Transformar os sistemas alimentares pode ajudar a resolver uma série de problemas sociais e ambientais mundialmente. Conheça foodtechs de 5 países que estão contribuindo para essa mudança e tornando o setor alimentício mais justo e regenerativo
127 trilhões de dólares. Esse é o custo estimado do sistema alimentar atual para a economia global, levando em conta seus impactos ambientais e sociais, como emissões de gases de efeito estufa (GEE), uso de água, conversão de terras e problemas de saúde.
Um estudo realizado pela Food System Economics Commission (FSEC) aponta que, se a abordagem atual for mantida, a insegurança alimentar deixará 640 milhões de pessoas desnutridas até 2050, enquanto a obesidade aumentará 70% globalmente.
Além disso, os sistemas alimentares continuarão a gerar um terço das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), contribuindo para um aquecimento de 2,7ºC até o final do século. E a produção de alimentos também se tornará cada vez mais vulnerável às mudanças climáticas.
Por outro lado, o relatório indica que transformar os sistemas alimentares poderia ajudar a promover avanços significativos para a saúde das pessoas, para a economia e para o planeta. O estudo destaca, por exemplo, que essa transformação contribuiria para:
- Erradicar a desnutrição até 2050.
- Evitar, cumulativamente, 174 milhões de mortes prematuras devido a doenças crônicas relacionadas à dieta.
- Tornar os sistemas alimentares sumidouros de carbono líquido até 2040, ajudando a limitar o aquecimento global a menos de 1,5ºC até o final do século, protegendo 1,4 bilhão de hectares de terra, reduzindo quase pela metade o excesso de nitrogênio da agricultura e revertendo a perda de biodiversidade.
- Além disso, 400 milhões de trabalhadores agrícolas em todo o mundo poderiam ter uma renda justa.
- Por fim, ainda segundo a análise, realizar essa transformação por meio de melhores políticas e práticas poderia gerar até 10 bilhões de dólares anuais, com custos de transformação estimados em apenas 0,2 a 0,4% do PIB mundial por ano.
Mas o que exatamente significa transformar os sistemas alimentares? E qual é o papel da tecnologia e das foodtechs nessa revolução tão necessária?
A tecnologia e a transformação dos sistemas alimentares
Transformar o setor alimentício significa criar sistemas alimentares mais sustentáveis, equitativos e resilientes, reduzindo seu impacto ambiental e melhorando a segurança alimentar e a saúde pública.
O relatório da FSEC recomenda várias medidas prioritárias para promover essa transformação. Entre elas estão: a promoção de práticas agrícolas sustentáveis, a redução do desperdício de alimentos, o apoio a pequenos produtores, o incentivo a dietas saudáveis e sustentáveis, o fortalecimento da resiliência do sistema alimentar frente às mudanças climáticas, a integração de políticas alimentares com objetivos ambientais e de saúde, e o fomento à inovação e à pesquisa no setor.
Além disso, o estudo destaca o papel crucial da tecnologia nessa jornada.
“A inovação nos sistemas alimentares está avançando rapidamente com novas tecnologias, desde a Inteligência Artificial (IA) até tecnologias de processamento sustentáveis. No entanto, há uma necessidade de fortalecer essas iniciativas, para garantir que as inovações apoiem transformações que sejam sustentáveis e inclusivas.”
A análise indica ainda que a inovação tecnológica deve ir além da produção, focando também em áreas-chave para a transformação dos sistemas alimentares, tais como:
- Aprimoramento da produção agrícola em países de baixa e média renda.
- Apoio a sistemas agrícolas sustentáveis, que preservem a biodiversidade e emitam menos poluentes.
- Desenvolvimento de tecnologias digitais úteis para pequenos agricultores, como sistemas de informação baseados em sensoriamento remoto, sensores de campo e aplicativos para acesso ao mercado.
As foodtechs, startups focadas no setor alimentício, já atendem a algumas dessas demandas tecnológicas, ajudando a revolucionar este mercado.
O que são foodtechs?
O termo foodtech é utilizado para denominar empreendedores e startups do agronegócio e do setor alimentício que inovam em toda a cadeia alimentar, desde a produção até a distribuição, abrangendo novos produtos, estratégias de marketing e modelos de negócios.
Estas são algumas das categorias e áreas de atuação das foodtechs:
- AgTech: Empresas que promovem inovações na agricultura, como gestão de fazendas, robótica, agricultura urbana, marketplaces agrícolas, biotecnologia e ração animal.
- Ciência alimentar: Foodtechs focadas no desenvolvimento de novos ingredientes e produtos alimentares, incluindo proteínas alternativas, bens de consumo embalados, ingredientes funcionais e alimentos para pets.
- Serviço de alimentação: Empresas de tecnologia que promovem melhorias na gestão de hospitalidade e operações de restaurantes por meio de plataformas de reservas, serviços de gestão, soluções de pagamento, restaurantes virtuais, robótica e cozinhas na nuvem.
- Tecnologia para consumidor: Oferecem serviços e aplicativos para ajudar consumidores a cozinhar, escolher os melhores alimentos e alcançar objetivos pessoais, incluindo nutrigenômica, recomendações, receitas, utensílios e experiências culinárias.
- Entrega: Empresas que oferecem inovações na encomenda e entrega de alimentos e refeições, incluindo kits de refeição, novos varejistas, comércio rápido, entrega de restaurantes e uso de robótica para entrega.
