Estudos B

Café justo e regenerativo: 5 negócios de impacto para inspirar transformações no setor

Entenda os problemas socioambientais do mercado de café e conheça negócios de impacto que estão agindo para resolvê-los

Já tomou seu cafezinho hoje?

Repare na embalagem em que ele veio:

  • Tem alguma indicação sobre sua origem, sua forma de cultivo ou mesmo a identidade dos produtores?
  • O site da empresa diz algo sobre a condição de trabalho nas fazendas onde os grãos foram cultivados?

Essas são algumas informações importantes para saber de onde veio o grão do seu café e como ele foi produzido.

E por que isso é relevante?

Infelizmente, apesar de ser um dos setores mais importantes para a economia global, a indústria do café enfrenta uma série de problemas socioambientais e éticos. 

Você sabia, por exemplo, que a produção de café contribui para as mudanças climáticas por conta do desmatamento e perda de biodiversidade?

Além disso, o mercado também é conhecido por problemas como condições de trabalho precárias e desigualdade na cadeia de valor.

Conhecer essa realidade deixa um gosto amargo na boca, não é mesmo?

Mas o café não precisa ser sinônimo de degradação de ecossistemas e injustiça social. Aliás, pelo contrário. Existem diversas empresas ao redor do mundo que estão agindo para tornar o mercado justo e regenerativo.

Porém, antes de falarmos sobre cinco negócios que nasceram com o propósito de resolver os problemas do setor, precisamos olhar para esses desafios…

Desafios socioambientais da indústria do café

Foto de Katya Ross na Unsplash

O Coffee Barometer é uma publicação que examina as principais questões e desafios enfrentados pela indústria cafeeira global, com foco especial na sustentabilidade social, econômica e ambiental. 

O relatório analisa a cadeia de valor do café, desde a produção até o consumo, destacando as desigualdades econômicas, os impactos ambientais e as condições de trabalho que afetam milhões de pequenos produtores ao redor do mundo.

De acordo com o levantamento, um dos principais problemas desse mercado está relacionado à desigualdade na cadeia de valor. A publicação destaca que os agricultores enfrentam pobreza persistente e condições de vida precárias. Além disso, há uma necessidade urgente de adaptação às mudanças climáticas, que representam uma ameaça significativa para a produção de café.

O café é a principal fonte de sustento para milhões de pessoas em áreas tropicais. A maioria das fazendas de café é de pequeno porte, com 95% delas tendo menos de 5 hectares, e 84% com menos de 2 hectares. Muitos produtores têm poucas alternativas econômicas, e a produção de café é fundamental para as economias de diversos países que dependem das exportações desse produto.
[Coffee Barometer 2023]

A análise aponta que entre as questões-chave que precisam ser abordadas pelas empresas do setor para tornar o mercado mais justo e resiliente estão:

Renda de subsistência

O conceito de “living income” (renda de subsistência) está ganhando destaque na agenda de sustentabilidade do setor cafeeiro.

Muitas organizações e iniciativas têm adotado esse conceito, e o relatório destaca a importância de garantir que os produtores de café possam obter uma renda que cubra o custo de vida, tornando suas atividades agrícolas viáveis e sustentáveis. 

Dados de um levantamento da Universidade de Columbia apontam para a desigualdade prevalente nas cadeias de valor do café.

  • Em 8 dos 10 países analisados, a renda média obtida com a produção de café está na linha da pobreza ou abaixo dela.
  • O Brasil se destaca como o único país onde o produtor médio de café consegue uma renda líquida superior a alguns referenciais de renda de subsistência.
  • Uganda apresenta a maior disparidade em relação à renda de subsistência, com um produtor médio ganhando apenas US$ 88 por ano, enquanto os valores de referência para a renda de subsistência variam de US$ 2.000 a 6.000.

Salário digno

Apesar do grande número de trabalhadores empregados na indústria do café, a questão de garantir salários dignos para esses trabalhadores ainda é amplamente negligenciada.

Pesquisas mostram que os trabalhadores rurais na indústria cafeeira recebem salários que não atendem adequadamente às suas necessidades básicas. Esses salários não estão abaixo apenas das médias nacionais, mas também são inferiores aos salários médios pagos no setor agrícola em geral.

Mudanças climáticas

As mudanças climáticas podem reduzir drasticamente a produção global de café, especialmente da espécie Arábica, que é mais sensível a variações de temperatura.

