O que é economia regenerativa? Por que precisamos virar a chave da sustentabilidade para a regeneração? Quatro especialistas brasileiros apresentam exemplos e propõem reflexões que trazem luz a esse debate
*Este artigo faz parte da cobertura do B For Good Leaders Summit, evento que aconteceu em Amsterdam nos dias 11 e 12 de maio de 2023. Leia o primeiro texto da cobertura especial para entender o contexto.
Um dos principais desafios para engajar pessoas nas urgências ligadas à mudança do clima e às múltiplas consequências que derivam dela diz respeito à comunicação. Além de o assunto ser complexo, há muita desinformação, teorias conspiratórias e tentativas de ideologizar um debate que é, sobretudo, técnico.
Dentro de um contexto que os analistas do zeitgeist resumem como BANI (frágil, ansioso, não linear e incompreensível), o papel da imprensa e dos comunicadores é buscar formas de “traduzir” dados científicos e/ou socioeconômicos para uma linguagem que faça sentido para a vida das pessoas. Um exemplo está nas imagens abaixo.
À esquerda temos um gráfico que sinaliza o aumento da temperatura global nos últimos duzentos anos (incluindo sinalizações de eventos históricos para melhor contextualização). À direita, a evolução do PIB global no mesmo período.
A análise em duas linhas é “simples”: “enriquecemos” ao passo em que tornamos nosso planeta um lugar nocivo não apenas para a espécie humana, mas para todos os seres vivos.
“Mas a pobreza diminuiu”, alguns dirão.
Quando se analisa as linhas frias de um gráfico, isso de fato é verdade. Porém, as desigualdades e as consequências ambientais de uma economia que coloca o retorno financeiro como métrica absoluta não nos deixam esquecer de que algo está – muito – errado.
É nesse contexto que novas economias – como a economia regenerativa – e modelos de negócios eclodem.
Como lembra Marcel Fukayama, um dos entrevistados do vídeo que você vai ver a seguir, “desenvolvimento sustentável não cabe na mesma frase no mundo em que a gente vive hoje. Aquilo que a gente entende que é desenvolvido, é insustentável pela sua própria natureza. Se o mundo inteiro for como a Europa e os Estados Unidos, não tem planeta que aguente”.
Segundo o World Resources Initiative (WRI), historicamente, os Estados Unidos e a União Europeia são os principais emissores de gases de efeito estufa. Juntos, respondem por 37% do acumulado global de emissões.
Ainda de acordo com o WRI, “se considerarmos o histórico de emissões per capita, essa responsabilidade é ainda maior: EUA e UE teriam respectivamente 20 e 11 vezes o histórico de emissões per capita da Índia, por exemplo”.
Leia também: “Sustentabilidade já foi. Esquece. Agora é a hora da regeneração!”
Por que economia regenerativa?
Ao tratar “desenvolvimento sustentável” a partir da lógica econômica que nos trouxe até aqui, corremos o risco de permitir que o greenwashing bem embalado dite os rumos dos debates e das ações que surgem desse movimento.
Shirley Krenak também levantou essa bola em outro vídeo que publicamos a partir desta cobertura. Regenerar tem, sim, a ver com o meio ambiente, biomas e ecossistemas. Porém, também diz respeito à forma como vivemos nossas vidas e fazemos negócios.
Nas entrevistas que fizemos durante o B For Good Leaders Summit, ouvimos muito sobre a necessidade de virar a chave para a regeneração.
O vídeo abaixo fala sobre isso, traz exemplos práticos e mostra por que estamos diante de uma oportunidade – talvez inédita – de construir o país do futuro que há tanto tempo queremos ser.
Mais conteúdos dessa cobertura:
- O papel do setor privado e das lideranças para promover mudanças radicais e sistêmicas
- O ativismo indígena e a proteção da Mata Atlântica e da humanidade
- B For Good Leaders Summit: transformando compromissos por uma economia regenerativa em ação
- Como conectar múltiplos stakeholders e fomentar redes de impacto socioambiental
[…] Para especialistas, ainda há muito o que avançar nesta caminhada. Afinal, boa parte dos investimentos privados dependem de aportes dos bancos estatais de fomento, além do suporte dos Fundos de Previdência Complementar, públicos e privados. Estes últimos reúnem uma carteira de ativos estimada em R$ 2,5 trilhões, equivalentes a cerca de 30% do PIB nacional o que faz com que suas movimentações amplifiquem tendências e viabilizem novas classes de ativos, como os papéis lastreados em empresas com elevado nível de governança e focados na chamada economia regenerativa. […]