A crise climática é a principal preocupação dos jovens da geração Z. Por isso mesmo, o ativismo climático cresce e se fortalece diariamente neste grupo. Entenda a base desse movimento, conheça representantes dele e descubra quais são as principais demandas dos ativistas climáticos da geração Z
Não é preciso conviver com jovens da geração Z (que nasceram entre 1995 e 2003) para perceber que eles estão comprometidos com o futuro do planeta. Basta ligar a TV ou passar um tempo nas redes sociais.
Afinal, diariamente, ativistas como Greta Thunberg – a adolescente sueca que criou o movimento Fridays for Future e se tornou o maior símbolo do ativismo de sua geração – usam suas vozes para protestar e exigir das lideranças globais ações para combater a crise climática e garantir o futuro do planeta. E como disse a também ativista filipina Mitzi Jonelle Tan na abertura da Primeira Cúpula Global do Clima*, evento organizado pelo Sistema B e pelo B Lab, eles não estão preocupados em ‘medir palavras’.
Uma prova recente disso, aliás, aconteceu durante o Youth4Climate, evento realizado em setembro, na Itália, e que reuniu 400 jovens, de quase 200 países. Com o microfone nas mãos e a atenção de todos os presentes, Greta clamou:
“Não existe planeta B blá blá blá, economia verde blá blá, neutralidade do carbono até 2050, blá blá. Isso é tudo o que ouvimos de nossos chamados líderes: palavras. Palavras que parecem boas, mas não levaram a nenhuma ação. Nossas esperanças e sonhos são afogados em suas palavras e promessas vazias. (…) Convidam jovens para reuniões como esta e fingem nos ouvir, mas não o fazem. Nunca nos ouvem”.
Porém, apesar da visível insatisfação, a ativista segue esperançosa. No encerramento de sua fala, a garota de 18 anos, que há mais de dois faz greves escolares às sextas-feiras para exigir ação governamental no combate à crise climática, declarou: “é possível mudar as coisas”.
O comportamento da geração Z pode soar inspirador para millennials, Gen Xs, baby boomers etc. No entanto, os jovens de hoje não são simplesmente mais ativistas do que foram os das gerações anteriores. A principal motivação deles é a preocupação com o futuro do planeta.
Pesquisadores da consultoria Deloitte entrevistaram mais de 14 mil millennials e mais de 8 mil pessoas da geração Z, de 45 países, para produzir o estudo “Millennial & Gen Z Survey 2021”.
De acordo com o levantamento, a principal preocupação dos jovens da geração Z são as mudanças climáticas – em seguida, aparecem: desemprego, saúde, educação e assédio sexual.
Além disso, cerca de 60% de todos os entrevistados temem que o comprometimento das empresas em ajudar a combater a crise climática seja menor nos próximos anos, por conta dos desafios que a pandemia trouxe para as organizações.
Ou seja, como Clover Hogan aponta em um TED Talk, “o medo não é só fomentado pelo desenrolar da desgraça, mas pela crença de que os adultos, principalmente aqueles no poder, não se importam”.
Além de ativista climática, Clover, que é australiana e tem 22 anos, é fundadora da organização sem fins lucrativos “Force for nature”, que busca ajudar jovens preocupados com o planeta a transformar a ansiedade em ação.
O medo relatado por Clover – e comum a tantos jovens – tem um impacto direto na saúde dos ativistas climáticos da geração Z. “Os jovens de hoje não criaram essa realidade. Nós a herdamos. Porém, nos disseram que somos a última geração com uma chance de salvar o destino da humanidade. É de se admirar que haja uma epidemia de problemas de saúde mental?”, levanta Clover, também no TED.
Inclusive, a epidemia citada pela ativista é comprovada pelo estudo “Vozes dos jovens sobre ansiedade climática, traição governamental e dano moral: um fenômeno global”, recém-publicado pela revista científica The Lancet.
Dentre os mais de 10 mil jovens de 16 a 25 anos, de dez países (incluindo o Brasil), que participaram da pesquisa, 45% disseram sofrer de ansiedade climática.
Mitzi faz parte dessa estatística.
“Minha ansiedade climática, exacerbada pelo meu trauma climático, me consome”, declarou, na Cúpula Global do Clima. “Nós já estamos passando por eventos catastróficos, e as coisas vão piorar exponencialmente se as práticas de negócios atuais seguirem vigentes e se falsas promessas continuarem sendo feitas. Me faltam palavras para expressar quão insuficiente é o que temos feito hoje – especialmente o setor privado e os líderes mundiais – para tentar reverter esse cenário”, alertou.
A American Psychological Association (APA) define a ansiedade climática (também chamada de eco-ansiedade) como “o medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental que ocorre ao observar o impacto, aparentemente irrevogável, das mudanças climáticas gerando uma preocupação associada ao futuro de si mesmo e das gerações futuras”.
Estresse, quadros leves de ansiedade, distúrbios do sono, nervosismo e, em quadros mais graves, sensação de asfixia ou inclusive depressão são alguns dos sintomas desse mal que ainda não é considerado uma doença, mas já afeta milhares de pessoas da geração Z globalmente.