Segundo o Coffee Barometer 2023, o aumento das temperaturas e as mudanças nos padrões de chuva podem tornar muitas das atuais áreas de cultivo inadequadas até 2050. A produção global de Arábica pode cair até 45,2%, enquanto a produção de Robusta pode diminuir 23,5%.

Ao mesmo tempo em que o setor é profundamente afetado pelas mudanças climáticas, os processos dessa indústria contribuem significativamente para o agravamento dessa crise, especialmente por conta do desmatamento e da perda de biodiversidade.

Aproximadamente 130 mil hectares de terras florestadas são perdidos anualmente devido à expansão das plantações de café, resultando em uma emissão anual estimada de cerca de 45 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
[Coffee Barometer 2023]

O caminho para transformar o setor cafeeiro

Foto de Shelby Murphy Figueroa na Unsplash

De acordo com o Coffee Barometer 2023, para transformar o mercado de café, promovendo mais justiça e sustentabilidade, é preciso:

  • Melhorar as práticas de comércio e políticas de aquisição, ajustando políticas de pagamento e preços para beneficiar diretamente os agricultores.
  • Adotar práticas sustentáveis de uso da terra, implementando agricultura regenerativa e agrofloresta para preservar a biodiversidade e serviços ecossistêmicos.
  • Estabelecer estratégias corporativas bem definidas, garantindo transparência, rastreabilidade e monitoramento nas cadeias de suprimentos.
  • Cumprir regulamentações obrigatórias, seguindo rigorosamente as novas leis da União Europeia sobre desmatamento e direitos humanos.
  • Apoiar proativamente os pequenos produtores, fornecendo suporte financeiro e técnico para ajudar agricultores a cumprir os padrões exigidos.

“É claro que a sustentabilidade não pode ser encarada como um objetivo final que será alcançado algum dia na indústria do café. A sustentabilidade deve ser vista como uma maneira de garantir os direitos humanos e combater a degradação ambiental, a injustiça social e a instabilidade econômica no setor.
[Coffee Barometer 2023]
 

5 negócios de impacto que estão ajudando a tornar o mercado de café justo e regenerativo

As empresas que fazem parte do setor cafeeiro têm um papel crucial na transformação social e ambiental do mercado. Elas têm a responsabilidade de garantir práticas sustentáveis e justas, impulsionando mudanças necessárias no mercado e nas cadeias de valor.

Ou seja, as empresas do setor de café podem ditar práticas de compra e garantir que os fornecedores adotem métodos sustentáveis e justos, ajudando a estabelecer padrões que beneficiem não apenas o meio ambiente, mas também os pequenos produtores e trabalhadores ao longo da cadeia.

E é justamente isso que muitas marcas ao redor do mundo já estão fazendo.

A seguir, conheça cinco empresas que, por meio de seus modelos de negócios e operações, estão revolucionando o setor cafeeiro.

Sancoffee (Brasil)

A Sancoffee é uma cooperativa de cafeicultores localizada em Campo das Vertentes, Minas Gerais. Seu modelo de negócios é focado no empoderamento dos produtores, ajudando-os a produzir café de alta qualidade de forma consistente e responsável. 

A Sancoffee afirma que valoriza o cultivo de relacionamentos a longo prazo, buscando prosperidade e impacto positivo nas comunidades locais. Para isso, a empresa fornece ferramentas de acesso ao mercado e apoio técnico contínuo aos pequenos produtores de café das comunidades onde atua. 

Além disso, a Sancoffee também tem um forte compromisso com a sustentabilidade, sendo inclusive uma das primeiras cooperativas de café no Brasil a alcançar a neutralidade de carbono. 

Saiba mais: sancoffee.com

Caravela Coffee (Colômbia)

A Caravela Coffee é uma empresa que atua no setor de café especial, mas com uma abordagem diferenciada. Em vez de simplesmente comercializar café, a empresa se dedica a conectar as pessoas que estão envolvidas em todo seu processo de produção.

Essa empresa colombiana promove o que chama de “Aquisição Responsável de Café”, um modelo de compra e gestão da cadeia de suprimentos de café que vai além das certificações de sustentabilidade tradicionais. Na prática, o modelo prioriza iniciativas de compra justas, apoio contínuo aos produtores, sistemas rigorosos de garantia de qualidade e uma transparência total na cadeia de suprimentos, desde a fazenda até o produto final.

