ODS

Como as cooperativas podem impulsionar o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Como as cooperativas podem impulsionar o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Entenda por que as cooperativas são fundamentais para o progresso dos ODS e conheça três organizações que ilustram essa potencial liderança

De acordo com dados de 2021 da Aliança Cooperativa Internacional, existem mais de 3 milhões de cooperativas no mundo. Elas empregam mais de 280 milhões de pessoas e reúnem 1 bilhão de cooperados. No ano do levantamento, as 300 maiores cooperativas do mundo faturaram, juntas, mais de dois trilhões de dólares.

Os números do cooperativismo no Brasil também impressionam.

O país fechou 2021 com 4880 cooperativas, quase 19 milhões de cooperados e mais de 490 mil trabalhadores. Naquele ano, o setor injetou mais de 17 bilhões de reais na economia nacional em tributos e mais de 18 bilhões em salários e benefícios.

Tamanha representatividade, somada aos intrínsecos valores de cooperação e à presença em territórios variados, posiciona as cooperativas como potenciais referências no desenvolvimento sustentável e, consequentemente, no progresso da Agenda 2030. 

Por que as cooperativas e os ODS estão intimamente ligados? 

O relatório Cooperativas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Uma Contribuição para o Debate de Desenvolvimento Pós-2015, publicado pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), reconhece a importância das cooperativas para o avanço dos 17 ODS. Alguns exemplos:

  • A respeito do ODS 1 (Erradicação da pobreza), por exemplo, o estudo destaca que as cooperativas são as organizações que melhor atendem a todas as dimensões da redução da pobreza e da exclusão, porque:
  1. Identificam oportunidades econômicas para seus membros;
  2. Capacitam os desfavorecidos para defender seus próprios interesses; 
  3. Proporcionam segurança aos pobres, permitindo-lhes converter riscos individuais em riscos coletivos.
  • Fome Zero (ODS 2) é atendido por cooperativas que contribuem para a segurança alimentar, ‘ajudando pequenos agricultores, pescadores, criadores de gado e outros produtores a resolverem inúmeros desafios que enfrentam em seus esforços para produzir alimentos’.
  • O ODS 3 (Boa saúde e bem-estar) é atendido por cooperativas que criam infraestrutura para a prestação de serviços de saúde, fornecem financiamento para cuidados de saúde e prestação de serviços de saúde domiciliários.
  • Com relação ao ODS 4 (Educação de qualidade), o estudo lembra que as cooperativas oferecem acesso à educação de qualidade e oportunidades de aprendizagem, ‘fornecendo meios para financiar a educação, apoiando escolas ou até mesmo estabelecendo suas próprias escolas para oferecer educação de qualidade para jovens e adultos’.
  • No que diz respeito ao ODS 5 (Igualdade de gênero), o relatório aponta que as cooperativas contribuem para a expansão de oportunidades para as mulheres em economias locais ao redor do mundo. 

Cooperativas: potenciais lideranças da Agenda 2030

Cooperativas – potenciais lideranças da Agenda 2030

Outro relatório que cobre o papel das cooperativas no avanço da Agenda 2030 é o Exploring the cooperative economy, de 2021. Publicado pelo World Cooperative Monitor (iniciativa da ACI com apoio científico da Euricse), este levantamento reúne dados das 300 maiores cooperativas do mundo. 

Em um capítulo dedicado à Agenda 2030 e aos ODS, o estudo revela que:

  • 72 dessas cooperativas assinaram o Pacto Global da ONU ou aderiram ao Global Reporting Initiative (GRI) – organização internacional independente que define padrões para reportar sustentabilidade.
  • Todas as 43 cooperativas que adotaram os indicadores GRI divulgaram um relatório de evolução.
  • 34 das 38 cooperativas que aderiram ao projeto do Pacto Global das Nações Unidas declararam que abordam pelo menos um ODS em sua Comunicação de Progresso (CoP) do Pacto Global.

Além disso, o relatório destaca a sustentabilidade como chave para a recuperação pós-Covid-19 e repercute como as maiores cooperativas do mundo estão contribuindo para o avanço dos ODS. 

“O modelo de negócio cooperativo pode ser resolutivo no enfrentamento de crises. De fato, sua governança única e seus pilares centrais demonstraram que a escolha de uma estratégia sustentável e verde os ajudou na fase de recuperação. As maiores cooperativas do mundo têm demonstrado não apenas seu esforço financeiro na busca pelo alcance dos ODS, mas também as ações de conscientização realizadas junto às instituições nacionais e à própria comunidade, demonstrando a força advinda da cooperação e da união”.

De lá, trouxemos três cases que mostram como o trabalho das cooperativas pode contribuir para o avanço dos ODS.

