Relatório “Horizon 2030 – As forças motrizes da mudança sustentável de agora até o final da década” revela como a inovação e soluções que já existem podem facilitar a jornada carbono zero
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) recomenda que as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) sejam reduzidas pela metade até 2030 se quisermos estar no caminho certo para atingir a meta carbono zero até 2050. Além disso, o fim desta década é a data-alvo para a realização dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Porém, o último relatório da Organização das Nações Unidas que monitora o progresso dos ODS revela um cenário preocupante: entre todas as metas da Agenda 2030, apenas duas caminham para serem alcançadas em 2030 – e oito estão retrocedendo. E segundo um estudo coproduzido pela University of Exeter e pela Stanford Doerr School of Sustainability, as emissões globais de carbono provenientes de combustíveis fósseis atingiram um recorde em 2023.
Apesar disso, como destaca a Springwise (plataforma global de inteligência em inovação) no relatório Horizon 2030, existem tecnologias e soluções que podem impulsionar mudanças a curto prazo.
Com insights de líderes globais em sustentabilidade, o estudo analisa o que chama de forças impulsionadoras da mudança sustentável de agora até o final da década e apresenta organizações e soluções inovadoras para resolver os problemas urgentes que o planeta enfrenta. Elas estão organizadas em sete temas-chave no cenário de inovação verde:
- Temperaturas extremas;
- Energias renováveis;
- Neutralidade de carbono;
- Hidrogênio verde;
- Remoção de carbono;
- Limites planetários;
- Como as empresas podem gerar impacto positivo.
A seguir, confira um resumo do que o relatório aborda em cada uma dessas áreas e conheça algumas das soluções e inovações apresentadas.
→ O relatório completo, em inglês, está disponível aqui.
#1 Adaptação a condições climáticas extremas
O ano passado foi o mais quente da história. Ao que tudo indica, esse recorde deve ser batido novamente em 2024.
A verdade é que, à medida que as mudanças climáticas se intensificam, as temperaturas extremas se tornarão “normais”. Adaptar-se a essa realidade climática será um impulsionador-chave da inovação verde.
Neste sentido, o relatório da Springwise destaca, por exemplo, que sensores avançados podem ajudar a manter os cidadãos seguros durante eventos climáticos extremos.
Inovação como solução
Com o objetivo de fornecer dados precisos e robustos a formuladores de políticas, planejadores urbanos e comunidades para embasar decisões sobre melhorias no ecossistema, a startup indiana Aurassure desenvolveu um sistema de dispositivos inteligentes de monitoramento ambiental.
Por meio de sensores sem fio, o sistema da Aurassure monitora dados meteorológicos (incluindo direção e velocidade do vento, umidade, temperatura e precipitação) e rastreia outras informações urbanas essenciais (como níveis de ruído, quantidade de luz UV e a presença de gases e partículas no ar).
Curadoria A Economia B:
A plataforma brasileira AdaptaBrasil MCTI oferece uma solução semelhante. Ela integra índices e indicadores de risco de impactos das mudanças climáticas no país, em oito setores estratégicos: recursos hídricos; segurança alimentar; segurança energética; saúde; infraestrutura portuária; desastres geo-hidrológicos; infraestrutura ferroviária; infraestrutura rodoviária. O objetivo é consolidar, integrar e disseminar informações que possibilitem o avanço das análises dos impactos da mudança do clima observados e projetados no território nacional, dando subsídios às autoridades competentes pelas ações de adaptação.
#2 Soluções para cumprir o compromisso com as energias renováveis
Durante a COP28, mais de 130 governos nacionais endossaram um compromisso de triplicar a capacidade global de energia renovável até 2030.
O setor de energia renovável demonstrou maturidade tecnológica com custos significativamente reduzidos na última década, mas o relatório Horizon 2030 destaca que há espaço para inovações cruciais, especialmente em tecnologias habilitadoras – como armazenamento de energia e transmissão.
“A grande aposta está na energia solar e eólica, ambas tecnologias maduras e as fontes mais baratas de nova geração na maioria dos países, com o custo dos módulos solares atualmente no seu ponto mais baixo. O problema com os sistemas solares é que eles não podem gerar eletricidade à noite, onde a energia eólica pode compensar a deficiência. Turbinas cada vez maiores geram mais energia, mas também tornam mais difícil obter aprovação pública e encontrar financiamento.”
