ESG

Como incorporar a sustentabilidade em todas as áreas do negócio

Fomos a Londres conhecer as melhores práticas de negócios responsáveis. A partir do que vimos no Responsible Business Europe 2023, organizado pela Reuters, apresentamos caminhos para impulsionar a sustentabilidade em sua organização

Crises macroeconômicas, mudanças em regulamentações e pressões crescentes por parte dos stakeholders que entendem que não dá mais para fazer business as usual. 

Esse é o contexto que faz cada vez mais organizações se preocuparem em equilibrar a busca por lucro com estratégias e investimentos que garantam a aceleração de ações em prol de uma economia regenerativa. 

Para entender os desafios enfrentados pelas empresas nesse sentido e conhecer as principais práticas de negócios responsáveis na Europa, participamos do evento Responsible Business Europe 2023, realizado pela Reuters, em Londres.

Durante o encontro, líderes empresariais e profissionais da área de sustentabilidade debateram formas de impulsionar mudanças significativas e tomar decisões sustentáveis e lucrativas, equilibrando o sucesso e o lucro a curto prazo com estratégias e investimentos que impulsionem sustentabilidade e garantam a sobrevivência dos negócios a longo prazo.

A seguir, destacamos reflexões e dicas de alguns dos especialistas sobre como garantir que a sustentabilidade faça parte das estratégias da organização, não seja apenas um setor ou programa isolado. 

Sustentabilidade como estratégia

Foto: Cameron Prins

Falando sobre como equilibrar a busca por lucro com a aceleração das ações de sustentabilidade, Wouter Kolk, CEO da Ahold Delhaize, um grupo varejista belga, ressaltou que é fundamental sempre olhar as estratégias do negócio buscando resultados de sustentabilidade que tenham impacto nos resultados financeiros e vice-versa. 

Wouter Kolk

“Nós temos uma mentalidade que sempre busca aliar sustentabilidade e lucratividade. Como podemos combinar as duas coisas? Por exemplo, reduzir o uso de plástico e, assim, diminuir os custos e estar mais preparado para lidar com o aumento do custo da energia e a inflação. Nesse sentido, também estamos desenvolvendo uma forma de utilizar mais energia renovável para tornar nossa operação mais verde e também reduzir o custo da eletricidade”, destacou Wouter. 

Magali Anderson, Chief Sustainability and Innovation Officer na Holcim, uma multinacional suíça que fabrica materiais de construção, concorda com essa visão. Além disso, ela reforçou que o olhar para a sustentabilidade deve fazer parte de todas as decisões da empresa, e que é papel dos profissionais dessa área garantirem que o tema seja incorporado a tudo o que a empresa faz diariamente – em vez de um tópico funcional isolado.

“Frequentemente, digo à minha equipe que nosso objetivo deve ser desaparecer completamente em cinco a dez anos, porque isso significaria que fizemos nosso trabalho e a sustentabilidade está tão enraizada que não seremos mais necessários”, salientou. 

Ela frisou que a sustentabilidade está envolvida em todas as discussões da Holcim – desde estratégia até investimentos. 

Magali Anderson

Não se trata mais de falar sobre sustentabilidade separadamente, mas de integrá-la a todas as conversas. Acredito que, se não fizermos isso, será difícil verdadeiramente incorporar a sustentabilidade em tudo o que fazemos.

Um exemplo disso é a nossa nova estratégia para 2025, lançada há cerca de um ano e meio. Ela inclui tanto indicadores de sustentabilidade quanto indicadores de negócios e financeiros, o que demonstra claramente que consideramos a sustentabilidade tão importante quanto qualquer outro aspecto na nossa empresa.”

Leia também: Por que o conceito de ESG merece cuidado para não ser banalizado como sustentabilidade foi?

Educação + estratégia: a equação para engajar a organização na sustentabilidade

Foto: Cameron Prins

Mary Whitelaw, Chief Sustainability & Corporate Affairs Officer no AIB, um grupo irlandês de serviços financeiros, destacou que um caminho para garantir que toda a organização esteja engajada nas ações de sustentabilidade é a educação. Ela contou que na AIB, a capacitação nessa área é obrigatória.

