As empresas B propõem uma nova forma de fazer negócios. Entenda o que isso significa, conheça o processo de certificação das B Corps e saiba por que o movimento global impulsionado por essas organizações é fundamental para o futuro do planeta – e da humanidade
Não é novidade que o mundo em que vivemos não anda lá essas coisas.
O aquecimento global (e suas consequências), a dificuldade da ONU para atingir seus 17 objetivos de desenvolvimento sustentável e o crescimento da desigualdade social em todos os cantos do planeta são apenas alguns dos sinais de alerta.
Mas é verdade que nem tudo está perdido!
Afinal, são justamente essas preocupações que têm feito brotar sementes de transformação mundo afora.
No que diz respeito às ações individuais e coletivas, dois movimentos ganharam destaque recentemente:
Em 2018, com o objetivo de chamar a atenção dos governantes para a emergência climática, a jovem sueca Greta Thunberg iniciou uma greve escolar que, segundo ela, só terminaria quando políticas nacionais assegurassem a contenção do aquecimento global em um nível seguro.
Em pouco tempo, Greta ganhou aliados e sua ação se tornou um movimento global: Fridays for future.
Desde então, às sextas-feiras, milhares de jovens seguem o exemplo de Greta e protestam no mundo todo. O ápice da campanha aconteceu no dia 15 março de 2019, quando quase 1,5 milhão de estudantes, de 100 países (incluindo o Brasil), participaram da greve.
E Greta continua em greve!
A atriz e ativista Jane Fonda inspirou-se na história de Greta Thunberg para criar o Fire Drill Fridays.
Jane – que tem 82 anos – coordena protestos semanais (também às sextas-feiras) nos Estados Unidos contra a falta de ações concretas dos governantes para tentar conter o aquecimento global. Inclusive, o movimento levou a atriz para a cadeia diversas vezes, sob a acusação de “desobediência civil”.
Conscientes de que são agentes-chave na mudança para formar comunidades que tornem a nova era dos negócios mais coletiva, diversa e representativa, as B Corps se propõem a redefinir o conceito de sucesso na economia.
Elas defendem que sucesso seja mensurado levando em conta não apenas o êxito financeiro, mas também o bem-estar da sociedade e do planeta. Justo, não?
Até porque é possível ter empresas B, mas, pelo menos por enquanto, não há alternativa para o planeta em que vivemos.
Outro ponto importante é que essas empresas não buscam ser “as melhores do mundo”. Elas querem ser as melhores para o mundo…
As empresas B, organizações que passam pelo processo de certificação realizado pela ONG norte-americana B Lab, reconhecem a importância do lucro para a sustentabilidade empresarial. Porém, essa não é a única métrica que as move. Além disso, as B Corps:
– São motivadas pela criação de impacto positivo na sociedade e no meio ambiente;
– Se avaliam e se comprometem a melhorar seus padrões de gestão e transparência;
– Ampliam o dever fiduciário dos acionistas e gerentes e passam a incluir interesses não financeiros.
Ou seja, em linhas gerais, B Corps medem seu impacto social e ambiental e comprometem-se pessoal, institucional e legalmente a tomar decisões considerando as consequências de longo prazo de suas ações na comunidade e no meio ambiente.
É verdade que sem conhecer empresas B na prática, tudo isso pode parecer balela.
A história da Tony’s Chocolonely, por exemplo, que apresentei aqui e que se tornará um dos nossos primeiros casos de estudo (estará no ar em breve), é uma evidência disso. E muitas outras que serão tema de artigos nos próximos meses, também.
Para o Sistema B, parceiro do B Lab no Brasil e em outros países da América Latina, esse é um caminho sem volta. “Nossa visão é que, no tempo de uma geração, todas as empresas vão medir e gerenciar seu impacto com o mesmo rigor que fazem com seus retornos financeiros”, apostam.
A gente não apenas torce para que estejam certos, como também temos a missão de contribuir para que assim seja. Afinal, sabemos que as empresas B de fato fazem diferente e fazem a diferença!
Como contei em meu artigo de estreia, a ideia de criar A Economia B surgiu quando cobrimos o seminário anual das empresas B (o B Corp Summit – que, em 2019, aconteceu em setembro, em Amsterdam – Holanda). Foi lá também que entrevistamos José Eduardo Guzzardi, brasileiro que trabalha no B Lab, em Nova York.
Nossa conversa girou em torno do universo das empresas B e do processo de certificação das B Corps.
Assista à entrevista e, depois disso, a gente segue o nosso papo!
A ONG B Lab foi criada em 2006, nos Estados Unidos. Porém, não demorou muito para se tornar um movimento global que certifica empresas B no mundo todo, com o apoio de parceiros (como o Sistema B).
Mais de três mil B Corps foram certificadas desde então, em mais de 70 países.
No Brasil, 162 empresas já possuem o selo e muitas outras estão sendo avaliadas no momento. A sua pode ser a próxima!
O processo de certificação das B Corps é rigoroso, dinâmico, transparente e baseado na avaliação de mais de 200 métricas que avaliam questões como, por exemplo:
– Escolha de fornecedores;
– Equidade de gênero;
– Múltiplo salarial (a diferença de rendimento entre o presidente e o funcionário que recebe menos);
– Treinamento e educação dos colaboradores;
– Participação societária;
– Política energética;
– Criação de emprego;
– Engajamento cívico;
– Desenvolvimento da cadeia;
– Redução de tóxicos;
– Educação ambiental;
– Empoderamento econômico.
Estas métricas estão organizadas em cinco categorias, como mostra a imagem abaixo.
Qualquer empresa (pequena, média ou grande; de qualquer segmento) pode passar pela análise e posteriormente se tornar uma B Corp.
O primeiro passo para isso é preencher a avaliação de impacto (disponível em português). Esta é uma ferramenta gratuita e confidencial, que pode ou não evoluir para certificação.
Caso você opte por levar seu processo adiante, é preciso ter no mínimo 80 pontos para prosseguir com a certificação, como disse Eduardo na entrevista concedida à nossa equipe.
Os aprovados são obrigados a incluir no estatuto o compromisso com a geração de benefícios sociais e ambientais para toda a comunidade. Isso garante que, em um momento de crise, as boas intenções não fiquem relegadas ao discurso.
Natura, Mãe Terra e Movida são algumas das empresas brasileiras que já são oficialmente consideradas empresas B. A Movida, última das três a ser certificada, tem o compromisso de compensar 100% da emissão de carbono até 2030.
Mas, é claro, não é preciso esperar ter o selo de empresa B para fazer diferente e fazer a diferença. Mais do que isso, não é preciso nem ser uma empresa.
Reconhecer a necessidade de transformação é o primeiro passo para pensar em ações (individuais, coletivas ou corporativas) que tornem a mudança possível. O segundo passo é buscar informações que o ajudem nessa transformação. Os artigos abaixo podem ser úteis para você seguir nessa jornada!
– Os países B e o bem-estar da população como métrica de sucesso
– Evolução dos ODS: Erradicação da pobreza e Fome zero e agricultura sustentável
– Saúde e bem-estar para todos
Boa leitura!
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