Bélgica: cooperativa de laticínios foca na redução das emissões de carbono

Milcobel – Cooperativas pela Agenda 2030

Na Milcobel, maior cooperativa de laticínios da Bélgica, o foco na produção sustentável e na proteção ao clima é central em todas as operações (da vaca ao consumidor).

Para isso, a empresa atua em várias frentes e parcerias com produtores, funcionários, clientes e stakeholders externos. 

Por meio do ​​Instituto de Pesquisa para a Agricultura, Pescas e Alimentação da região de Flandres (ILVO), por exemplo, pesquisadores trabalham para reduzir significativamente as emissões totais de gases de efeito estufa do gado leiteiro. 

Um dos vários projetos da Milcobel nesse sentido baseia-se na agricultura circular. Os produtores de leite cultivam a maior parte de sua própria ração animal ou a adquirem nas proximidades. O esterco de vaca é usado para fertilizar plantas cultivadas no próprio solo ou nas proximidades, que por sua vez se tornam ração animal novamente.

“Nossa inovação, projetos e atividades refletem nossa ambição em direção a um setor lácteo sustentável, ao mesmo tempo em que contribuímos consideravelmente para os objetivos do plano de política climática do governo de Flandres, que visa uma redução de 26% nas emissões de CO2 causadas por fazendas de gado até 2030, em comparação a 2005.”

Dinamarca: produção de carne carbono zero

Danish Crown – Cooperativas pela Agenda 2030

A Danish Crown é uma cooperativa de alimentos dinamarquesa que existe há mais de 135 anos. Atualmente, a estratégia da organização está baseada na sustentabilidade e em contribuir para o avanço da Agenda 2030. Uma das principais metas neste sentido é reduzir as emissões de carbono em 50% até 2030 e se tornar carbono neutro até 2050.

Em busca de uma produção de carne mais sustentável, a Danish Crown promove e participa de projetos de parceria envolvendo empresas de alimentos e de tecnologia, universidades e institutos de pesquisa. 

Um dos projetos consiste em desenvolver tecnologias para ajudar a reduzir o consumo e aumentar o uso de água reciclada purificada na produção de alimentos, sem comprometer a qualidade e a segurança.

“A luta contra as mudanças climáticas é um elemento-chave de nossa estratégia de negócios e sustentabilidade, e agora nos comprometemos a estabelecer metas climáticas com base científica para a produção de carne carbono zero até 2050.”

Japão: cooperativa do setor financeiro focada em ESG

Maior seguradora de vida japonesa, a Nippon Life Insurance Company está convencida de que os investimentos ESG aumentarão a sofisticação de suas decisões de investimentos e finanças a médio e longo prazo.

Neste sentido, a cooperativa tem feito vários movimentos para direcionar sua atuação cada vez mais para as pautas ambientais, sociais e de governança. 

No plano de gestão de médio prazo iniciado em 2021, a Nippon identificou a “Gestão da Sustentabilidade” como um dos princípios fundamentais da gestão empresarial e do plano para promover iniciativas que levem à resolução de problemas sociais.

Em julho do mesmo ano, um diretor da cooperativa foi nomeado membro do PRI (Princípios para o Investimento Responsável), iniciativa de investidores em parceria com a Iniciativa Financeira do Programa da ONU para o Meio Ambiente (UNEP FI) e o Pacto Global da ONU.

A cooperativa é signatária do PRI desde 2017 e diz que esta abordagem mede o desempenho a partir do impacto que causam no meio ambiente e na sociedade. “A razão pela qual estamos trabalhando tão seriamente isso é que o ESG se tornou um fator que tem um tremendo impacto sobre os riscos e retornos da gestão de ativos”, revela Toshinori Kurisu, diretor responsável pela gestão ESG da cooperativa, em entrevista publicada no Relatório Anual de 2021.

Kurisu diz que pesquisas feitas por uma gestora de ativos subsidiária à cooperativa a partir da análise de dados de mais de 10 anos de suas operações concluiu que empresas que obtiveram altas avaliações ESG também apresentaram um excelente histórico de desempenho.

Saiba mais

A plataforma Co-ops for 2030 reúne um banco de dados de compromissos que cooperativas de mais de 40 países assumiram em relação aos ODS. 

Divididos em quatro temas centrais, as iniciativas servem de referência para qualquer empresa (cooperativista ou não) que deseje contribuir com o avanço da Agenda 2030. Afinal, para que os 17 objetivos e suas 169 metas sejam atingidos até o final desta década, o engajamento coletivo é essencial.

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Nome

João Guilherme Brotto

Cofundador de A Economia B, jornalista, MBA em Desenvolvimento Sustentável e Economia Circular e Multiplicador B do Sistema B Brasil. Baseado na Espanha, estou sempre viajando pela Europa para cobrir eventos e festivais de sustentabilidade, ESG, impacto e regeneração com o objetivo de levar conteúdos exclusivos para nossos leitores e clientes.

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