Relatório Horizon 2030
Inovação como solução
Uma das inovações em destaque no relatório Horizon 2030 nesta área é o sistema de geração de energia eólica desenvolvido pela startup AirLoom Energy.
A fazenda de energia eólica da AirLoom Energy consiste em asas de 10 metros de comprimento orientadas verticalmente e presas a uma trilha leve, em vez de grandes pás de turbina montadas em torres altas.
As asas interceptam o vento, impulsionando-as ao longo da trilha e gerando energia. Sustentada por postes de 25 metros de altura, a pista oval pode variar em comprimento (de metros a milhas), dependendo das necessidades do projeto.
O objetivo é maximizar a aceitação pública, reduzir impactos visuais e oferecer economias significativas – seus custos são em média 25% menores em comparação com projetos eólicos tradicionais, principalmente devido à eficiência dos materiais.
O vídeo abaixo mostra como isso funciona, na prática:
#3 Estratégias para a neutralidade de carbono em indústrias pesadas
“Se o compromisso de triplicar a capacidade global de energia renovável até 2030 for alcançado, o setor elétrico será o primeiro a estar a caminho da neutralidade de carbono até 2050. Isso é claramente positivo; no entanto, existem outras indústrias de alto impacto ambiental – como cimento, aço e produção de produtos petroquímicos – que ainda têm um longo caminho a percorrer.”
Relatório Horizon 2030
Atualmente, a indústria pesada responde por 22% das emissões globais. De acordo com a Oxford Net Zero (iniciativa de pesquisa interdisciplinar baseada na Universidade de Oxford), a neutralidade de carbono na indústria pesada não pode ser alcançada apenas por meio de reduções de emissões ou energia limpa. São necessárias inovações significativas.
A Springwise destaca que a utilização de dados e inteligência artificial pode facilitar essa jornada, auxiliando na identificação de pontos de partida, foco de esforços e melhoria contínua da eficiência na descarbonização industrial.
Inovação como solução
Nesta área, um dos destaques segundo o Horizon 2030 é a empresa britânica QiO Technologies, que tem como objetivo transformar a capacidade da indústria pesada de atingir a neutralidade de carbono.
Com base em análises de inteligência artificial, a startup desenvolveu a Foresight Sustainability Suite, que aprimora a eficiência de produção, monitora o desempenho de cada máquina e fornece suporte de serviço e manutenção.
A QiO Technologies disponibiliza as três partes da Suite separadamente ou em conjunto, permitindo que as empresas priorizem áreas específicas de melhoria. Enquanto o Foresight Optima maximiza a eficiência de produção, o Foresight Maintenance prevê falhas de máquinas para reduzir o tempo de inatividade. Por fim, o Foresight Service ajuda na programação de reparos e upgrades.
#4 Hidrogênio verde
O hidrogênio é um elemento versátil, que pode atuar como combustível e matéria-prima e que não emite gases de efeito estufa no ponto de uso. Por essas características, pode ser particularmente importante em setores de difícil descarbonização, como indústrias pesadas, transporte de longa distância e aviação.
No entanto, nem todo hidrogênio é igual, e para que seja uma solução verdadeiramente sustentável ele precisa ser produzido por processos de eletrólise alimentados por energias renováveis. Atualmente, porém, os eletrolisadores são relativamente caros. Isso faz com que uma quantidade muito pequena de hidrogênio produzido comercialmente seja verde – a maioria é produzida a partir de combustíveis fósseis. A Springwise destaca que inovações que reduzem o custo dos eletrolisadores serão cada vez mais importantes.
Inovação como solução
Um dos principais desafios em relação ao hidrogênio é a dificuldade de transportá-lo, dadas as temperaturas extremamente baixas e a alta pressão necessárias para mantê-lo estável. Uma das alternativas possíveis é transformar o hidrogênio em amônia, facilitando o armazenamento e o transporte.
A Nium utiliza nanocatálise alimentada por energia renovável para realizar essa conversão a temperaturas e pressões significativamente reduzidas em comparação com o processo de Haber-Bosch (método de produção de amônia usado há quase um século). Quando a amônia chega ao seu destino, a natureza descentralizada do sistema da Nium facilita a sua conversão de volta em hidrogênio usando o mesmo processo sustentável.