- Cadeia de suprimentos: Tecnologias que ajudam a otimizar a cadeia de suprimentos alimentares e do varejo, incluindo lojas inteligentes, gestão de desperdício de alimentos, dados para a cadeia de suprimentos e embalagens sustentáveis.
Atualmente, o mercado global de foodtechs é avaliado em US$ 202 bilhões, com um crescimento anual estimado de 10% – podendo atingir o valor de US$ 515 bilhões até 2034.
Além disso, o investimento de capital de risco em foodtechs aumentou mais de 5 vezes na última década. Em 2023, as startups do setor atraíram US$ 13 bilhões em investimentos.
5 foodtechs de impacto que estão revolucionando o setor de alimentos
O que torna as foodtechs realmente relevantes é o fato de que elas utilizam o potencial da tecnologia para resolver problemas sistemáticos importantes do setor de alimentos – como os indicados no relatório da FSEC.
A seguir, conheça cinco foodtechs que são empresas B certificadas e que estão ajudando a revolucionar o setor alimentício, trazendo soluções inovadoras para combater desafios sociais e ambientais.
Umiami (França)
A Umiami tem a missão de ajudar a resolver problemas ambientais e éticos associados à produção de carne, como o desmatamento, emissões de GEE e sofrimento animal. Para isso, desenvolve produtos 100% veganos, utilizando uma lista reduzida de ingredientes.
Essa foodtech francesa tem uma tecnologia própria de texturização de proteínas. Essa solução (que eles chamam de Umiamisation) possibilita que a Umiami produza filés de frango e de peixe à base de plantas, imitando a textura e a aparência da carne real.
Saiba mais: umiami.com
CrowdFarming (Espanha)
CrowdFarming é uma iniciativa criada por agricultores com o objetivo de vender seus produtos diretamente aos consumidores finais, eliminando intermediários. A plataforma oferece serviços de apoio aos produtores, como logística, atendimento ao cliente e ferramentas de publicidade.
O objetivo da CrowdFarming é empoderar os agricultores e garantir melhores preços e condições de trabalho, além de reduzir o impacto ambiental por meio da otimização do transporte. Além disso, essa foodtech espanhola também combate o desperdício de alimentos incentivando a adoção de cultivos específicos e valorizando produtos frescos, independentemente da aparência estética.
Saiba mais: crowdfarming.com
Food For Future (Chile)
A Food For Future (F4F) é uma empresa de biotecnologia que desenvolve rações aquáticas à base de insetos para reduzir a dependência de farinha de peixe tradicional e promover um modelo econômico circular na aquicultura.
A startup foi fundada com o objetivo de produzir uma forma sustentável de satisfazer a crescente procura mundial de proteínas. A proposta deles é replicar em larga escala os processos circulares que ocorrem na natureza, aproveitando o potencial nutricional dos insetos.
Saiba mais: f4f.cl
Nude. (Brasil)
Essa foodtech brasileira desenvolve produtos à base de aveia como alternativa aos laticínios, promovendo uma economia de baixo carbono.
A pegada de carbono do produto original desenvolvido pela empresa é de cerca de 0,33 CO2e/kg. Em comparação, a pegada do leite de vaca tem uma média de 3,2 kg CO2e/kg. Ou seja, a alternativa da Nude é quase 90% mais sustentável. Segundo a empresa, em 2023, seus produtos ajudaram a evitar a liberação de 8.232 toneladas de CO2e na atmosfera.
Saiba mais: heynude.com.br
Tierra de Monte (México)
A Tierra de Monte é uma empresa mexicana de biotecnologia que visa cultivar alimentos saudáveis, recompensar os agricultores e preservar a biodiversidade do solo por meio da prática de Agricultura Regenerativa Ética.
Através da plataforma BioAgTech, a empresa cria soluções microbiológicas inovadoras que melhoram a biodiversidade do solo e das plantas, controlando doenças e pragas ao fortalecer os mecanismos de defesa naturais.
Saiba mais: tierrademonte.com
A revolução do setor de alimentos já está em andamento
A lista acima é apenas uma pequena amostra das foodtechs que estão ajudando a transformar o setor de alimentos.
Diversas organizações ao redor do mundo atuam por meio de sistemas inovadores, tecnologias e advocacy para tornar os sistemas alimentares mais equitativos, justos e regenerativos.
Com o objetivo de mostrar na prática essa revolução e conectar iniciativas em diferentes partes do planeta nasceu Pangeia, nosso Estudo B #7.
O novo relatório da série Estudos B será um guia sobre inovação, tendências e histórias de impacto no setor de alimentos e bebidas na América Latina e Europa.
Neste momento, estamos selecionando histórias para o Estudo, analisando centenas de empresas e descobrindo iniciativas que se destacam. Planejamos incluir pelo menos 100 histórias de empresas para inspirar organizações a se engajarem em pautas socioambientais.
Recentemente, o projeto ganhou um parceiro importante: Leonardo Lima, CEO da consultoria Dreams & Purpose, que trará sua vasta experiência para o Estudo B. A Dreams & Purpose é a primeira marca a apoiar financeiramente a publicação do Estudo B #7. Aliás, o anúncio feito por Leonardo no LinkedIn teve grande repercussão.
Com o objetivo de atrair mais marcas para participar dessa iniciativa, criamos um plano de patrocínio para o relatório Pangeia.
Se você quer trazer sua marca para este estudo inovador que conectará o Sul e o Norte Global por meio de histórias de impacto no setor de alimentos e bebidas, entre em contato com João Guilherme Brotto, cofundador d’A Economia, pelo LinkedIn.
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