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O barco vai afundar? O boicote de grandes empresas ao Facebook e o que isso representa

Stop hate for profit – Boicote ao Facebook
Conheça a campanha Stop Hate for Profit, que convocou empresas a interromperem seus anúncios no Facebook temporariamente, e entenda o que ela representa.

Coca-Cola, Unilever, Adidas, Starbucks, The North Face, Patagonia, Ben and Jerry’s. Estas são apenas algumas das mais de 500 empresas (muitas delas gigantes) que decidiram interromper seus investimentos em publicidade no Facebook e no Instagram (pelo menos) em julho.

Tudo começou com uma convocação feita pelo movimento Stop Hate for Profit, organizado por seis grupos norte-americanos que lutam pelos direitos civis. 

Em uma carta aberta aos anunciantes do Facebook, os membros do movimento explicaram que têm um objetivo simples: garantir que pessoas estejam acima do lucro. 

De acordo com os organizadores da campanha, o Facebook lucra com discursos de ódio e racistas e, por isso, não faz o suficiente para eliminar esse tipo de conteúdo (e também postagens com fake news) de suas plataformas. O boicote seria uma forma de mostrar que as empresas não compactuam com essa postura. 

“Pedimos a todas as empresas que se solidarizem com nossos valores americanos de liberdade, igualdade e justiça”, diz o comunicado.

Em pouco tempo, a campanha extrapolou as fronteiras dos Estados Unidos e ganhou adeptos em diversos países da Europa e também no Brasil. 

Por que o movimento #stophateforprofit é tão importante

98% da receita do Facebook vem de anúncios! 

Só no primeiro trimestre deste ano, as redes sociais comandadas por Mark Zuckerberg faturaram mais de US$ 17 bilhões com anunciantes. No exercício do ano passado, a receita total foi de US$ 70 bi.

Só para você ter uma ideia, segundo esta reportagem do The New York Times, em 2019, só a Starbucks (que aderiu ao boicote) investiu US$ 95 milhões em anúncios no Facebook! Ou seja, é inegável que essa debandada temporária de anunciantes afetará a rentabilidade da gigante do Vale do Silício. 

E, você já sabe, né? Grandes corporações só costumam repensar seu modus operandi quando veem o impacto de suas ações pesar no bolso… 

No entanto, ao mesmo tempo, é importante destacar que, de acordo com a CNN, as 100 empresas que fazem os investimentos mais elevados no Facebook foram responsáveis por gerar US$ 4.2 bilhões em anúncios no ano passado. Ou seja, apenas cerca de 6% do faturamento total. E, em contrapartida, para os pequenos – que, juntos, compõem a maior parte da receita – deixar de anunciar no Facebook pode ser fatal.

Em entrevista ao The New York Times, Lutchi Gayot, dono de um pequeno negócio em Nova York, confessou que se sentia dividido. “Moralmente, a coisa certa a se fazer, é claro, é ficar do lado certo. Mas, é difícil. Anúncios no Facebook estão mantendo pequenos negócios vivos. Se você não está no Facebook, você não existe”, declarou.

O que dizem algumas das empresas que aderiram ao boicote ao Facebook

Em nota, a Unilever – que tem um orçamento anual de US$ 8 bi para marketing e, até o momento, é a empresa que causa o maior impacto ao aderir ao movimento – disse que “continuar a veicular propagandas nessas plataformas não adiciona valor às pessoas e à sociedade”. Por isso mesmo, garantiu que vai estender até o fim do ano o boicote ao Facebook, ao Instagram e também ao Twitter.

Também em comunicado oficial, a North Face declarou que só retomará suas atividades e publicidades pagas no Facebook quando políticas mais rígidas forem implementadas para impedir que circulem na plataforma conteúdos racistas, violentos e de ódio, além de desinformação.

A Patagonia, empresa B certificada, lembrou que a combinação eleições presidenciais dos Estados Unidos, pandemia de Covid-19 e protestos contra a violência policial tornou as consequências graves demais para que se permita que a empresa continue cúmplice na proliferação de fake news e no fomento de ódio e medo.

A lista completa (e em constante atualização) de empresas que pararam de anunciar no Facebook este mês está aqui.

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A resposta do Facebook

Em entrevista à rádio britânica BBC Radio 4, Steve Hatch, diretor do Facebook no Reino Unido, disse que a empresa vem fazendo tudo o que pode para eliminar discursos de ódio de suas plataformas. “Estamos investindo milhões em times e sistemas para melhorar essa questão. (…) Nossos sistemas agora detectam e removem 90% desse conteúdo automaticamente”, declarou.

Porém, como lembrou a CNBC nesta reportagem, no dia 4 de junho o post mais visto no Facebook era um vídeo que dizia que George Floyd – um homem preto, não armado, que foi assassinado pela polícia – era um “ser humano horrível” e que “a brutalidade policial motivada por questões raciais é um mito”. Em 19 horas, o vídeo teve 24 milhões de visualizações… 

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O futuro

Essa guerra, que pode estar longe do fim, mostra que ao menos há uma perspectiva de mudança no jogo. 

O Facebook tem 8 milhões de anunciantes espalhados pelo mundo todo. Ou seja, 500 deixando temporariamente de anunciar em seus canais pode parecer nada. Porém, é inegável que esses “pesos pesados” que aderiram à campanha e todo o buzz gerado em torno dela podem ajudar a mudar as regras do jogo.

Em um momento do mundo em que o capitalismo vem sendo colocado em xeque e em que cada vez mais pessoas se posicionam pedindo a grandes corporações que contribuam para que seja possível construir um mundo mais justo e igualitário, essa iniciativa nos lembra de que toda mudança, ainda que singela, gera um impacto nas expectativas dos consumidores e ajuda a transformá-las. Como resultado, temos pessoas mais críticas quanto ao que consomem. Isso pode se espalhar, ganhar escala e, quem sabe, inspirar novos caminhos. 

Natasha Schiebel

Natasha Schiebel é cofundadora e Editora-chefe d'A Economia B.

Jornalista por paixão e formação, Natasha acredita que boas histórias têm o poder inspirar transformações, e aplica essa lente no seu trabalho.

Natasha é líder climática certificada pelo projeto Climate Reality e especialista em jornalismo de soluções.

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