Entenda a importância da adoção dos princípios da economia circular no setor de alimentos e bebidas e conheça cinco negócios que estão liderando essa transformação
Já falamos sobre como transformar os sistemas alimentares pode ajudar a resolver uma série de problemas sociais e ambientais mundialmente, incluindo questões como mudanças climáticas, perda de biodiversidade, desnutrição e desigualdade.
A adoção de práticas circulares, que evitam o desperdício e maximizam o uso de todos os recursos, é uma das chaves para a transformação desse mercado.
Extrair, produzir, utilizar e descartar. Esse é o fluxo da economia linear. Nessa lógica, os recursos são extraídos para criar produtos que eventualmente acabam sendo jogados fora. Trata-se de um sistema poluente que degrada os sistemas naturais e impulsiona desafios globais, como mudanças climáticas e perda de biodiversidade.
Por outro lado, a economia circular busca redefinir o conceito de “fim de vida” dos produtos. Essa abordagem propõe que a vida útil dos materiais e produtos seja maximizada, mantendo os recursos em circulação ao invés de serem simplesmente descartados.
A economia circular baseia-se em três princípios:
1) Eliminar resíduos e poluição
Na economia circular, busca-se evitar a criação de resíduos desde a concepção dos produtos, seja pela escolha de materiais mais duráveis, pela redução do uso de insumos prejudiciais ou pelo design que facilita a reutilização.
2) Manter produtos e materiais em uso
O uso mais longo e eficiente dos produtos e materiais é outra característica da economia circular. Isso é possível por meio da reutilização, reparo, reciclagem ou remanufatura, garantindo que eles circulem pelo sistema em vez de serem descartados.
3) Regenerar a natureza
A economia circular concentra-se na restauração dos sistemas naturais, utilizando materiais e energias renováveis, e regenerando os recursos naturais, como solo e água, em vez de apenas explorá-los.
Ou seja, na lógica circular, o crescimento econômico não acontece às custas da degradação ambiental, promovendo um sistema mais resiliente e sustentável.
Nós já estamos usando mais recursos do que o planeta é capaz de repor anualmente. Se as tendências de produção atuais continuarem, precisaremos de três planetas até 2050 para sustentar a demanda de consumo.
De acordo com o Circularity Gap Report 2024, a extração e o uso de materiais são responsáveis por 70% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) e por 90% da perda de biodiversidade.
Isso significa que, se quisermos reduzir essas emissões e a perda de biodiversidade de forma significativa, devemos focar nos pontos críticos de consumo e produção insustentáveis, especialmente em setores de grande impacto, como a indústria, a construção civil e a agricultura.
Leia também:Como o setor privado pode impulsionar sistemas de produção e consumo mais sustentáveis
A aplicação dos princípios da economia circular no setor de alimentos e bebidas é crucial para enfrentar os desafios ambientais e sociais associados à perda de biodiversidade e às mudanças climáticas.
Análises da Ellen MacArthur Foundation, cuja missão é acelerar a transição para uma economia circular, mostram que, ao redesenhar os alimentos com ingredientes diversificados, de baixo impacto e cultivados de maneira regenerativa, é possível reduzir as emissões de GEE em até 70% e diminuir o impacto da agricultura sobre a biodiversidade em até 50% até 2030.
Além disso, estima-se que essa transição pode gerar benefícios globais anuais de US$ 2,7 trilhões até 2050, por meio da produção regenerativa de alimentos, redistribuição de excedentes e reaproveitamento de coprodutos.
O relatório O grande redesenho de alimentos defende que a economia circular pode transformar os sistemas alimentares, criando um ciclo regenerativo que beneficia a natureza, os agricultores e as empresas.
O estudo apresenta o conceito de “design circular para alimentos” como uma abordagem que combina os princípios da economia circular – eliminar resíduos e poluição, circular produtos e materiais, e regenerar a natureza – com o processo de criação e desenvolvimento de alimentos.
Segundo a análise, estas são algumas das ações fundamentais para tornar os processos de produção de alimentos e bebidas mais circulares:
Leia também: Café justo e regenerativo: 5 negócios de impacto para inspirar transformações no setor
Bagaço de uva que vira sapato, cervejas feitas de restos de pão e cascas de nozes que viram adubo orgânico.
Quando a economia circular faz parte dos processos dos sistemas alimentares, “nada se perde, tudo se transforma”.
As empresas que listamos a seguir mostram como aplicar princípios da economia circular no setor de alimentos e bebidas, gerando impacto socioambiental positivo.
Saimon Skurichin liderava uma ONG contra o desperdício de alimentos e estava buscando maneiras de reutilizar o excesso de pão doado. Ao notar uma semelhança entre pão e cerveja, ele teve a ideia de criar uma “cervejaria circular”, focada em minimizar o desperdício e transformar resíduos alimentares em bebidas e produtos sustentáveis. Assim nasceu a BRØL.
