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Desigualdade S.A.: a relação entre a desigualdade e o poder corporativo

Desigualdade S.A.
Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Desigualdade S.A., relatório divulgado pela Oxfam às vésperas do Fórum Econômico Mundial, revela que o mundo levará quase 230 anos para acabar com a pobreza

Começou ontem (15 de janeiro), em Davos (Suíça), o Fórum Econômico Mundial, encontro anual da elite econômica e política global.

Desde 2015, com objetivo de garantir que o combate à pobreza e às desigualdades esteja em pauta no Fórum, a Oxfam divulga às vésperas do evento um relatório revelando o que chama de “bastidores dos grandes números, lucros e fórmulas para a prosperidade apresentados em Davos” – “quase sempre com histórias de fome, baixos salários, extrema pobreza, paraísos fiscais, sonegação fiscal e crises humanitárias”, acrescenta a organização.

Desigualdade S.A. – Como o poder corporativo divide nosso mundo e a necessidade de uma nova era de ação públicaIntitulado Desigualdade S.A. – Como o poder corporativo divide nosso mundo e a necessidade de uma nova era de ação pública, o estudo revela como os super-ricos criaram uma nova era de poder corporativo e monopolista que garante lucros exorbitantes e também controle sobre as economias dos países. 

Além disso, o documento aponta como essas corporações alimentam as desigualdades “pressionando trabalhadores, negando direitos, evitando o pagamento de impostos, privatizando o Estado e destruindo o planeta”.

 Desigualdade S.A. – Como o poder corporativo divide nosso mundo e a necessidade de uma nova era de ação pública

Spoilers do relatório:

  • 129 milhões de brasileiros ficaram mais pobres desde 2020, enquanto 4 dos 5 bilionários mais ricos do país aumentaram sua riqueza em 51%;
  • Se cada um dos cinco homens mais ricos do mundo gastasse um milhão de dólares por dia, eles levariam 476 anos para esgotar toda sua fortuna combinada;
  • Em termos globais, os homens possuem 105 trilhões de dólares em patrimônio a mais do que as mulheres – a diferença é equivalente a mais de quatro vezes a economia dos Estados Unidos;
  • Uma trabalhadora do setor de saúde levaria 1.200 anos para ganhar o que um CEO de uma das 100 maiores empresas da lista da Fortune ganha em média por ano;
  • O mundo poderá ter seu primeiro trilionário em uma década, mas levará quase 230 anos para acabar com a pobreza.

Apesar do panorama atual preocupante, a Oxfam conclui o estudo (disponível aqui) com uma nota de esperança, apresentando caminhos para a construção de uma economia para todos.

Na edição desta semana da Newsletter do Farol – que você pode ler aqui –, apresentamos histórias que corroboram essa visão, além, claro, da curadoria das últimas notícias que importam para pessoas e organizações que desejam pensar e fazer negócios a partir de uma perspectiva que coloca as pessoas e o planeta em primeiro lugar.

Desinformação e mudanças climáticas lideram ranking de riscos globais

Por falar em Fórum Econômico Mundial (WEF), na semana passada, a organização apresentou a 19ª edição do Global Risks Report, relatório que analisa os principais desafios enfrentados no momento (e aqueles no horizonte) e apresenta as opiniões de mais de 1.400 especialistas sobre como superá-los.

De acordo com o estudo, o principal risco a curto prazo (dois anos) é a desinformação. O topo da lista de riscos no longo prazo (dez anos) é ocupado pelos eventos climáticos extremos.

Global Risks Report 2024

Ou seja, enquanto os riscos para os próximos dois anos se dividem quase de forma equilibrada entre as cinco categorias (riscos econômicos, ambientais, geopolíticos, sociais e tecnológicos), quando o olhar é para uma década, as grandes questões giram em torno dos riscos ambientais, tecnológicos e sociais.

Na apresentação do relatório, o WEF detalhou que os respondentes discordam sobre a urgência dos riscos ambientais, especialmente a perda de biodiversidade e o colapso de ecossistemas e a mudança crítica nos sistemas terrestres.

“Respondentes mais jovens tendem a classificar esses riscos muito mais altamente ao longo do período de dois anos em comparação com grupos etários mais velhos, sendo que ambos os riscos estão entre os 10 principais em suas classificações a curto prazo”, informa a organização.

Além disso, a nota revela que o setor privado destaca os riscos ambientais como principais preocupações a longo prazo, ao contrário dos respondentes da sociedade civil ou do governo, que priorizam esses riscos em prazos mais curtos. “Essa dissidência nas percepções de urgência entre os principais tomadores de decisão implica em alinhamento e tomada de decisão sub-ótimos, aumentando o risco de perder momentos-chave de intervenção”, avalia,

A partir de uma análise sobre os riscos mapeados, o relatório convoca os líderes a reavaliar suas estratégias diante desses desafios e destaca a necessidade de cooperação global para desenvolver proteções contra riscos emergentes, como acordos que lidem com a integração da inteligência artificial na tomada de decisões em conflitos.

Por fim, o documento sugere ações adicionais, incluindo o fortalecimento da resiliência individual e estatal por meio de campanhas educacionais sobre desinformação e a promoção de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias climáticas para impulsionar a transição energética, envolvendo tanto setores público quanto privado.

“O futuro não está fixo. Uma multiplicidade de futuros diferentes é concebível ao longo da próxima década. Embora isso gere incerteza a curto prazo, também permite espaço para a esperança. Ao lado dos riscos globais e das mudanças que definem a era em andamento, existem oportunidades únicas para reconstruir a confiança, o otimismo e a resiliência em nossas instituições e sociedades”, aponta Saadia Zahidi, diretora administrativa do WEF.

Reconstruir a confiança, aliás, é o tema do encontro deste ano do Fórum Econômico Mundial. Acompanharemos os desdobramentos do evento para ver o que a elite política e econômica do planeta vai propor neste sentido.

→ O Global Risks Report na íntegra (em inglês) está disponível aqui.

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Natasha Schiebel

Natasha Schiebel é cofundadora e Editora-chefe d'A Economia B.

Jornalista por paixão e formação, Natasha acredita que boas histórias têm o poder inspirar transformações, e aplica essa lente no seu trabalho.

Natasha é líder climática certificada pelo projeto Climate Reality e especialista em jornalismo de soluções.

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