“Nos últimos anos, implementamos treinamentos obrigatórios de ESG para todos os funcionários, incluindo o conselho de administração. Temos sessões de treinamento dedicadas à sustentabilidade para todos os membros do conselho de administração e também temos sessões específicas para o comitê de auditoria do conselho, que está desempenhando um papel mais ativo nas divulgações”, compartilhou. 

No entanto, ela reforçou que o mais importante para que todos estejam envolvidos nas ações de sustentabilidade é ter uma estratégia clara nesse sentido, com formas explícitas de acompanhamento e avaliação. 

Mary Whitelaw

Sua estratégia de sustentabilidade precisa estar integrada à estratégia de negócios. O conselho e o comitê executivo precisam conhecer e entender essa estratégia, as áreas de foco dentro dela e como avaliamos o sucesso e o progresso. Por essa razão, todos os membros do comitê executivo do AIB têm objetivos de sustentabilidade incorporados em suas avaliações de desempenho, que são então disseminados por toda a organização e são medidos, monitorados e gerenciados como parte do sistema de revisão de desempenho usual”, contou.

Segundo Mary, o foco em treinamento, os objetivos claros e a avaliação posterior garantem que a empresa tenha a cultura correta e que todos entendam o papel que podem desempenhar na entrega dessa agenda.  

Nessa esteira, Wouter Kolk comentou que tópicos de sustentabilidade são responsabilidade de todos, na Ahold Delhaize. 

Não é apenas uma tarefa de um departamento ou especialista. É um trabalho coletivo – comercial, operacional, logística etc. Aliás, todos também são incentivados nesse sentido. Sendo assim, sempre buscamos desafiá-los a buscar soluções mais criativas para aliar sustentabilidade e lucratividade. Para isso, é importante criar um ambiente seguro, onde todos – até mesmo executivos seniores – se sintam à vontade para fazer perguntas para aprender mais sobre sustentabilidade”, refletiu.

Ele também explicou que criar KPIs claros é uma forma de garantir que a sustentabilidade faça parte de todas as operações.

Temos indicadores-chave de desempenho muito simples, que envolvem, claro, vendas e lucro, mas também incluem redução de CO2, de desperdício de alimentos e de plásticos. Nós espalhamos esses KPIs até a linha de frente. Por exemplo, gerentes de lojas têm uma grande influência no desperdício de alimentos. Eles podem não tomar decisões sobre refrigeração ou transporte, mas podem promover produtos mais saudáveis e sustentáveis. Então, nossos KPI podem ser medidos em nível de loja, nível de gerente de categoria, nível de marca e nível global. Isso ajuda porque todos falam a mesma língua. Todos pensam em soluções”, declarou. 

Leia também: B For Good Leaders Summit: transformando compromissos por uma economia regenerativa em ação

O papel do conselho para o avanço da agenda de sustentabilidade

Foto: Cameron Prins

Reforçando a importância do papel da liderança e do conselho de administração para que a agenda de sustentabilidade esteja integrada em todas as áreas da organização, Magali Anderson destacou que as decisões dos membros do conselho enviam uma mensagem clara sobre o posicionamento da empresa. 

“Seria maravilhoso pensar que cada funcionário prioriza a sustentabilidade porque compreende sua importância. Contudo, se não facilitarmos a ação em prol da sustentabilidade, as pessoas serão sobrecarregadas por inúmeras outras prioridades de todos os tipos. Portanto, alinhar objetivos e estratégias é absolutamente fundamental. Isso só pode acontecer no nível do comitê executivo e do conselho de administração. É o conselho que aprova a estratégia”, destacou. 

