ESG

Estocolmo+50 Climate Hub: movimentos que apontam uma nova economia

Diversos movimentos que indicam o caminho para uma nova economia estiveram em destaque no Estocolmo+50 Climate Hub. Entenda a importância e o papel de três deles

Recentemente, estivemos na capital da Suécia para cobrir o Estocolmo+50 Climate Hub, evento que marcou os 50 anos da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano.

Na ocasião, ouvimos especialistas e líderes globais debatendo sobre as principais movimentações em torno de questões como justiça climática, proteção ao meio ambiente e a corrida Net Zero.

No primeiro artigo resultado da cobertura do evento, destacamos duas inovações que indicam o caminho para a neutralização das emissões de carbono na indústria.

CONFIRA: Estocolmo+50 Climate Hub: duas inovações que aceleram a corrida net zero na indústria

Dando continuidade a essa série, a seguir, listamos alguns dos movimentos que estiveram em pauta em Estocolmo e que fazem parte da construção de uma nova forma de fazer negócios.

As B Corps e a batalha por um mundo corporativo mais justo e sustentável

O lema das chamadas B Corps (ou empresas B) é: “não queremos ser as melhores do mundo, mas, sim, as melhores para o mundo”.

Uma organização interessada em obter o “selo B” precisa passar por um processo de certificação desenvolvido pela ONG norte-americana B Lab – que, na América Latina, é representada pelo Sistema B – e comprovar que:

  1. Mede seu impacto;
  2. Suas operações levam em conta as consequências de longo prazo na comunidade e no meio ambiente;
  3. Tem estratégias de negócios voltadas a resolver problemas socioambientais.

No Estocolmo+50 Climate Hub, Pedro Tarak, cofundador do Sistema B, destacou que as B Corps são reflexo de um movimento global em que as empresas não estão apenas sendo “responsáveis”, mas responsivas, efetivamente agindo para gerar mudanças.

Pedro Tarak
“Uma vez que você se torna responsivo, os problemas se tornam sua oportunidade de inovação. É um novo tipo de diferencial, que tem se tornado contagiante. Inspiradas por esse movimento, empresas ao redor do globo têm tido cada vez mais interesse em se tornarem B Corps, em fazer parte dessa transformação do sistema econômico.”
Pedro Tarak, cofundador do Sistema B, durante o Estocolmo+50 Climate Hub

Durante o painel sobre o tema, dois cases de empresas B foram apresentados: 

Goodwings

Essa B Corp tem a missão de tornar as viagens corporativas carbono zero. Para isso, rastreia e calcula o CO2 emitido pelas viagens de negócio realizadas a partir da plataforma e, depois, desenvolve ações para mitigar essas emissões, neutralizando o impacto das viagens por meio do plantio de florestas em pastagens degradadas – que ajudam a sequestrar o carbono. 

Christian Møller-Holst
“A maneira como viajamos atualmente está destruindo nosso planeta. Então, nós estamos encorajando as pessoas a viajarem menos.
Porém, também reconhecemos que algumas viagens são inevitáveis. Portanto, investimos nosso lucro em projetos verificados para remoção do carbono da atmosfera, tornando as viagens que são indispensáveis o mais próximas possível da neutralidade de emissões.”
Christian Møller-Holst, CEO e fundador da Goodwings, durante o Estocolmo+50 Climate Hub
Saiba mais:
Conheça as estratégias da Movida para se tornar carbono zero até 2030

Urb-it

Essa B Corp fornece serviços de entrega final de forma sustentável e eficiente.

A Urb-it realiza parceria com empresas de logística e marcas para que a parte final da entrega de uma encomenda (a chamada entrega de última milha) seja realizada a pé, de bicicleta ou pela frota de transporte elétrico da Urb-it. Como resultado, esse serviço reduz a poluição sonora, a poluição do ar e o congestionamento.

Christian Møller-Holst
“Poluição sonora e do ar, acidentes de trânsito e emissões de gases de efeito estufa são algumas das maneiras pelas quais o transporte urbano impacta negativamente nossas vidas. Nos próximos anos, o sistema de transporte ficará ainda mais sobrecarregado com o aumento do e-commerce.
Então, se não mudarmos a forma de entrega de encomendas, nossas estradas não suportarão a demanda e os impactos negativos só se agravarão. A boa notícia é que 50% das entregas feitas em cidades atualmente podem ser realizadas com bicicletas de carga – e, o melhor, é mais viável economicamente.”
Hannes Skugghall, Chief Mission Officer na Urb-it, durante o Estocolmo+50 Climate Hub

Economia Circular

Quando se trata de diminuir os impactos ambientais no nosso planeta, a circularidade está no centro dos debates. Afinal, o reaproveitamento de materiais atende a dois problemas ambientais importantes:

  • A imensa geração de resíduos que são descartados de forma irresponsável no meio ambiente;
  • E o alto volume de emissão de CO2 resultante da fabricação de novos materiais.

Inclusive, os participantes do painel sobre esse tema destacaram que a circularidade dos materiais é um pré-requisito indispensável para o alcance das metas climáticas. 

Um dos destaques do debate foi a indústria da moda, um dos setores que mais gera resíduos e um dos menos circulares do mundo. Atualmente, menos de 1% das roupas produzidas no mundo são recicladas.

Elin Larsson
“A forma como lidamos com os materiais tem um impacto imenso no planeta. A extração e o processamento de recursos e matérias-primas são responsáveis por quase 50% das emissões globais de dióxido de carbono e por quase 90% da perda de biodiversidade.”

