O Parque Nacional do Iguaçu foi criado em 1939 com o objetivo de proteger um dos mais significativos remanescentes da Mata Atlântica na América do Sul. Quinze anos depois, uma estrada de cerca de 18 km foi aberta no meio do parque.
Desde o início, a Estrada do Colono, como ficou conhecida (pois encurtava a viagem de colonos gaúchos e catarinenses ao oeste paranaense), dividiu opiniões. Enquanto ambientalistas argumentavam que ela poderia causar danos ambientais à reserva, moradores da região a consideravam importante para o progresso econômico local.
O embate foi parar na Justiça. Em 1986, veio a primeira decisão judicial ordenando o fechamento da estrada. No entanto, três anos mais tarde ela foi reaberta, e seu fechamento definitivo só foi determinado pela Justiça Federal em 2001.
Angela Kuczach, diretora-executiva da Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação, explica que o fechamento ocorreu por diversos problemas – como, por exemplo:
- Desmatamento;
- Atropelamento de animais;
- Caça ilegal;
- Extração ilegal de palmito;
- Uso da via para contrabando de mercadorias ilícitas – além do tráfico de drogas e armas;
- Descarte irregular de lixo;
-
Entre outros.
“Durante o trâmite do processo, após a liminar pelo seu fechamento, a população local inclusive invadiu a estrada e passou a cobrar pedágio para o trânsito de veículos.
Essa invasão levou a UNESCO, que concedeu o título de Patrimônio Natural da Humanidade ao Parque Nacional do Iguaçu, a incluir a unidade de conservação na lista de Sítio do Patrimônio Natural em Perigo. Com o fechamento definitivo da Estrada do Colono, o Parque foi retirado dessa lista.”
Esse, porém, não foi o capítulo final dessa história…
Hoje, A Economia B publica um artigo escrito por membros da Rede de ONGS da Mata Atlântica que questiona um projeto que visa reabrir a estrada que cortava o Parque Nacional do Iguaçu e que atualmente é apenas uma cicatriz no meio da mata – afinal, como mostra a foto abaixo, feita por Marcos Labanca em um sobrevoo pela região, a área por onde antes passava a Estrada do Colono está completamente regenerada:
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Uma estrada sem qualquer propósito lícito
A única explicação possível para a nova tentativa de reabertura de uma rodovia em meio ao Parque Nacional do Iguaçu é o posicionamento eleitoreiro trivial, pequeno e mesquinho, tão bem conhecido por todos. Uma prática histórica que não leva em conta se a ação pretendida é ou não de interesse público, mas considera elementos que rendam dividendos pessoais ou a grupos próximos
Artigo escrito pela Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA)
A tentativa de dividir ao meio o Parque Nacional do Iguaçu começa ainda em meados da década de 1980, com uma proposta de asfaltamento de uma estrada de pouquíssimo movimento que existia à época.
O tiro saiu pela culatra, pois avaliações técnicas e jurídicas criteriosas acabaram por permitir o fechamento desse acesso que poderia gerar impactos negativos ao maior remanescente de Mata Atlântica de interior ainda existente no Brasil e no mundo.
Num país em que ainda não é suficiente o entendimento sobre a importância da proteção efetiva de nossos remanescentes de áreas naturais, a revisão da decisão do fechamento definitivo, embora julgada até a última instância judicial, segue sendo um sonho de consumo de políticos oportunistas. Não por acaso, a busca por desenterrar um assunto que teve sua discussão finalizada há mais de 20 anos ocorre sempre antes de períodos eleitorais.
Caíram por terra, inclusive, todos os argumentos sociais e econômicos que poderiam ser usados para justificar o absurdo de impor um impacto negativo de grande relevância a um dos mais antigos e importantes Parques Nacionais brasileiros.
Não existem razões minimamente coerentes que sustentem seriamente esse intento. Estamos diante de um caso típico em que, de fato, a utilidade de um empreendimento fica em segundo plano frente à birra de se impor uma ação voltada diretamente à geração de degradação ambiental relevante.
Ao contrário do que procuram alegar, a manutenção da integridade dessa Unidade de Conservação única é a melhor estratégia para movimentar a economia regional com incrementos em grande escala de atividades de turismo, sem gerar limitações às demais atividades econômicas correntes na região.
Por que algumas pessoas desejam reabrir esta estrada no meio do Parque Nacional do Iguaçu?
Mas o que explica a posição retrógrada e fora de qualquer justificativa plausível de políticos como o deputado Vermelho e o senador Álvaro Dias, figuras centrais na mobilização no legislativo, visando um ato equivocado e oportunista para permitir a construção de uma estrada que corta o Parque Nacional do Iguaçu, além de abrir sérios precedentes para outras situações similares em todo o território nacional?
A única explicação possível é o posicionamento eleitoreiro trivial, pequeno e mesquinho, tão bem conhecido por todos. Uma prática histórica que não leva em conta se a ação pretendida é ou não de interesse público, desde que apresentem suficientes elementos para render dividendos pessoais ou a grupos próximos. Portanto, fora do alcance do que representa o real interesse público.
São coniventes com esses cidadãos que agem por causa própria e sem sustentação lógica todos aqueles que se comportam de forma omissa. São os famosos “em cima do muro”, que agem como se o problema não fosse deles também.
Temos dois outros senadores paranaenses que têm a responsabilidade de se posicionar. Um governador e um secretário da área ambiental, que são igualmente responsáveis. Como também o atual Ministro do Meio Ambiente e o presidente do ICMBIO. Dentre tantos outros.
Em que planeta vivem esses atores públicos que, simplesmente, acham que o problema que afeta um grande Parque Nacional brasileiro localizado no Paraná não lhes diz respeito? Qual raciocínio lhes dá o direito de fazer ouvido de mercador e nos fazer de bobos?
Nessa condição, a conclusão mais provável é que a omissão presente representa, na verdade, um apoio velado ao descalabro que ameaça um bem maior de nossa sociedade. Todos os que não se posicionam são corresponsáveis e devem ser cobrados por esse desatino.
Estamos mesmo vivendo um momento em que a perda de valores distorce e manipula ainda mais as atitudes de nossos políticos? Cabe a todos nós cobrar um posicionamento imediato de todos os gestores públicos que, direta ou indiretamente, têm a capacidade de afetar o encadeamento dessa antiga e ultrapassada discussão.
Todos que se mantiverem em silêncio ou usarem de demagogia barata para se esquivar da responsabilidade que têm, devem ser colocados no mesmo patamar vergonhoso dos que defendem de frente essa iniciativa. Uma demanda espúria, que nunca se sustentou em argumentos sólidos e representa uma demonstração de incivilidade e falta de visão de nossos agentes públicos. Um péssimo exemplo para todos os brasileiros e uma demonstração de profundo desprezo com nosso patrimônio natural.
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