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O acesso à energia e a pandemia de Covid-19 (ODS 7)

Entenda o impacto da pandemia no acesso à energia limpa, confiável e a preço acessível para todos e saiba como a evolução do ODS 7 pode contribuir para a recuperação global pós-Covid-19

Objetivo de Desenvolvimento Sustentável #7:

Este conteúdo faz parte da série Pandemia de Covid-19 e os ODSClique aqui e confira todos os artigos sobre o impacto dessa crise na Agenda 2030. 

O que o acesso à energia tem a ver com a pandemia de Covid-19?

Assim como a água, a energia é um recurso fundamental na luta contra o novo coronavírus. 

  • Em primeiro lugar, hospitais e clínicas precisam de eletricidade para manter funcionando aparelhos que salvam vidas nessa.
  • Além disso, o acesso à energia é essencial para os cidadãos em quarentena. A eletricidade permite, por exemplo, que as pessoas possam trabalhar remotamente e para que os estudantes tenham acesso às aulas online.

Porém, assim como acontece com a água, a falta de acesso à energia segura e confiável é um problema que afeta milhares de pessoas ao redor do globo. 

➔ Em todo o mundo, 789 milhões de cidadãos não têm eletricidade em casa.
No Brasil, 990 mil pessoas não têm acesso à energia elétrica, segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA).

E ainda, um levantamento feito pela ONU em abril de 2020 em países em desenvolvimento identificou que um quarto das unidades de saúde pesquisadas não possuíam eletricidade e um quarto das unidades relatou interrupções não programadas que afetaram sua capacidade de fornecer serviços essenciais.

Ou seja, esses são alguns dos fatores que enfraquecem a resposta do sistema de saúde à pandemia e colocam muitas vidas em risco. 

É nesse cenário que fica ainda mais evidente a importância do alcance do sétimo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (que tem como meta central assegurar energia limpa, confiável e a preço acessível para todos, até 2030).

A relação entre a pandemia e o problema da falta de acesso à energia

O ODS 7 da Agenda 2030 teve avanços importantes na última década. O número de pessoas sem acesso à energia caiu de 1,2 bi em 2010 para 789 mi em 2018. Além disso, a taxa global de eletrificação saltou de 83 para 90%, no mesmo período. 

Segundo a International Renewable Energy Agency (IRENA), as energias renováveis têm sido fundamentais nesse sentido. Afinal, mais de 136 milhões de pessoas passaram a receber serviços básicos de eletricidade por meio de soluções independentes (off-grid) de energias renováveis. 

Contudo, análises apontam que, caso medidas mais assertivas não sejam tomadas, a meta de universalizar o acesso à energia limpa e acessível até 2030 não será alcançada. A última projeção da IRENA mostra que, no ritmo atual, cerca de 620 milhões de pessoas ainda não teriam acesso à eletricidade até o final desta década.

A agência indica que a taxa anual de eletrificação global teria que aumentar dos atuais 0,82 pontos percentuais para 0,87 pontos percentuais para fechar essa lacuna. 

No entanto, essa avaliação não levou em conta os impactos causados pela Covid-19!

A entidade relata que a pandemia deve afetar diretamente o ritmo de eletrificação, desacelerando e, em alguns casos, até mesmo revertendo os avanços alcançados.

Já há alertas, por exemplo, de que esta crise pode frear os investimentos e os avanços em energia limpa e renovável. A Agência Internacional de Energia (IEA) prevê que os investimentos nessa área podem cair de 10 a 15% em 2021.

Indo além, a IEA destaca que, nos últimos anos, a queda dos custos e o forte apoio político tornaram as energias renováveis cada vez mais atraentes e competitivas em muitas economias. Todavia, a crise gerada pela pandemia deve mudar esse cenário. 

A entidade aponta que o setor de energia limpa e renovável enfrenta três grandes desafios atualmente: 

  • Interrupções na cadeia de suprimentos que podem levar a atrasos na conclusão de projetos.
  • Risco de não poder se beneficiar dos incentivos governamentais.
  • Provável diminuição do investimento devido à pressão nos orçamentos públicos e privados, combinada com a incerteza sobre a demanda futura de eletricidade.
Imagem: Liter of light

Além disso, análises apontam que cerca 50% das empresas de energia off-grid (redes independentes que alimentam áreas remotas, onde não há sistemas de distribuição de eletricidade) não devem sobreviver à crise gerada pela Covid-19. 

Durante a pandemia, só a venda de equipamentos de energia solar caiu 26% em todo o mundo, segundo dados da associação global para a indústria de energia solar off-grid, GOGLA. 

Com isso, estima-se que cerca de 5 milhões de pessoas deixaram de se beneficiar da eletricidade solar limpa e segura.

Nesse cenário, segundo levantamentos da IEA, este ano a população sem acesso à eletricidade pode aumentar pela primeira vez desde 2013.

Ou seja, se antes da pandemia a meta de levar energia limpa e acessível para todos até 2030 já era desafiadora, a crise da Covid-19 pode tornar essa missão ainda mais complexa. E a estagnação desse ODS afeta de maneira direta também outras áreas importantes para o desenvolvimento sustentável…

Imagem: Manuel Elias/ONU

“A mudança climática continua sendo a maior ameaça à humanidade a longo prazo. Retardar a transição para energia limpa comprometerá seriamente nossa luta contra as mudanças climáticas. Ademais, sem garantir acesso universal a serviços de energia modernos, confiáveis e acessíveis, muitos ODS estarão em risco, uma vez que a energia está fortemente interligada com o progresso na erradicação da pobreza, igualdade de gênero, segurança alimentar, saúde, educação, água potável e saneamento, empregos, inovação, transporte e outros objetivos”, destaca Liu Zhenmin, Secretário Geral Adjunto para assuntos Econômicos e Sociais da ONU, em um relatório sobre a necessidade da tomada de ações para o avanço do ODS 7. 

Energias limpas e a recuperação pós-pandemia

Frente às dificuldades geradas pela pandemia, especialistas concordam que é crucial redobrar os esforços para o avanço da universalização do acesso à energia. Essa, aliás, é uma questão importante não apenas para o enfrentamento dessa crise, mas também para acelerar a recuperação e construir um futuro mais sustentável e resiliente para todos. 

A IRENA aponta que o mercado de energias renováveis também está sendo afetado com essa crise. Contudo, a agência afirma que esse é um setor muito resistente e que também se tornou mais acessível nos últimos anos, podendo se tornar uma alternativa interessante na fase de recuperação econômica. 

O papel do poder privado no avanço do ODS 7

O poder privado pode contribuir diretamente para que o ODS 7 avance nos próximos anos. Para isso, é possível, por exemplo:

  • Criar serviços e tecnologias que contribuam para a democratização do acesso à energia limpa e confiável.
  • Ter processos para garantir a eficiência energética de suas operações.
  • Oferecer condições de trabalho e salários justos, que permitam aos colaboradores acesso à energia segura.

Quer entender melhor o papel das organizações para o avanço do ODS 7? 

Leia a segunda parte deste artigo. Nela, apresentamos boas práticas nesse sentido e empresas que estão agindo para garantir que todos tenham acesso a esse serviço fundamental. 

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Publicado por
Francine Pereira

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