Elin Larsson, diretora no RE:Source, programa de inovação sueco, focado na economia circular 

Gwen Cunningham
“No momento, a indústria da moda é a garota propaganda da economia linear.
Precisamos mudar o design de tudo o que existe hoje neste setor, que opera quase que exclusivamente em um modelo: extrair, produzir, usar, jogar fora.
Hoje, somos uma população de sete bilhões, mas produzimos cerca de 100 bilhões de novas peças de roupas por ano, que são usadas por pouquíssimo tempo e descartadas de forma irresponsável no meio ambiente.”

Gwen Cunningham, especialista em Sustentabilidade e Economia Circular

Patrik Lundström
“Se realmente queremos realizar um impacto, precisamos ressaltar as oportunidades que a economia circular oferece – e não só os desafios. Temas como sustentabilidade e reaproveitamento de materiais estão no centro das discussões em todo o mundo.
Haverá uma grande mudança no futuro e as empresas que participarem dessa transformação irão florescer. Já aquelas que não entenderem as oportunidades de uma abordagem mais sustentável, vão desaparecer.”

Patrik Lundström, CEO da Renewcell 

Durante o painel sobre esse tema no Estocolmo+50 Climate Hub, dois cases foram apresentados:

Renewcell

Essa empresa tem uma tecnologia que dissolve o algodão utilizado em fibras de celulose de roupas usadas e transforma em uma nova matéria-prima biodegradável: a celulose Circulose®. Esse novo material, então, é utilizado para fabricar fibras têxteis de viscose ou liocel de qualidade virgem biodegradável.  

BeyondRetro

Na indústria da moda, as chamadas “raghouses” são a última parada das roupas doadas ao redor do globo. Nesses locais, peças que ainda podem ser reaproveitadas são transformadas em trapos – ao invés de serem jogadas em lixões. 

A BeyondRetro tem um trabalho de curadoria nas raghouses, buscando peças que ainda podem ter uma segunda (terceira, quarta…) vida. As roupas selecionadas são vendidas nas lojas da empresa em Londres e em Estocolmo.

Saiba mais:
Positiv.a cria produtos pensando em todos os ciclos – da produção ao descarte

Investimento de impacto

Estimativas apontam que, em 2020, US$2.3 trilhões foram alocados em investimentos de impacto. No Brasil, neste mesmo ano, os investimentos de impacto superaram a marca de R$1 bilhão. 

Esse é um mercado em crescimento e de grande relevância para o avanço das metas da Agenda 2030, uma vez que a inclusão financeira é um fator fundamental para o desenvolvimento sustentável – inclusivo e justo. 

Durante o Estocolmo+50 Climate Hub, líderes na área de investimento de impacto falaram sobre a importância desse tipo de aplicação. Os especialistas enfatizaram a importância de se adotar uma postura mais transparente e focada em medir os impactos socioambientais do investimento da mesma maneira que se mede os retornos financeiros. 

Além disso, os palestrantes destacaram que o mundo do investimento vem mudando e que o capital de risco do futuro será muito diferente do cenário atual. Eles preveem que devemos sair da era dos unicórnios e entrar na era do capitalismo de impacto, com menos ênfase no crescimento a todo custo e empresas atuando de maneira mais responsável, sustentável e com mais resiliência. 

Angelika Delen
“A questão é: por onde começar, onde focar os investimentos de impacto?
Um ponto de partida interessante, que talvez seja uma das questões mais importantes, é buscar entender as consequências que seus investimentos e suas decisões podem ter.
Além disso, deve-se buscar investimentos que reduzam os danos na sociedade e no meio ambiente, investimentos que comprovadamente gerem impactos positivos no bem-estar das pessoas e do planeta.”
Angelika Delen, líder de Investimento de Impacto na Mercer Europe, durante o Estocolmo+50 Climate Hub
Ingmar Rentzhog
“Em minha experiência, a maioria dos chamados ‘investidores de impacto’ agem exatamente como outros tipos de investidores – com a diferença de que investem em empresas que promovem impacto. Para mim, isso não é investimento de impacto!
Para ser verdadeiramente um investidor de impacto, é preciso analisar os impactos com o mesmo detalhamento e atenção que o retorno sobre o investimento tem hoje em dia.
Grande parte desses investidores perguntam brevemente ou nem questionam o real impacto de seus investimentos – isso porque não se importam realmente.”

Ingmar Rentzhog, CEO na We Don’t Have Time

Vincent Weir
“Um ecossistema biológico mais diversificado é mais saudável, mais resiliente e tem mais facilidade de se adaptar a mudanças do que um ambiente do que um ambiente monolítico. Portanto, precisamos aumentar a diversidade do ecossistema de investimento, que hoje envolve um grupo muito homogêneo.
Trazer mais mulheres para esse meio, por exemplo, é crucial. Mulheres são 73% mais propensas a fundar uma empresa de impacto e mulheres investem de duas a três vezes mais em outras mulheres (em comparação com homens). Ao mesmo tempo, apesar de seus investimentos performarem 30% melhor em média, apenas cerca de 10% dos gestores de capital são mulheres.”

Vincent Weir, cofundador da Invenio Growth

Anna Gissler
“Precisamos prestar mais atenção aos chamados unicórnios de impacto – empresas que, ao invés de serem avaliadas por mais de um bilhão de dólares, na verdade ajudam mais de um bilhão de pessoas.”
Anna Gissler, CEO na Invest Stockholm, durante o Estocolmo+50 Climate Hub

Reflexões importantes, para mudanças necessárias!

Saiba mais:
Conheça o trabalho da Fama Investimentos para direcionar o capital de forma mais social e ambientalmente responsável

*Este artigo faz parte da cobertura do Estocolmo+50 Climate Hub. Assine nossa newsletter para receber todas as atualizações.

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Imagens: We Don’t Have Time; Divulgação

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Francine Pereira

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