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Estamos vivendo o início do fim do capitalismo como conhecemos?

Confiança no capitalismo – Edelman Trust 2020
Pesquisa revela que a confiança no capitalismo vem despencando nos últimos anos. O que isso significa, na prática, para empresas e governos?

O capitalismo está cada vez mais desacreditado e as pessoas querem ver mudanças no sistema econômico que dita as regras que controlam suas vidas. Esta é a síntese do Edelman Trust Barometer 2020, relatório anual que mede a confiança das pessoas em governos, em empresas, em ONGs e na imprensa. Seriam indícios de que estamos vivendo o início do fim do capitalismo?

O lançamento oficial do estudo – que ouviu 34 mil pessoas, de 28 países – foi feito no Fórum Econômico Mundial, que está acontecendo em Davos, na Suíça.

Um dos principais objetivos dos pesquisadores nesta edição era entender a percepção das pessoas sobre o capitalismo. Afinal, os relatórios anteriores escancararam a insatisfação com a desigualdade.

“A desconfiança vem sendo motivada pelo crescimento do sentimento de desigualdade e injustiça no sistema. A percepção é que as as instituições estão cada vez mais servindo os interesses de poucos em detrimento da maioria”, aponta o levantamento.

Ou seja, os resultados atestam o que já se sabe – ainda que muitos insistam em negar: o sistema é insustentável e precisa de mudanças. 

A percepção das pessoas sobre o capitalismo – e sobre o futuro

Apenas 18% dos entrevistados respondem: “o capitalismo está funcionando para mim”. Por outro lado, quase a metade – 48% – mostra-se descontente, e aponta: “o capitalismo está falhando para mim”. Além disso, 56% pensam que o capitalismo de hoje faz mais mal do que bem ao mundo.

Não dá para ignorar esses números, não é mesmo?

Isso sem falar que 83% dos entrevistados assumem temer perder o emprego! Dentre os motivos, destacam-se, por exemplo:

  • Crescimento do número de profissionais freelancers/da chamada gig economy: 61%
  • Recessão iminente: 60%
  • Falta de treinamento/habilidades: 58%
  • Concorrentes internacionais mais baratos: 55%
  • Imigrantes que trabalham por menos: 54%
  • Automação: 53%
  • Empregos que são transferidos para outros países: 50%

Para a Edelman, “parte da desconfiança está no medo das pessoas a respeito do futuro e de seu papel nele, o que acende um alerta sobre a necessidade de as instituições abraçarem uma nova forma de construir confiança de forma efetiva: equilibrando competência com comportamento ético”.

A má gestão vai decretar o fim do capitalismo?

É importante destacar também que a falta de confiança é direcionada principalmente aos líderes políticos. Afinal, 66% dos 34 mil respondentes não acreditam que os atuais líderes são capazes de atender aos desafios dos seus países. Inclusive, detentores do poder, em geral, são quem menos têm a confiança das pessoas…

Percentual de confiança: 

  • Muito ricos: 36%
  • Líderes governamentais: 42%
  • Líderes religiosos: 46%
  • Jornalistas: 50%
  • CEOs: 51%
  • Cidadãos do meu país: 65%
  • Pessoas da minha comunidade: 69%
  • Cientistas: 80%

As empresas precisam mudar para o capitalismo mudar
e para a confiança voltar a crescer

fim do capitalismo

Muito alinhada aos objetivos que nos fizeram criar A Economia B, a pesquisa detectou que 73% das pessoas acreditam que uma empresa pode aumentar seus lucros enquanto melhora a vida das pessoas das comunidades em que atua.

Além disso, a Edelman estima que fatores éticos – como, por exemplo, integridade, confiabilidade e propósito – respondem por 76% da confiança de um negócio, enquanto apenas 24% é motivada pela competência.

O estudo destaca ainda que:

– 87% dos entrevistados acreditam que todos os stakeholders (funcionários, comunidades, clientes e acionistas) são importantes para o sucesso de uma empresa no longo prazo – não apenas os acionistas.
– 74% dizem que os CEOs precisam tomar as rédeas da mudança ao invés de esperar imposições dos governos.

Por fim, 51% dos participantes do estudo feito em 2017 diziam se importar com o que as marcas fazem em prol do meio ambiente e causas sociais. Na pesquisa deste ano, esse índice saltou para 64%, e a tendência é aumentar a cada ano. Afinal, exemplos de empresas preocupadas com causas maiores que o lucro começam a se multiplicar. Isso, por sua vez, impacta diretamente na mudança coletiva das expectativas dos consumidores.

Ou seja, quando essa visão de negócios passa a ser o novo normal, empresas que estão alheias à economia B tendem a ser deixadas de lado.

Inclusive, o B Lab criou a campanha “Vote every day” para lembrar que toda vez que compramos algo estamos dando um voto àquela empresa. Neste sentido, comprar está se tornando – cada vez mais! – um ato político. Em 2018, a ideia de marcas assumirem posturas políticas foi apontada pelo TrendWatching como uma tendência para os próximos anos. 

Falamos mais sobre isso (e apresentamos o vídeo do B Lab) no artigo “Consumidores buscam marcas que sejam suas aliadas nas transformações sociais“. Não deixe de ler!

Será que você, enquanto consumidor, está votando em empresas que são dignas de sua confiança e estão alinhadas aos seus valores?  

Por outro lado, enquanto empresa, será que a sua é digna de ser eleita?

Imagens: Xavi Cabrera e Chris Lawton

 

João Guilherme Brotto

Cofundador de A Economia B, jornalista, MBA em Desenvolvimento Sustentável e Economia Circular e Multiplicador B do Sistema B Brasil. Baseado na Espanha, estou sempre viajando pela Europa para cobrir eventos e festivais de sustentabilidade, ESG, impacto e regeneração com o objetivo de levar conteúdos exclusivos para nossos leitores e clientes.

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