Saiba como a desigualdade impacta os negócios e entenda o papel do poder privado no avanço do ODS 10 e, consequentemente, na construção de uma sociedade mais justa e igualitária
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 10 da Agenda 2030 almeja a redução das desigualdades dentro dos países e entre eles.
Infelizmente, porém, temos um longo caminho pela frente para tornar isso possível. Afinal, as desigualdades globais são tão grandes hoje quanto no auge do imperialismo ocidental, no início do século XX.
No primeiro artigo sobre o ODS 10, mostramos como a desigualdade impacta diretamente o desenvolvimento sustentável e o avanço da Agenda 2030 como um todo.
Dando continuidade a esse tema, a seguir, vamos explorar como o poder privado influencia os níveis de desigualdades. E ainda, indicaremos formas de as empresas atuarem para diminuir desequilíbrios socioeconômicos.
Por fim, apresentaremos negócios que já estão atuando para tornar o mundo menos desigual e ONGs que você pode apoiar para contribuir com essa causa.
Então, vamos começar analisando…
Não é difícil encontrar empresários e líderes que concordem que a desigualdade é algo ruim para a sociedade. Apesar disso, a conexão sobre como esse desequilíbrio socioeconômico impacta os negócios nem sempre está entre as preocupações das empresas. Ou seja, é como se a desigualdade fosse algo que acontecesse fora da esfera corporativa e não atingisse as corporações.
Mas isso não poderia estar mais longe da realidade.
Afinal, é cada vez mais claro que a desigualdade sistêmica gera riscos significativos para o poder privado. Isso porque níveis elevados de desigualdades limitam a produtividade e têm o potencial de restringir os gastos do consumidor, desestabilizar as cadeias de suprimentos e desencadear instabilidade política.
Indo além, no contexto atual – em que clientes, investidores e colaboradores cobram um posicionamento mais ativo das organizações em relação a questões socioambientais e econômicas –, empresas que ignoram o problema da desigualdade e suas consequências se tornarão cada vez menos relevantes.
Segundo o relatório da KPMG Social inequality as a business risk, a desigualdade oferece riscos para as empresas por conta de fatores legais, morais e econômicos.
Há uma expectativa cada vez maior de que as empresas atendam padrões ambientais, sociais e de governança (ESG). Estamos vendo uma pressão regulatória crescente para tratar os trabalhadores de forma justa, limitar as emissões e a poluição e impactar positivamente as pessoas e o planeta. Inclusive, muitos países estão estabelecendo leis e regulamentos específicos sobre comportamento ético empresarial.
Sendo assim, a falha em fornecer evidências de desempenho ESG e ficar aquém dos padrões esperados pode levar a penalidades graves. Em alguns casos, pode resultar também em ações judiciais contra executivos. Isso, por sua, vez aumenta o risco de reputação e pode prejudicar investimentos, vendas e até o recrutamento de profissionais capacitados.
Vivemos na era da informação, em que os cidadãos têm acesso instantâneo ao comportamento de empresas e governos. Nesse contexto, fenômenos como mudanças climáticas, poluição, práticas antiéticas de trabalho, relações precárias com a comunidade e falta de transparência levam as pessoas a exigirem mudanças nas instituições.
Esse aumento da demanda dos stakeholders para que as corporações “façam a coisa certa” está levando empresas a priorizar práticas éticas.
Além disso, a popularização de conceitos como “triple bottom line” (tripé da sustentabilidade) sugerem que propósito social e lucro podem ser alcançados juntos. O crescimento dos investimento de impacto e dos negócios que atuam em problemas sociais são exemplos claros disso.
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Consequências da desigualdade social – como agitação social, volatilidade econômica e um ambiente de negócios instável – podem limitar a capacidade das empresas de competir e crescer, restringir o poder de compra de seus públicos e interromper cadeias de suprimentos frágeis.
Em uma perspectiva global, há uma relação simbiótica entre igualdade social e crescimento econômico. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, um aumento de 1% na desigualdade reduz o PIB em até 1,1% – no entanto, com o tempo esse número aumenta para 4,5%.
Para quem vive a desigualdade no dia a dia, ela poderia ter outro nome: exclusão. Exclusão de oportunidades, de direitos, de renda justa…
Na prática, a desigualdade é uma barreira que exclui e isola determinados grupos, ao mesmo tempo em que potencializa suas vulnerabilidades sociais e econômicas.
Portanto, promover uma economia mais inclusiva pode ser o caminho para diminuir desigualdades e criar sociedades mais prósperas e resilientes.
