Entenda o que é design Cradle to Cradle, conheça uma empresa B que segue esse modelo e saiba o que levar em conta na produção de um produto circular
100 bilhões de toneladas. Essa é a quantidade de materiais produzidos em apenas um ano em todo o globo. Agora, tendo esse número assustador em mente, pense o seguinte: onde vão parar todos esses materiais?
Segundo o relatório Circularity Gap, apenas 8,6% deles são reciclados e retornam para os meios de produção. Ou seja, a maior parte do que é produzido atualmente ainda segue o fluxo predominante no mercado há mais de dois séculos: vai parar no lixo.
Na lógica da economia linear, os materiais são extraídos da natureza e utilizados na fabricação de produtos que depois são simplesmente descartados – muitos deles, inclusive, voltando ao meio ambiente como poluentes.
Um resultado direto desse modelo é a degradação do ecossistema.
Para se ter uma ideia, de acordo com análises do Global Footprint Network, em 2021, já houve um aumento de 6,6% na pegada de carbono global, bem como a redução de 0,5% da biocapacidade florestal em todo o mundo.
Este último fator, aliás, está diretamente relacionado ao aumento do desmatamento na Amazônia – só no Brasil, 1,1 milhão de hectares foram perdidos em 2020. Além disso, estimativas para 2021 indicam um aumento de até 43% no desmatamento em relação ao ano passado.
Leia também: Bioeconomia e o futuro da Amazônia: como negócios sustentáveis podem ajudar a salvar a floresta |
A economia circular baseia-se em três princípios fundamentais:
1 – Eliminação de resíduos e poluição;
2 – Manutenção de produtos e materiais em uso;
3 – Regeneração de sistemas naturais.
Nesse sistema, os produtos são reaproveitados e/ou utilizados na produção de outros itens. Ou seja, não são apenas descartados.
Neste modelo (que, em tradução literal, quer dizer do Berço ao Berço), os recursos são geridos em uma lógica circular de criação e reutilização, em que cada passagem de ciclo se torna um novo ‘berço’ para determinado material.
Portanto, quando um produto é desenvolvido com base nas premissas do design Cradle to Cradle desde o início, já no processo de extração de matéria-prima e produção se leva em conta a forma como aquele item será descartado (ou reutilizado).
No design Cradle to Cradle, os materiais são criados e empregados para dois ciclos distintos: a biosfera e a tecnosfera.
De acordo com a Ideia Circular, uma iniciativa de educação e comunicação sobre design circular e economia circular no Brasil, os materiais otimizados para o Ciclo biológico são biodegradáveis ou obtidos a partir de matéria vegetal e retornam seu valor como nutrientes biológicos de forma segura e positiva para os ecossistemas que vêm a alimentar.
Já materiais otimizados para o Ciclo técnico (denominados nutrientes técnicos), são utilizados de modo que circulem em ciclos industriais fechados – especialmente aqueles que não são produzidos de forma contínua pela biosfera (não-renováveis), como metais ou plásticos, por exemplo.
Além disso, enquanto no sistema atual de produção, esses materiais são usados apenas uma vez (ou algumas vezes, se reciclados através de técnicas convencionais) para então serem incinerados ou descartados em aterros sanitários, o design Cradle to Cradle propõe que eles alimentem continuamente a geração de novos produtos.
Por que a economia circular é tão relevante para diminuirmos significativamente a emissão de carbono globalmente?
Esse foi um tema frequente na Cúpula do Clima*. A Positiv.a, uma empresa B que cria produtos de higiene, autocuidado e limpeza de forma ecologicamente responsável, foi uma das que trouxe esse assunto à tona.
No evento, Marcella Zambardino, sócia e diretora de Produtos da Positiv.a, apontou que a melhor maneira de entender a economia circular e o design cradle to cradle é observando a natureza. “O meio ambiente funciona em ciclos e não existe desperdício. Não existe um resíduo que não seja útil para uma outra vida”, refletiu.
Marcella reforçou que não é possível continuar apenas consumindo a natureza sem responsabilidade, e destacou: “não existe ser humano saudável em um planeta doente”.
Abaixo, apresentamos três dos itens desenvolvidos pela empresa.
Produzida em agricultura familiar e orgânica, a bucha vegetal da Positiv.a é compostável. Ou seja, ao contrário das buchas plásticas, que poluem o meio ambiente, esse produto vira adubo para a terra.
Os ecopads são reutilizáveis e, portanto, geram menos lixo. Assim, funcionam como uma alternativa para substituir os discos de algodão de uso único.
Produto 94% biodegradável (as cerdas não são biodegradáveis), a escova de dente de bambu pode ser compostada depois de três a quatro meses de uso.
Mas não é apenas por meio do design cradle to cradle e da preocupação com os processos de produção e descarte de seus produtos que a Positiv.a busca ser melhor para o mundo. Além disso, a companhia também atua para diminuir o impacto socioambiental de suas produções. Para isso, faz parcerias e gera renda para pequenos produtores que praticam agricultura sustentável.
Um exemplo de posicionamento da Positiv.a nessa linha é o programa de reciclagem de redes de pesca. “Compramos redes de pesca que seriam jogadas no fundo do mar. Incentivamos os pescadores a trazerem para areia e compramos essas redes, fomentando a economia local e conscientizando eles sobre a importância da economia circular”, contou Marcella. Ela detalhou ainda que as redes coletadas são utilizadas na produção de outros produtos – como sacos para substituir as sacolas plásticas, por exemplo.
O relatório completo, com dados desde 2017, pode ser lido aqui.
Durante o Workshop de Design Circular Zero Carbono, Marcella Zambardino e Nathalie Gil, líder de Gestão na Positiv.a, falaram sobre as premissas que devem ser adotadas para que um produto nasça como uma solução zero de carbono.
*Este artigo sobre Design Cradle to Cradle e o trabalho da Positiv.a faz parte da cobertura da primeira Cúpula Global do Clima, evento realizado pelo Sistema B e pelo B Lab entre 29/06 e 01/07/21. Assine nossa newsletter para receber todas as atualizações.
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