Uma das iniciativas de destaque da Caravela é o “Compasso da prosperidade”, um framework criado para avaliar e enfrentar os desafios ambientais, sociais e de governança nas fazendas de café com as quais trabalha. Por meio dessa ferramenta, é possível entender os custos totais das fazendas de café, o que permite desenvolver um modelo de precificação justo. “O objetivo é que os produtores não apenas sobrevivam, mas prosperem”, afirma a empresa.

Saiba mais: caravela.coffee

Buna (México)

A Buna se dedica a explorar os ecossistemas do México para entender melhor a biodiversidade e os solos do país. Além disso, a empresa faz parcerias com agricultores locais para ajudá-los a implementar práticas agroflorestais e a desenvolver processos de qualidade para suas colheitas.

O Programa de Conservação da Buna visa transformar a agricultura convencional em sistemas agroflorestais, promovendo ecossistemas biodiversos e sustentáveis. Esse programa se baseia em três pilares: desenvolvimento de sistemas agroflorestais, aquisição de matéria-prima de forma sustentável e uso de indicadores de conservação para medir o sucesso.

Por meio dessa iniciativa, a Buna colabora com comunidades locais para melhorar a produtividade, reduzir custos e estabelecer relações comerciais duradouras que incentivem a biodiversidade e a rentabilidade.         

Saiba mais: buna.mx

ØNSK (Dinamarca)

Um dos grandes impactos ambientais da produção do café é o desmatamento realizado para o cultivo do grão, que prejudica ecossistemas e a biodiversidade e contribui para as mudanças climáticas. Para resolver esses problemas, a produtora de café ØNSK produz o Café de Floresta.

Nesse modelo, ao invés de desmatar a área de produção do grão, o café é cultivado sob a sombra das árvores, dentro de florestas. O cultivo de café na floresta produz plantas mais saudáveis, um ecossistema equilibrado e solos mais ricos. Eles não nomeiam assim, mas o Café de Floresta pode ser também chamado de café agroflorestal.

Além disso, a sombra das árvores também é propícia para produção de outras culturas, como cacau e frutas, oferecendo fontes de renda adicionais para os agricultores. E ainda, segundo a empresa, uma floresta de café diversificada pode capturar de 35 a 45 toneladas de CO2 por hectare, o que é entre 3 e 4 vezes mais do que os campos de café convencionais.

Saiba mais: onsk.dk

Coffee Circle (Alemanha)

A Coffee Circule afirma ter o compromisso de estabelecer novos padrões para o comércio justo no mercado de café. Para isso, definiu sete critérios para a compra de café verde, focando em rastreabilidade, relacionamento direto com os produtores, alta qualidade, preços justos, cultivo sustentável, apoio a projetos locais e melhoria contínua.

A Coffee Circle mantém relações diretas e pessoais com os produtores, visitando-os regularmente para garantir confiança mútua, entender as condições locais e motivar a melhoria da qualidade.

Além disso, a empresa paga preços superiores aos do mercado por cafés de alta qualidade e, por meio da Fundação Coffee Circle, investe €1 por cada quilo de café vendido em projetos focados em água, saneamento, higiene e cultivo sustentável de café. Por fim, apoia pesquisas científicas para tornar o cultivo de café climate-smart. 

Saiba mais: coffeecircle.com  

VEM AÍ: Conheça outras empresas que estão revolucionando o mercado de alimentos e bebidas

Ficou interessado em conhecer outras empresas que estão transformando não só o setor de café, mas o mercado de alimentos e bebidas como um todo?

Temos uma boa notícia: o Estudo B #7 vai contar as histórias de mais de 100 empresas que estão ajudando tornar esse mercado justo e regenerativo!

O novo relatório da série Estudos B será um guia sobre inovação, tendências e histórias de impacto no setor de alimentos e bebidas na América Latina (de onde viemos – e para onde sempre olhamos) e Europa (onde parte da nossa equipe está baseada). 

Sua marca pode apoiar a publicação do report

Com o objetivo de atrair mais marcas para participar dessa iniciativa, criamos um plano de patrocínio para o relatório. Recentemente, o projeto ganhou um parceiro importante: a consultoria Dreams & Purpose, comandada pelo Leonardo Lima, que tem uma vasta carreira na indústria de alimentos. 

Se você quer trazer sua marca para este estudo inovador que conectará o Sul e o Norte Global por meio de histórias de impacto no setor de alimentos e bebidas, envie uma mensagem ou entre em contato com João Guilherme Brotto, cofundador d’A Economia, pelo LinkedIn.

Vá para a página inteira para visualizar e enviar o formulário.

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Francine Pereira

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