ESG

O que as empresas têm a ver com justiça social?

Entenda por que as empresas deveriam se preocupar com justiça social e conheça recomendações e boas práticas para marcas que querem se posicionar em questões sociais e ajudar a diminuir as desigualdades

Em nossas pesquisas e análises sobre o avanço da Agenda 2030 no Brasil e no mundo, notamos que existe um obstáculo comum que impacta todos os problemas que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) se propõem a resolver. Estamos falando da desigualdade.

Fome, pobreza, falta de acesso a serviços básicos, falta de emprego decente, desrespeito aos direitos humanos, mudanças climáticas, discriminação e violência racial e de gênero. Todas essas questões (e outras mais) são geradas, impactadas e agravadas pela desigualdade social e econômica dentro das nações e entre os países.

Sistemas excludentes em diferentes esferas da sociedade fazem com que um grupo de pessoas seja desproporcionalmente prejudicado e impactado pelos principais problemas socioeconômicos globais. 

Seja qual for a crise (econômica, de saúde, social), é certo que a parcela mais vulnerável da população será a mais atingida. Da mesma forma, a desigualdade em si vivenciada por esse grupo gera uma série de desafios sociais (desemprego, violência e mais exclusão). 

Leia: Não há desenvolvimento sustentável sem redução das desigualdades (ODS 10)

Além disso, se não tratada, a desigualdade é um monstro que se autoalimenta.

Diversos fatores combinados dentro desse sistema criam um círculo vicioso em que a concentração de riqueza e os privilégios de uma minoria se perpetuam, dificultando ainda mais a mobilidade social e a redução das desigualdades. 

É por isso que a Justiça Social é fundamental para o desenvolvimento sustentável. Essa é uma questão crucial para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, onde todas as pessoas tenham acesso aos mesmos recursos e oportunidades.

Mas o que é justiça social?

Por que as empresas devem se preocupar com justiça social?

O poder privado tem um papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, com as empresas podendo contribuir diretamente para promover a igualdade de direitos e a proteção das pessoas mais vulneráveis por meio de práticas de negócios e compromissos sociais. 

Não dá mais para as empresas agirem de maneira desconexa com a realidade que afeta diretamente seus colaboradores, clientes e parceiros. Até porque, cada vez mais os diferentes públicos com os quais as organizações se relacionam esperam que elas se posicionem e efetivamente atuem para contribuir para a resolução dos principais problemas sociais…

Em um artigo publicado na Harvard Business Review, Lily Zheng, consultora em Diversidade, Equidade e Inclusão, alerta que consumidores e colaboradores estão procurando mais do que Responsabilidade Social Corporativa (RSC); eles exigem o que a especialista chama de Justiça Social Corporativa. 

“A Justiça Social Corporativa é uma reformulação da Responsabilidade Social Corporativa. A RSC é uma estrutura autorregulada que não tem nenhuma obrigação legal ou social para que as empresas realmente criem um impacto positivo para os grupos que pretendem ajudar.
Já a Justiça Social Corporativa é uma estrutura regulada pela confiança entre uma empresa e seus funcionários, clientes, acionistas e a comunidade mais ampla que ela atinge, com o objetivo explícito de fazer o bem a todos eles, explica.

Lily destaca que enquanto a RSC muitas vezes é realizada por meio de um programa secundário ou mesmo de vaidade vinculado ao negócio principal de uma empresa, a Justiça Social Corporativa requer uma integração profunda com todos os aspectos da maneira como uma empresa funciona. 

“Consumidores e outras partes interessadas querem empresas que busquem promover a justiça social como uma necessidade, não apenas uma estratégia de marketing“, ressalta.

Movimento B e Justiça Social no Brasil

Com o objetivo de trazer a discussão sobre justiça social para dentro dos negócios e transformá-la em práticas, o Sistema B Brasil (entidade responsável pela certificação das empresas B brasileiras) lançou o relatório Justiça Social com a Rede B Brasil.

Esse material foi desenvolvido a partir dos encontros imersivos Conversando a gente se aprende, que reuniram empresas B, empreendedores da periferia e a equipe executiva do Sistema B Brasil.

Durante esses encontros, foram realizadas diversas atividades e dinâmicas para promover o diálogo e o aprendizado sobre temas relacionados à justiça social e equidade interseccional (raça e social). A partir dessas conversas, foram identificados desafios e oportunidades para a promoção da justiça social dentro do Movimento B.

Leia: Por dentro das empresas B: uma entrevista com Pedro Telles, do Sistema B Brasil

Com base nesses insights, o Sistema B Brasil desenvolveu esse guia como uma ferramenta para ajudar as empresas a promoverem práticas mais justas e equitativas em suas operações. 

O guia apresenta uma jornada de reflexão e aprendizado sobre temas relacionados à justiça social. Além disso, propõe ações concretas que as empresas podem colocar em prática para contribuir com a causa.

Entre as ações propostas pelo Movimento, estão:

  • Promover a diversidade e inclusão em todas as áreas da empresa – desde a contratação até a tomada de decisões estratégicas.
  • Estabelecer metas e indicadores de equidade racial e social, monitorando o progresso e divulgando os resultados publicamente.
  • Fomentar a criação de negócios inclusivos, que gerem oportunidades para pessoas em situação de vulnerabilidade social ou econômica.
  • Estabelecer parcerias com organizações da sociedade civil que atuam na promoção da justiça social e equidade racial.
  • Investir em programas de capacitação e desenvolvimento profissional para pessoas em situação de vulnerabilidade social ou econômica.
  • Adotar práticas sustentáveis em todas as áreas da empresa, contribuindo para a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento socioeconômico das comunidades locais.

O documento é rico em informações sobre justiça social no Brasil e reforça alguns dos compromissos do Sistema B para avançar com o tema. Entre eles: trazer mais empresas com origem na periferia para a rede e promover a geração de negócios com elas, bem como atuar ativamente em prol do crescimento da representatividade negra nas empresas – não só em cargos operacionais, mas em posições de liderança.

“Enquanto não enxergarmos como potência quem, historicamente, teve usurpada a força de trabalho braçal e intelectual e deixado à margem do desenvolvimento socioeconômico, não teremos transparência e compromisso real com a justiça social.

Esperamos que esse material, onde compartilhamos caminhos possíveis, ilumine as oportunidades que empresas socialmente responsáveis têm em liderar a transformação da economia, afirma Lygia Anthero, coordenadora de Relacionamento e Causas do Sistema B Brasil.

Baixe gratuitamente o guia Justiça Social com a Rede B Brasil

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Publicado por
Francine Pereira

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