Nesse sentido, a integração de grupos excluídos na economia – por meio de bons empregos, acesso a bens e serviços e investimentos em suas comunidades – é fundamental para o progresso social e econômico.
A rede de consultoria em negócios sustentáveis BSR define economia inclusiva da seguinte maneira:
“Uma economia inclusiva é aquela em que todos os indivíduos e comunidades são capazes de participar, se beneficiar e contribuir para as economias globais e locais. As empresas que promovem uma economia inclusiva – por meio de empregos justos e seguros que proporcionam meios de subsistência justos, acesso a produtos e serviços essenciais e investimentos que permitem que as comunidades prosperem – colherão benefícios significativos. Na prática, negócios que fazem parte da economia inclusiva têm acesso a novos mercados, desencadeando mais inovação e maior estabilidade social.”
As análises da BSR indicam que os quatro principais benefícios comerciais de uma economia inclusiva são: inovação, expansão do mercado, operações aprimoradas e com menos riscos e crescimento de longo prazo.
A inclusão impulsiona a inovação ao expor as empresas a novos grupos de consumidores com necessidades específicas. Além disso, dentro das empresas, uma equipe diversificada e um ambiente inclusivo impulsionam uma cultura de inovação.
Estudos demonstram que empresas que valorizam visões e representações diversas tendem a ter maior abertura e disposição para compartilhar ideias radicais e transformadoras, o que é essencial para a inovação.
Assim como projetar novos produtos e serviços para alcançar populações tradicionalmente excluídas ou carentes impulsiona a inovação, essa também é a melhor maneira de capturar oportunidades em novos mercados.
Permitir que mais pessoas participem e se beneficiem da economia pode desencadear oportunidades significativas de crescimento para as empresas, principalmente com a maioria do crescimento populacional acontecendo nos países em desenvolvimento.
Promover a inclusão e mitigar a exclusão são ações importantes para apoiar ambientes operacionais eficientes, produtivos e estáveis e assegurar a licença social para operar. Nesse sentido, pesquisas mostram que a inclusão econômica é um fator importante para a estabilidade e um ambiente de negócios mais amplo. E ainda, também há evidências de que práticas inclusivas podem melhorar as questões operacionais.
Além disso, uma economia inclusiva também ajuda a garantir um fluxo de talentos robusto para manter e melhorar as operações.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) descobriu que a exclusão gera economias menos resilientes. Isso porque níveis elevados de desigualdade reduzem a duração dos períodos de expansão econômica e limitam a capacidade da economia de resistir e mitigar choques financeiros, sociais, econômicos e ambientais.
Por outro lado, aumentar a participação de grupos excluídos na atividade econômica pode gerar efeitos multiplicadores positivos.
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No relatório Business Leadership for an Inclusive Economy, a BSR oferece um framework para que as empresas possam gerar impacto, promovendo uma economia mais colaborativa e inclusiva.
Segundo a consultoria, a estrutura de liderança empresarial para uma economia inclusiva deve estar organizada em torno de três pilares:
A seguir, entender quais são as recomendações para os negócios atuarem nesses três pilares em diferentes esferas – a partir de suas próprias operações, na cadeia de suprimentos e no mercado como um todo.
O guia Blueprint For Business Leadership On The SDGs traz algumas diretrizes para apoiar os empresários no caminho para o progresso do ODS 10 e apresenta exemplos de ações que as empresas podem desenvolver para se envolver de forma efetiva na construção de uma economia mais inclusiva e sustentável.
Vamos a elas.
Exemplos práticos:
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Dicas para implementar ações como essas:
Exemplos práticos:
Dicas para implementar ações como essas:
Exemplos práticos:
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Dicas para implementar ações como essas:
Exemplos práticos:
Dicas para implementar ações como essas:
A Tech Girls realiza cursos para capacitar as mulheres em empreendedorismo digital, programação, assistência técnica e manutenção de computadores. A empresa utiliza notebooks obsoletos – que seriam descartados – no desenvolvimento dessas mulheres. Depois de recuperados, os equipamentos são doados para mulheres de baixa renda ou desempregadas – que também são capacitadas na área de tecnologia.
Em cinco anos de atuação, a Tech Girls já capacitou 500 mulheres, recuperou 60 toneladas de lixo eletrônico. Por meio dos cursos da empresa, 380 computadores que seriam descartados foram consertados e doados.
