ESG

O que as empresas têm a ver com justiça social?

O que as empresas têm a ver com justiça social?
Foto: Clay Banks/Unsplash

Entenda por que as empresas deveriam se preocupar com justiça social e conheça recomendações e boas práticas para marcas que querem se posicionar em questões sociais e ajudar a diminuir as desigualdades

Em nossas pesquisas e análises sobre o avanço da Agenda 2030 no Brasil e no mundo, notamos que existe um obstáculo comum que impacta todos os problemas que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) se propõem a resolver. Estamos falando da desigualdade.

Fome, pobreza, falta de acesso a serviços básicos, falta de emprego decente, desrespeito aos direitos humanos, mudanças climáticas, discriminação e violência racial e de gênero. Todas essas questões (e outras mais) são geradas, impactadas e agravadas pela desigualdade social e econômica dentro das nações e entre os países.

Sistemas excludentes em diferentes esferas da sociedade fazem com que um grupo de pessoas seja desproporcionalmente prejudicado e impactado pelos principais problemas socioeconômicos globais. 

Seja qual for a crise (econômica, de saúde, social), é certo que a parcela mais vulnerável da população será a mais atingida. Da mesma forma, a desigualdade em si vivenciada por esse grupo gera uma série de desafios sociais (desemprego, violência e mais exclusão). 

Leia: Não há desenvolvimento sustentável sem redução das desigualdades (ODS 10)

Além disso, se não tratada, a desigualdade é um monstro que se autoalimenta.

Diversos fatores combinados dentro desse sistema criam um círculo vicioso em que a concentração de riqueza e os privilégios de uma minoria se perpetuam, dificultando ainda mais a mobilidade social e a redução das desigualdades. 

É por isso que a Justiça Social é fundamental para o desenvolvimento sustentável. Essa é uma questão crucial para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, onde todas as pessoas tenham acesso aos mesmos recursos e oportunidades. 

Mas o que é justiça social?

Por que as empresas devem se preocupar com justiça social?

O poder privado tem um papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, com as empresas podendo contribuir diretamente para promover a igualdade de direitos e a proteção das pessoas mais vulneráveis por meio de práticas de negócios e compromissos sociais. 

Não dá mais para as empresas agirem de maneira desconexa com a realidade que afeta diretamente seus colaboradores, clientes e parceiros. Até porque, cada vez mais os diferentes públicos com os quais as organizações se relacionam esperam que elas se posicionem e efetivamente atuem para contribuir para a resolução dos principais problemas sociais…

Em um artigo publicado na Harvard Business Review, Lily Zheng, consultora em Diversidade, Equidade e Inclusão, alerta que consumidores e colaboradores estão procurando mais do que Responsabilidade Social Corporativa (RSC); eles exigem o que a especialista chama de Justiça Social Corporativa. 

“A Justiça Social Corporativa é uma reformulação da Responsabilidade Social Corporativa. A RSC é uma estrutura autorregulada que não tem nenhuma obrigação legal ou social para que as empresas realmente criem um impacto positivo para os grupos que pretendem ajudar.
Lily Zheng fala sobre Justiça Social CorporativaJá a Justiça Social Corporativa é uma estrutura regulada pela confiança entre uma empresa e seus funcionários, clientes, acionistas e a comunidade mais ampla que ela atinge, com o objetivo explícito de fazer o bem a todos eles, explica.

Lily destaca que enquanto a RSC muitas vezes é realizada por meio de um programa secundário ou mesmo de vaidade vinculado ao negócio principal de uma empresa, a Justiça Social Corporativa requer uma integração profunda com todos os aspectos da maneira como uma empresa funciona. 

“Consumidores e outras partes interessadas querem empresas que busquem promover a justiça social como uma necessidade, não apenas uma estratégia de marketing“, ressalta.

Movimento B e Justiça Social no Brasil

Com o objetivo de trazer a discussão sobre justiça social para dentro dos negócios e transformá-la em práticas, o Sistema B Brasil (entidade responsável pela certificação das empresas B brasileiras) lançou o relatório Justiça Social com a Rede B Brasil.

Esse material foi desenvolvido a partir dos encontros imersivos Conversando a gente se aprende, que reuniram empresas B, empreendedores da periferia e a equipe executiva do Sistema B Brasil.

Durante esses encontros, foram realizadas diversas atividades e dinâmicas para promover o diálogo e o aprendizado sobre temas relacionados à justiça social e equidade interseccional (raça e social). A partir dessas conversas, foram identificados desafios e oportunidades para a promoção da justiça social dentro do Movimento B.

Leia: Por dentro das empresas B: uma entrevista com Pedro Telles, do Sistema B Brasil

Justiça social com a Rede B Brasil

Com base nesses insights, o Sistema B Brasil desenvolveu esse guia como uma ferramenta para ajudar as empresas a promoverem práticas mais justas e equitativas em suas operações. 

O guia apresenta uma jornada de reflexão e aprendizado sobre temas relacionados à justiça social. Além disso, propõe ações concretas que as empresas podem colocar em prática para contribuir com a causa.

Entre as ações propostas pelo Movimento, estão:

  • Promover a diversidade e inclusão em todas as áreas da empresa – desde a contratação até a tomada de decisões estratégicas. 
  • Estabelecer metas e indicadores de equidade racial e social, monitorando o progresso e divulgando os resultados publicamente. 
  • Fomentar a criação de negócios inclusivos, que gerem oportunidades para pessoas em situação de vulnerabilidade social ou econômica. 
  • Estabelecer parcerias com organizações da sociedade civil que atuam na promoção da justiça social e equidade racial. 
  • Investir em programas de capacitação e desenvolvimento profissional para pessoas em situação de vulnerabilidade social ou econômica. 
  • Adotar práticas sustentáveis em todas as áreas da empresa, contribuindo para a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento socioeconômico das comunidades locais. 

O documento é rico em informações sobre justiça social no Brasil e reforça alguns dos compromissos do Sistema B para avançar com o tema. Entre eles: trazer mais empresas com origem na periferia para a rede e promover a geração de negócios com elas, bem como atuar ativamente em prol do crescimento da representatividade negra nas empresas – não só em cargos operacionais, mas em posições de liderança.

“Enquanto não enxergarmos como potência quem, historicamente, teve usurpada a força de trabalho braçal e intelectual e deixado à margem do desenvolvimento socioeconômico, não teremos transparência e compromisso real com a justiça social.

Esperamos que esse material, onde compartilhamos caminhos possíveis, ilumine as oportunidades que empresas socialmente responsáveis têm em liderar a transformação da economia, afirma Lygia Anthero, coordenadora de Relacionamento e Causas do Sistema B Brasil.

Baixe gratuitamente o guia Justiça Social com a Rede B Brasil

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Francine Pereira

Jornalista, especializada em criação de conteúdo digital. Há mais de 10 anos escrevo sobre tendências de consumo, inovação, tecnologia, empreendedorismo, marketing e vendas. Minha missão aqui no A Economia B é contar histórias de empresas que estão ajudando a transformar o mundo em um lugar mais justo, igualitário e sustentável.

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