#5 Remoção de carbono
De acordo com o relatório de Síntese do AR6 do IPCC, a remoção de dióxido de carbono (CDR) tem o potencial de:
- Reduzir as emissões líquidas de CO2 a curto prazo;
- Equilibrar as emissões residuais de setores difíceis de descarbonizar;
- Alcançar emissões líquidas negativas, desempenhando um papel significativo na criação de um mundo alinhado com o Acordo de Paris.
Ou seja, tanto soluções naturais de remoção de carbono quanto tecnologias mecânicas – como a captura direta de ar (DAC) – serão cada vez mais importantes.
Inovação como solução
De acordo com o Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, 68% do solo na América do Sul está erodido devido ao desmatamento e superpastoreio.
A InPlanet é uma climate tech sediada no Brasil e na Alemanha que tem o objetivo de remover carbono e tornar a agricultura tropical regenerativa.
A empresa trabalha com fazendas em todo o Brasil e utiliza pó de rocha para remineralizar o solo. As temperaturas elevadas e a chuva constante nos trópicos afetam significativamente a qualidade do solo cultivado, mas espalhar rocha moída nos campos melhora a biodiversidade do solo, especialmente seu teor mineral.
Uma vez espalhada a rocha triturada, ela passa a capturar CO2, que permanecerá no solo por milhares de anos – seja no próprio campo ou como sedimento nos oceanos, se escorrer. Além disso, ao distribuir rochas ricas em minerais, os agricultores podem economizar dinheiro que gastariam em fertilizantes químicos.
#6 Os limites planetários
Na sexta área-chave para a inovação verde, o relatório Horizon 2030 traz o conceito introduzido por cientistas em 2009 que estabelece nove limites críticos para a sustentabilidade humana.
A Springwise lembra, porém, que a análise de 2023 revela que seis desses limites já foram ultrapassados.
Portanto, a necessidade de viver dentro de nossos meios – não apenas em relação às mudanças climáticas, mas também abordando questões de biodiversidade, impactos humanos e interrupções nas cadeias de suprimentos – deve impulsionar a inovação em 2024.
Diante do desafio atual, os princípios da economia circular agora incluem não apenas reduzir, reutilizar e reciclar, mas também repensar, ressiginificar, regenerar, reparar, reduzir e recusar.
Inovação como solução
A indústria da moda é uma das maiores emissoras de GEE. Ao mesmo tempo, enfrenta desafios históricos na reciclagem de roupas devido aos custos elevados.
A startup belga Resortecs propõe uma solução com desmontagem automatizada em escala industrial usando fios feitos de polímeros sintéticos ou à base de biomassa que maximiza a recuperação de energia e reduz as emissões de CO2, permitindo a reciclagem de até 90% do tecido de peças de vestuário descartadas.
#7 Como os negócios podem ter um impacto positivo
O último tema-chave para impulsionar a mudança destacado no relatório Horizon 2030 é o crescente interesse das empresas por contribuírem para promoção de mudanças significativas.
O time da Springwise conversou com três líderes empresariais para construir esse capítulo final. Foram eles:
- Paul Finch e Rayan Jawad, cofundadores do Growth Studio, que opera programas de aceleração globais projetados para apoiar startups que protegem e preservam o planeta.
- Kate Williams, CEO do 1% for the Planet, movimento global que conecta pessoas e empresas interessadas em contribuir com a preservação do planeta a ONGs que já fazem isso.
Enquanto Paul e Rayan avaliam como as corporações estão utilizando startups para resolver grandes desafios e indicam onde enxergam a inovação tendo o maior impacto nos próximos cinco a dez anos, Kate foca seu depoimento no lado humano da evolução rumo ao futuro net zero.
Ela enfatiza importância de permanecermos otimistas, apesar da urgência das crises climáticas, e destaca o papel da alegria, arte e espiritualidade na vida humana. “Precisamos que a natureza permaneça saudável e que a existência humana seja significativa e satisfatória. Se não continuarmos a viver com alguma alegria, arte e espiritualidade, qual é o sentido?”, reflete.
Com base em tudo isso, uma das conclusões mais importantes do relatório Horizon 2030 é que existem tecnologias já disponíveis, que, com as políticas certas em vigor e níveis adequados de investimento, estão prontas para serem implementadas.
“Essas tecnologias podem contribuir para uma capacidade maior de energia renovável e para a descarbonização de setores anteriormente difíceis de serem abordados. Para desbloquear esse potencial, a colaboração é fundamental – entre setores e diferentes tipos de organizações. Vamos manter o impulso e concluir o trabalho”, conclui a Springwise.
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