém, somente o discurso já não é suficiente: as organizações precisam prestar contas em relação aos problemas e às causas com as quais afirmam atuar.
É por isso que os relatórios de sustentabilidade são cada vez mais importantes. Afinal, por meio deles, as marcas conseguem ser mais publicamente responsáveis e transparentes.
Como desenvolver relatórios de sustentabilidade
Mais do que um documento informativo, o relatório de sustentabilidade é uma ferramenta de prestação de contas, de orientação das estratégias da empresa e de engajamento com seus públicos.
Segundo Rafael Tello, diretor de sustentabilidade da Ambipar, multinacional que oferece serviços de gestão ambiental, um bom relatório de sustentabilidade tem três funções principais:
1) Comunicar
“O relatório de sustentabilidade é um instrumento de comunicação do desempenho da empresa e dos compromissos que ela tem em relação à agenda de sustentabilidade – que engloba as questões ambientais, sociais, econômicas e de governança.”
2) Orientar o desenvolvimento da gestão
“O relatório de sustentabilidade deve mostrar onde a empresa está bem e onde ela precisa evoluir, contribuindo para que o tema entre na gestão corporativa como um todo.”
3) Direcionar o diálogo com os stakeholders
“Por demandar diálogos com os stakeholders, o relatório de sustentabilidade deve ser também pensado como instrumento para direcionar esse diálogo, aumentando a capacidade da empresa de entender as expectativas dos seus públicos e, assim, conseguir atendê-las de uma forma positiva.”
Estudar as metodologias mais utilizadas e analisar as boas práticas nesse sentido é uma ótima forma de entender o que relatórios de sustentabilidade devem trazer.
Portanto, se você quer entender as principais diretrizes que direcionam o desenvolvimento de relatórios de sustentabilidade, recomendamos que leia nosso primeiro artigo sobre esse tema. Nele, você vai conhecer:
- Os princípios da Global Report Initiative (GRI), que é a referência mais utilizada globalmente para a produção de relatórios de sustentabilidade.
- As recomendações do mercado financeiro sobre como divulgar informações claras, comparáveis e consistentes sobre os riscos e oportunidades apresentados pelas mudanças climáticas.
Confira: Relatórios de sustentabilidade: uma ferramenta de transparência e responsabilidade socioambiental |
Cinco exemplos de relatórios de sustentabilidade
Os relatórios de sustentabilidade que apresentamos abaixo seguem as diretrizes GRI de precisão, equilíbrio, clareza, comparabilidade, integralidade, contexto de sustentabilidade, consistência e verificabilidade. Analise-os para se inspirar nessas boas práticas.
Destaques do relatório de sustentabilidade da Danone:
foco estratégico e alinhamento aos ODS
O relatório de sustentabilidade da Danone indica cinco áreas estratégicas em que a empresa atua para gerar impacto socioambiental e promover o desenvolvimento sustentável. São elas:
- Criar uma cadeia de fornecimento alimentar que combata as mudanças climáticas e proteja a biodiversidade.
- Ajudar a enfrentar os problemas de saúde em todas as fases da vida.
- Promover dietas saudáveis, que são boas para o planeta.
- Combater desperdícios, reciclar e reutilizar: rumo à economia circular.
- Atuar localmente por um modelo alimentar honesto.
Ou seja, o relatório deixa claro os focos de sustentabilidade da organização.
No documento, a Danone indica por que essas são questões importantes para o desenvolvimento sustentável e revela o que está fazendo para contribuir em cada uma dessas áreas.
Além disso, há um área exclusiva sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável mais relevantes para a organização. Nela, a Danone apresenta suas estratégias alinhadas a tais ODS e lista as ações realizadas pelo grupo para contribuir para o avanço da Agenda 2030.
Confira o relatório de sustentabilidade da Danone na íntegra.
Destaques do relatório de sustentabilidade do conglomerado Ayala Corporation:
métricas de sustentabilidade e engajamento com os stakeholders
O conglomerado Ayala Corporation atua em diversas áreas-chave para o desenvolvimento sustentável – como, por exemplo, varejo, educação, telecomunicação, tecnologia da informação, serviços de saúde, energia renovável e infraestrutura para fornecimento de água.
O relatório de sustentabilidade do conglomerado é amplo e revela de maneira detalhada os impactos e ações das diversas empresas do grupo nas áreas de sustentabilidade, social e de governança (ESG).
No tópico Ayala Sustainability Blueprint, é possível conhecer os ODS foco de atuação em cada setor em que o grupo atua, com atenção especial a três áreas:
- Acesso e inclusão
- Produtividade e competitividade
- Crescimento responsável e inovação
O relatório revela as metas para cada ODS envolvido nas estratégias do grupo e, além disso, aponta o progresso de tais objetivos, explicando as ações que foram realizadas para o avanço dessas metas.
Por fim, outro destaque do relatório de sustentabilidade do Ayala é a área de Sustainability Commitment, em que as metas estratégicas de sustentabilidade para o longo prazo são detalhadas. Nessa seção, aliás, o conglomerado também indica quais são seus stakeholders, de que maneira a organização se relaciona com esses grupos e quais são os impactos gerados em cada um deles.