Ainda nessa linha, ela ressaltou que o alinhamento entre estratégias de sustentabilidade e objetivos financeiros facilita a implementação de ações sustentáveis em todos os níveis da organização. Quando essas duas questões caminham lado a lado, é muito mais provável que a sustentabilidade seja levada em conta no dia a dia da empresa. 

“É improvável que alguém vá trabalhar pela manhã pensando: ‘Ei, vou causar mais danos ao planeta hoje e estou feliz com isso’. Se as pessoas não estão agindo de forma sustentável, não é porque não entendem as mudanças climáticas, mas porque talvez não tenham as ferramentas adequadas. Por isso, concentramos nossos esforços em alinhar objetivos, garantindo que não haja contradições entre os objetivos financeiros e os objetivos de sustentabilidade, fornecendo a todos as ferramentas corretas”, salientou.

Leia também: Pedro Paro: “ESG não se sustenta sem cultura e liderança humanizada”

5 dicas para avançar na pauta da sustentabilidade

Imagem criada por Freepik

Agora é hora de transformar esses insights em ação. Para ajudá-lo nesse processo, transformamos as principais reflexões do artigo em dicas práticas que funcionam como um excelente ponto de partida para você avançar na pauta da sustentabilidade.

1) Faça da sustentabilidade um princípio norteador de todas as decisões da empresa

Em vez de tratar a sustentabilidade como um setor ou programa isolado, incorpore-a em todos os aspectos do negócio. Para isso, comece considerando o impacto ambiental, social e de governança de cada tomada de decisão, desde fornecedores até projetos de expansão.

2) Alinhe sustentabilidade e lucratividade

Em um mundo em que o lucro das empresas ainda é a grande métrica do sucesso, não contabilizar o impacto positivo que ações de sustentabilidade podem trazer para a saúde financeira do negócio é um grande erro estratégico. Portanto, sempre que for colocar em prática alguma ideia para tornar suas iniciativas mais sustentáveis, busque descobrir como ela ajuda a empresa a ser mais lucrativa.

Entre algumas possibilidades neste sentido estão:

  • Reduzir o uso de plástico;
  • Adotar energia renovável;
  • Promover práticas de eficiência energética para diminuir custos operacionais e impulsionar a sustentabilidade.
Leia também: Lixo plástico – Um problema coletivo que exige múltiplas soluções

3) Promova treinamentos sobre ESG e sustentabilidade

ESG e sustentabilidade são assuntos que precisam ser levados a sério. Portanto, merecem investimento em capacitação da equipe. Neste sentido, você pode promover treinamentos e workshops para aumentar a conscientização e o entendimento sobre temas importantes para o avanço da empresa nessa agenda.

Se precisar de ajuda nesse processo, conte com a gente. Nossas palestras e treinamentos são desenvolvidos para atender às necessidades específicas da sua empresa e da sua equipe. Todas as informações estão aqui.

4) Inclua indicadores de sustentabilidade na avaliação de desempenho

Cada meta referente ao avanço da sua empresa em pautas ESG e de sustentabilidade precisa ter indicadores de performance claros bem definidos. Afinal, só assim será possível monitorar o progresso, identificar o que precisa melhorar e celebrar as conquistas.

Portanto, no início do seu planejamento defina métricas de sustentabilidade que serão incluídas na avaliação de desempenho do time e garanta que elas sejam tão importantes quanto as métricas de resultado financeiro, por exemplo.

5) Envolva líderes e membros do conselho

Por fim, o comprometimento da liderança e do conselho de administração é fundamental para criar uma cultura de sustentabilidade. Suas decisões e ações devem refletir o posicionamento da empresa. Alinhe objetivos financeiros e sustentáveis, facilitando a implementação de ações sustentáveis em todos os níveis da organização.

Gostou do debate?

A série sobre as lições do Responsible Business Europe 2023 não termina aqui. Nos próximos artigos, falaremos sobre:

  • Cases que apontam o caminho para a descarbonização
  • Biodiversidade, regeneração e economia circular: diferentes estratégias de sustentabilidade em prática

Não perca!

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Publicado por
Francine Pereira

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