Construção, Indústria e Transporte representam juntos 94% da demanda energética global. Estudo revela que, por meio de ações simples, é possível reduzir em 31% o consumo de energia desses setores, gerar economias anuais de até US$ 2 trilhões e ajudar a mitigar a crise climática
Em maio de 2024, a temperatura média global foi a mais alta já registrada para o mês, atingindo 1,52°C acima dos níveis pré-industriais (1850-1900). Além disso, essa marca histórica também levou ao 12° mês consecutivo de recordes de calor.
Cientistas alertam que, no cenário atual de emissões de gases de efeito estufa (GEE), a tendência de aquecimento deve continuar. Entre 2024 e 2028, a temperatura média global na superfície deverá aumentar entre 1,1°C e 1,9°C, com 86% de probabilidade de pelo menos um desses anos alcançar uma nova marca histórica.
Atualmente, a maior parte das emissões de GEE é proveniente da queima de combustíveis fósseis para geração de energia. Estima-se que o setor energético seja responsável por 73,2% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2), que contribuem diretamente para o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Nesse contexto, é crucial transformar o sistema global de produção e consumo de energia, com foco na redução da demanda e no aumento da eficiência energética.
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O potencial da diminuição da demanda de energia
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), mais de 80% das reduções necessárias até 2030 podem ser alcançadas por meio de ações como o aumento da adoção das energias renováveis, melhoria da eficiência energética, redução das emissões de metano e ampliação da eletrificação.
Levando em conta o fato de que Construção, Indústria e Transporte representam 94% da demanda energética global, um relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF) identificou intervenções viáveis em cada um desses setores que poderiam reduzir sua intensidade energética em cerca de 31% a 42%.
Segundo o WEF, se aplicadas globalmente até 2030, essas intervenções permitiriam manter a produção global com menos energia, reduzindo a demanda em 19% abaixo dos níveis previstos com as políticas atuais. Além disso, essas medidas levariam a uma melhoria anual na eficiência energética de 4,6%, ultrapassando a meta global de aumentar a eficiência em mais de 4% para atingir a neutralidade energética.
O estudo aponta ainda que tais estratégias seriam financeiramente vantajosas, custando uma fração do investimento necessário para a transição energética completa, com potencial de reembolso de até US$ 8 trilhões até 2030 e economias anuais adicionais de até US$ 2 trilhões, dependendo da variação nos preços da energia em resposta à redução da intensidade.
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Como reduzir a intensidade energética da Indústria
A Indústria representa cerca de 38% da demanda global de energia e é responsável por 21% das emissões de gases de efeito estufa. O relatório da WEF apresenta intervenções que poderiam reduzir a intensidade energética de processos industriais individuais em até 90%.
Se implementadas amplamente, essas medidas poderiam impulsionar uma redução na intensidade energética do setor de 29% em comparação com os níveis atuais, reduzindo a demanda global de energia em 11%.
O relatório da WEF organiza as sugestões de ações em três áreas: economia de energia, eficiência energética e colaboração na cadeia de suprimentos. Entre as iniciativas sugeridas estão:
- Desenvolvimento de processos inteligentes – como o uso de inteligência artificial para otimizar o design da linha de produção;
- Coleta e reutilização de resíduos de fabricação dentro das linhas de produção;
- Troca de motores convencionais por motores elétricos;
- Utilização de sistemas de cogeração (CHPs);
- Recuperação e reutilização de calor gerado nos processos industriais;
- Estabelecimento de hubs de energia e a implementação de soluções energéticas integradas.
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Como reduzir a intensidade energética da Construção
O setor de construção corresponde a cerca de 30% da demanda global de energia e gera aproximadamente um terço das emissões globais de gases de efeito estufa.
A energia é utilizada principalmente na construção, aquecimento e refrigeração (aproximadamente 50%), iluminação (cerca de 20%) e na operação de eletrodomésticos e equipamentos instalados nos edifícios (também cerca de 20%).
O estudo do WEF identificou intervenções capazes de reduzir a intensidade energética dos edifícios em aproximadamente 38%, o que resultaria numa redução de 12% na demanda global de energia.
Entre as ações recomendadas pelo relatório para economia de energia, aumento da eficiência energética e colaboração na cadeia de suprimento da construção estão:
- Modernização completa dos prédios, o que inclui a renovação de telhados, paredes e janelas, bem como a digitalização dos sistemas de gerenciamento predial;
- Instalação de equipamentos HVAC eficientes;
- Eletrificação do sistema de aquecimento;
- Implementação de sistemas de aquecimento e refrigeração em distritos;
- Programas de resposta à demanda.
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Como reduzir a intensidade energética em Transporte
O setor de Transporte representa 26% da demanda global de energia e é responsável por 21% das emissões de gases de efeito estufa.
Estima-se que as intervenções apresentadas no estudo do Fórum Econômico Mundial poderiam reduzir a intensidade energética dos processos de transporte em até 90%. Se aplicadas em larga escala, a intensidade energética do setor poderia cair 21%, resultando em uma redução de 5% na demanda global de energia.
Duas das ações recomendadas pelo WEF para reduzir a intensidade energética do setor de transporte são:
- Implementar um gerenciamento eficaz do tráfego;
- Adotar um planejamento de rotas otimizado e automatizado;
Esses, é claro, são apenas alguns dos destaques do relatório. Você pode ler o documento na íntegra (em inglês) e conhecer outras ações sugeridas, além de cases de cada um dos setores, aqui.