A empresa transforma pães que seriam jogados fora e outros resíduos alimentares em cerveja, cidra, coquetéis, refrigerantes e até energéticos.
Com um processo de produção sustentável, a BRØL usa um filtro de mosto que permite reaproveitar diversos ingredientes, reduzindo o desperdício ao máximo. Além disso, a cervejaria faz parcerias para aproveitar subprodutos da fermentação em novos alimentos e produtos.
Saiba mais: broel.nu
Estima-se que a produção de vinhos gere 12 milhões de toneladas de resíduos anualmente. Esse volume, por si só, já é um problema. Mas há, ainda, o impacto ambiental causado por seu descarte inadequado – algo mais comum do que deveria.
Com o objetivo de resolver esse problema, a produtora de vinhos Ethicdrinks realizou uma parceria com a marca de moda Minuit sur Terre para criar tênis ecológicos utilizando o subproduto da produção de vinho.
As solas dos tênis são feitas com uma mistura de borracha reciclada e resíduos de uva, que geralmente seriam descartados, dando uma nova utilidade a esse material e reduzindo seu impacto ambiental.
Saiba mais: ethicdrinks.fr
Essa empresa utiliza embalagens de Plástico Bio Circular. Este é um tipo de plástico sustentável que é produzido a partir de matérias-primas renováveis. No caso das embalagens da 3Bears Food, o bioplástico é feito com óleo de tall (um subproduto da produção de papel), óleo de cozinha usado e resíduos da agricultura e silvicultura.
O diferencial desse plástico é que ele não precisa de terras agrícolas para ser produzido, ajudando a preservar o meio ambiente. Esse material faz parte da nova geração de plásticos sustentáveis (Bio Circular PE) e possui certificações, como a ISCC, que garantem que ele segue os mais altos padrões de sustentabilidade.
Além disso, outro projeto circular da 3Bears Food é a iniciativa para combater o desperdício de alimentos, permitindo que os consumidores comprem produtos próximos ou até mesmo após a data de validade com grandes descontos.
Saiba mais: 3bears.de
Em vez de queimar os resíduos da sua produção de amêndoas, a Canelo desenvolve práticas alinhadas à economia circular para reaproveitar as cascas das nozes de diversas maneiras.
As cascas mais grossas são espalhadas pelo terreno onde a indústria fica para melhorar a permeabilidade do solo, ajudar a evitar a lama em dias de chuva, controlar a erosão e reduzir a poeira no ar – o que também auxilia no controle de pragas. Já as cascas mais finas são compostadas e depois incorporadas ao solo como adubo orgânico, enriquecendo-o com nutrientes.
Além disso, a Canelo está desenvolvendo um projeto de geração térmica com biomassa, utilizando cascas para aquecer as plantas de processamento, o que reduzirá o consumo de gás e eletricidade. Por fim, a empresa também está realizando uma parceria com a Universidade de Buenos Aires para isolar nutrientes das cascas e aplicá-los como aditivos na indústria alimentícia.
Saiba mais: canelopatagonia.ar
Essa empresa nasceu com o propósito de dar um novo destino aos resíduos orgânicos, principalmente restos de podas de árvores na região de Chicureo, no Chile. Em vez de queimar esses resíduos, eles produzem compostos orgânicos a partir da trituração e de processos de compostagem.
Além disso, implementaram a lombricultura, que utiliza minhocas para transformar resíduos domésticos em húmus (um composto orgânico utilizado para melhorar a estrutura do solo).
A partir desses processos, a Chicureo Sustentable desenvolveu uma linha de substratos que fornecem nutrientes orgânicos para diversos tipos de flora e vegetação. Todos os produtos são derivados de fontes renováveis, orgânicas e não adulteradas.
Saiba mais: chicureosustentable.cl
Leia também: Borra de café pode virar cogumelo?
Ficou interessado em conhecer outras empresas que estão transformando o mercado de alimentos e bebidas por meio da adoção de práticas que beneficiam as pessoas e o planeta?
Temos uma boa notícia: o Estudo B #7 vai contar as histórias de mais de 100 empresas que estão ajudando a tornar esse mercado justo e regenerativo!
O novo relatório da série Estudos B será um guia sobre inovação, tendências e histórias de impacto no setor de alimentos e bebidas na América Latina (de onde viemos – e para onde sempre olhamos) e Europa (onde parte da nossa equipe está baseada).
Com o objetivo de atrair mais marcas para participar dessa iniciativa, criamos um plano de patrocínio para o Estudo B #7. Recentemente, o projeto ganhou um parceiro importante: a consultoria Dreams & Purpose, comandada por Leonardo Lima, que tem uma vasta carreira na indústria de alimentos.
Se você quer trazer sua marca para este estudo inovador que conectará o Sul e o Norte Global por meio de histórias de impacto no setor de alimentos e bebidas, envie uma mensagem ou entre em contato com João Guilherme Brotto, cofundador d’A Economia, pelo LinkedIn.
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