Confira o relatório de sustentabilidade do Ayala Corporation na íntegra.
Destaques do relatório de sustentabilidade da Klabin:
indicadores ESG e metas de desenvolvimento sustentável de longo prazo
O relatório da Klabin indica a atuação e os impactos da empresa em quatro áreas-chave, especificando os focos de sustentabilidade da empresa:
- Construção de um futuro renovável
- Contribuição para uma economia sustentável
- Prosperidade para as pessoas
- Tecnologia e Inovação
As informações são detalhadas e indicam práticas e estratégias da empresa para contribuir nessas áreas.
Um dos destaques é a seção Painel ASG, em que a Klabin descreve suas metas estratégicas nas quatro áreas-chave (relacionadas ao meio ambiente, impacto social e governança), apontando as ações que realiza para o avanço dessas metas e quais têm sido os impactos das operações da empresa nessas áreas específicas.
Cada uma das metas estratégicas indica o ODS a que ela se relaciona. Inclusive, nesse sentido, vale citar também a Agenda Klabin 2030, que apresenta os objetivos da empresa focados no Desenvolvimento Sustentável – os chamados KODS.
Por fim, a Agenda Klabin 2030 reúne um conjunto de compromissos de curto (2021), médio (2025) e longo prazos (2030) para promover o crescimento econômico justo e sustentável. Dentro do Painel ASG, é possível acompanhar o progresso de cada um dos KODS.
Confira o relatório de sustentabilidade da Klabin na íntegra.
Destaques do relatório de sustentabilidade da Mondi:
acessibilidade e transparência de dados
O relatório de sustentabilidade da Mondi tem informações específicas e minuciosas em relação às estratégias de sustentabilidade, às metas e aos indicadores de sustentabilidade, às áreas-foco de atuação e aos impactos socioambientais gerados pelas ações e operações da empresa.
O documento detalha o Mondi Action Plan 2030 (MAP2030), que é um plano que define as estratégias adotadas pela empresa e as ações que a organização colocará em prática para cumprir as suas metas de sustentabilidade para 2030. Além disso, o MAP2030 indica práticas comerciais responsáveis que abrangem ética e governança nos negócios, direitos humanos, comunidades, compras e impacto ambiental.
Um dos destaques do relatório é a forma como a empresa lista as fontes dos dados apresentados no documento. Ou seja, a Mondi disponibiliza relatórios e estudos relacionados, listas de indicadores e a base de dados em diferentes formatos – de maneira acessível e transparente.
Outro ponto a favor da acessibilidade é a inclusão de um glossário com explicação de termos e abreviações. Além disso, o relatório da Mondi está disponível tanto em formato pdf quanto em uma página online.
Confira o relatório de sustentabilidade da Mondi na íntegra.
Destaques do relatório de sustentabilidade da Engie:
progresso detalhado do nível de emissões e transparência em relação às metodologias
A Engie assumiu o compromisso de se tornar carbono neutro até 2045, com metas intermediárias para 2025 e 2030, alinhadas ao Science Based Targets (SBTi).
Nesse sentido, o relatório de sustentabilidade da empresa fornece informações detalhadas sobre as fontes de emissões originadas a partir das suas operações. E ainda, o documento indica o nível de emissões dos anos anteriores, deixando claro o progresso da companhia em relação às suas metas Net Zero.
Outro destaque deste relatório é que o documento traz um capítulo totalmente dedicado a esclarecer como o estudo foi desenvolvido. Nessa área, são listadas informações como o perfil do relatório, as metodologias envolvidos na apuração e análise dos dados.
Além disso, o documento especifica os stakeholders envolvidos nas avaliações de impacto do relatório, os ODS incluídos nos tópicos analisados, além de todos os indicadores que foram levados em conta no desenvolvimento do estudo.
Confira o relatório de sustentabilidade da Engie na íntegra.
Lições que esses relatórios de sustentabilidade trazem
Primeiros passos no desenvolvimento de relatórios de sustentabilidade
Para quem está começando essa jornada, pode parecer assustador saber que existe uma série de regras e normas a serem cumpridas.
Na visão de Rafael Tello, o especialista em sustentabilidade da Ambipar, as empresas devem começar entendendo os temas mais relevantes dentro do seu setor de atividades, fazendo uma reflexão profunda sobre o que desejam reportar.
Rafael comenta que, normalmente, a empresa pensa em publicar o relatório quando ela é pressionada – por clientes, comunidade ou investidores. Porém, ele alerta que a resposta a essa pressão precisa acontecer de forma muito bem pensada.
Por fim, ele aconselha: “Coloque algumas informações, entenda como isso afeta o negócio, conforme a empresa vai amadurecendo, ela adquire mais confiança e tem menos risco de reportar algo que não condiz com a realidade dela”.
Quer saber mais sobre como as empresas podem se posicionar de forma legítima e transparente, evitando greenwashing?
Em breve publicaremos a entrevista completa com Rafael Tello, diretor de sustentabilidade da Ambipar.
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