Saiba mais: techgirls.com.br
A missão da Specialisterne é proporcionar treinamento e emprego para pessoas com autismo. A empresa cumpre essa missão oferecendo cursos preparatórios para profissionais com autismo e oportunidades de trabalho adequadas às suas habilidades e interesses, com suporte especializado que as ajude a desenvolver uma carreira de sucesso.
Além disso, a Specialisterne capacita as empresas para a inclusão de pessoas com autismo e neurodivergentes, por meio de ações educativas e projetos de consultoria em Diversidade e Inclusão.
Saiba mais: specialisternebrasil.com
Essa empresa B realiza o modelo recrutamento e seleção open hiring (contratação aberta). Funciona assim: o primeiro candidato a se inscrever obtém a próxima oportunidade disponível em cargos de nível básico – nas lojas e em centros de distribuição.
No processo de recrutamento, o gestor seleciona o primeiro candidato da lista para um bate-papo pessoal. Durante esse encontro, os candidatos recebem informações sobre as vagas disponíveis e a empresa. Os candidatos interessados respondem a três perguntas simples para confirmar que são elegíveis e fisicamente capazes de cumprir os requisitos da função.
Segundo a empresa, eliminar entrevistas e a verificação de referências tem o objetivo de promover uma política de contratação mais justa e inclusiva. Dessa forma, ela oferece oportunidades de trabalho para muitas pessoas que, geralmente, seriam excluídas.
Saiba mais: thebodyshop.com
A MOV é uma gestora de investimentos de impacto que tem como missão investir e apoiar empresas inovadoras que buscam reverter a degradação ambiental e reduzir desigualdades sociais.
A empresa, que também tem a certificação B, investe em negócios que geram oportunidades para populações vulneráveis e/ou promovem o uso sustentável dos recursos naturais.
Um exemplo de investimento realizado nesse sentido foi o aporte dado à Órigo Energia, que tem como foco tornar a energia renovável mais acessível no Brasil. A empresa oferece soluções econômicas de energia limpa para famílias e pequenos negócios.
Saiba mais: movinvestimentos.com.br
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Por fim, se sua empresa realmente está comprometida com o ODS 10, pode realizar parcerias com outros agentes da sociedade que também estão atuando para diminuir as desigualdades em diferentes esferas.
Neste sentido, além de se unir a instituições de ensino, governos e até mesmo outras empresas, para ajudar a alavancar o ODS 10 é possível fazer parcerias com ONGs que já atuam nessa causa – caso, por exemplo, das sete que destacamos a seguir.
O Instituto Adus promove a integração de refugiados na sociedade brasileira.
A ONG oferece aos refugiados orientação jurídica, capacitação, intermediação junto a empresas para colocação profissional e ensino de português.
Essa é uma ONG da igreja católica que atua para a redução da desigualdade por meio de projetos em áreas como Economia Popular Solidária (EPS), Programa de Infância, Adolescência e Juventude (PIAJ) e Migração e Refúgio.
A Oxfam Brasil é uma organização da sociedade civil brasileira que tem como missão “a construção de um Brasil com mais justiça e menos desigualdades”. A ONG trabalha para isso atuando em projetos nas áreas de Justiça Rural e Desenvolvimento, Justiça Social e Econômica, Justiça Racial e de Gênero e Justiça Climática e Amazônia.
Essa organização atua para promover a saúde e o desenvolvimento humano por meio de ações de combate à pobreza. Para implementar sua missão, o instituto trabalha em diferentes frentes:
Criar uma economia mais inclusiva e menos desigual requer um esforço coletivo de todos os atores da sociedade: empresas, governo, sociedade civil e comunidades.
Diferentes abordagens serão necessárias em diferentes economias onde os contextos socioeconômicos, culturais e históricos definem a exclusão.
Sozinhas, empresas não têm todas as soluções ou os meios para criar uma economia inclusiva. Contudo, o poder privado desempenha um papel fundamental na geração de empregos, no desenvolvimento e na distribuição de produtos e serviços e no investimento em comunidades impactadas por suas operações.
Então, atuar em conjunto com outros agentes sociais e guiar-se pelas metas do ODS 10 é um excelente caminho para organizações que desejam participar ativamente da construção dessa nova economia – mais justa e igualitária.
Esperamos que as histórias apresentadas e as reflexões propostas lhe ajudem a encontrar formas de fazer a sua parte – seja individualmente, apoiando causas que apoiam o avanço do ODS 10, ou por meio de ações empresariais focadas nessa causa.
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