“Para proteger a saúde mental e o bem-estar dos jovens, os que estão no poder devem agir para reduzir stress e angústia através do reconhecimento, compreensão e validação dos medos e da dor dos jovens, reconhecendo os seus direitos e colocando-os no centro da elaboração de políticas”, apontam os pesquisadores.
Os dados apresentados até aqui deixam claro que os jovens da geração Z não estão felizes com o atual momento do planeta. Porém, ao mesmo tempo, a pesquisa da Deloitte mostrou que uma boa parcela deles acredita que o futuro pode ser melhor.
68% dos millennials e 65% dos Zs que participaram do levantamento disseram que se sentem mais otimistas com a possibilidade de reverter a crise climática, depois de observarem as mudanças ambientais que aconteceram durante a pandemia (como, por exemplo, a diminuição da poluição registrada em São Paulo nas primeiras semanas da quarentena).
Aliás, no recorte brasileiro (a consultoria entrevistou 500 millennials e 300 jovens da geração Z), o otimismo é ainda maior. O índice de otimistas no primeiro grupo é de 77%, e de 75% no segundo.
Por fim, 45% dos millennials e 41% dos Zs brasileiros acreditam que haverá melhora no compromisso das pessoas em tomar medidas pessoais em relação às questões ambientais e climáticas após a pandemia.
É nesse contexto que as ativistas brasileiras participantes do painel “Os líderes do agora: jovens pelo clima”, da Cúpula Global do Clima, estão inseridas.
Durante o debate, Amanda Costa, ativista climática e delegada brasileira do Youth 20 2021, destacou os fundamentos das propostas que ela e as demais delegadas brasileiras apresentaram no evento. São eles:
Youth 20 reúne delegados da União Europeia e dos 19 países com as maiores economias do mundo e permite que os jovens discutam questões globais e proponham soluções a líderes mundiais. O documento com todas as propostas apresentadas pelos participantes está disponível aqui. |
“Não dá para falar sobre crise climática sem colocar mulheres pretas e indígenas na mesa de discussão. Não dá para ser ambientalista sem ser antirracista. E quando a gente trata de justiça climática, é muito importante frisar essa parte, porque foram os países colonizadores, do norte global, que no seu sistema de dinâmica do mundo exerceram grande parte desses desafios que a gente está vivendo hoje. A gente tem responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Ou seja, todo mundo vai sofrer a crise do clima, mas temos grupos específicos que já estão sofrendo esses principais impactos. E esses grupos específicos precisam de suporte, mas sem ter a sua narrativa e sem ter o seu lugar de fala usurpados.”
“Sou jovem, sou ousada e proponho que até 2025 os países acelerem a transição energética. Eu acho superengraçado quando a galera mais velha começa a falar em crédito de carbono. A gente não precisa taxar o carbono, a gente precisa migrar para energia eólica e energia solar. A gente não tem mais tempo. E se nós, enquanto sociedade civil e enquanto segundo setor, enquanto empresas e corporações, se a gente não assumir esse protagonismo, o Brasil vai perder uma grande oportunidade de liderar essa transição, porque o nosso governo não vai puxar essa pauta. Temos que assumir uma postura assertiva, ousada, criativa e propositiva para mudar a dinâmica das construções sociais, econômicas e ambientais.”
Leia também: O acesso à energia e a pandemia de Covid-19 Como as empresas podem contribuir para o avanço do ODS 7 – Energia limpa e acessível para todos |
“A gente precisa trazer essa pauta para a base curricular. Não dá para a gente ter a mesma educação tradicional que a gente teve até hoje e achar que vamos criar os líderes do amanhã. É necessário investimento na base.”
Propositalmente, trouxemos para este artigo sobre o ativismo climático da geração Z declarações de jovens de diferentes países – Greta, da Suécia; Mitzi, das Filipinas; Clover, da Austrália e Amanda, do Brasil. Elas representam uma pequena amostra desse grupo, que fica cada dia maior. Há jovens em cada pedacinho do mundo fazendo sua parte para garantir o futuro do planeta. Porém, essa não é uma luta que eles vencerão sozinhos.
Neste sentido, Flora Bitancourt, cofundadora da Impact Beyond e da Socialab Brasil, que foi a apresentadora da programação brasileira da Cúpula Global do Clima, encerrou o painel “Os líderes de agora: jovens pelo clima” com uma provocação: “A gente precisa dar espaço para mesas mais plurais, a gente precisa dar espaço para diálogos que enxerguem a realidade do nosso Brasil, um Brasil diverso, um Brasil de uma população negra, trans, LGBTQIA+, uma população indígena que não pode mais ser massacrada”.
Destacando as jovens da geração Z que tinham acabado de apresentar suas ideias, Flora questionou: “Qual é a cadeira que você pode ceder para que elas se sentem? Qual espaço você pode abrir para que elas entrem com essa mensagem poderosa?”.
Que essa reflexão, junto com todas as demais proporcionadas pela cobertura que fizemos a partir Cúpula Global do Clima, ajudem você a ser parte da mudança que quer ver no mundo.
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